Focada na arte urbana, marca mineira transforma fábrica em corredor cultural

Jéssica Malta
jcouto@hojeemdia.com.br
26/10/2018 às 17:34.
Atualizado em 28/10/2021 às 01:27
 (Riva Moreira/Hoje Em Dia)

(Riva Moreira/Hoje Em Dia)

Faz tempo que a moda e a arte andam de mãos dadas. Tanto que é comum ver obras das mais variadas vertentes– das clássicas às urbanas– estamparem camisas, acessórios e até mesmo tênis – como aconteceu recentemente em as pinturas de Van Gogh, que apareceram em tênis da marca Vans. Mas a relação entre os dois campos pode se expandir e ultrapassar o limite dos produtos. 

Foi nesse sentido que a marca de roupas mineira Skazi decidiu transformar mais de mil metros quadrados de portões, janelas e paredes de sua fábrica – localizada no bairro Prado, na região oeste de Belo Horizonte – em murais produzidos por 13 artistas da capital. O desejo, aliás, é fazer do local um corredor cultural na região. 

Coordenador de marketing da marca, Diego Reis, explica que a ideia surgiu do desejo de transformar o espaço em algo que desse retorno para a comunidade. “O Vander Martins, que é o proprietário e diretor da Skazi, teve a ideia de chamar um grupo que ocupasse esse espaço e o tornasse não só esteticamente funcional e bonito, mas que também fosse um local de entrega para a comunidade, onde pudessem conviver a gastronomia, a arte e o entretenimento”, conta.

Ele explica ainda que a escolha pela a arte urbana não foi por acaso. ]“Hoje, a arte de rua é a mais representativa e dialoga intensamente no universo da moda. Temos cases nos últimos 30 anos que demonstram isso, de marcas como (Alexander) McQueen e Balenciaga. É uma arte alegre, cotidiana e que está muito correlata com o universo e com o life style que a moda quer passar como tendência”, justifica. 

Para dar início à transformação do local, a Skazi firmou parceria com a galeria Quartoamado – espaço na capital que articula projetos que aproximam a arte do cotidiano – que ficou responsável pela escolha dos artistas participantes do projeto. “Optamos por uma seleção bem belo-horizontina para oferecer um retrato da atual produção de arte urbana da cidade”, explica Bernardo Biagioni, curador da galeria e um dos curadores do projeto. Riva Moreira/Divulgação / N/A

PRODUÇÃO - Curadoria buscou representar a cena belo-horizontina

Para além da cena local, a curadoria buscou também traduzir, através dos trabalhos, um pouco da arte urbana desenvolvida no Estado. “É muito desafiador falar da identidade de Minas Gerais no grafite, mas temos obras que trazem montanhas, rios, uma fauna e flora abundante. Existe uma contaminação da natureza no trabalho desses artistas”, diz.

Além das questões estéticas, outros vetores também foram norteadores para a seleção dos artistas. “Nos preocupamos com um equilíbrio de gênero e também uma diferença de currículo. Temos artistas de renome e alguns que estão começando agora”, diz.

Desdobramentos

O projeto, porém, não se encerra com a pintura dos painéis. A parceria com os artistas também vai parar nas roupas, em uma coleção que será feita com um dos artistas – a decisão fica à cargo do público, que pode votar na obra favorita através do site da marca (skazioficial.com). 

O projeto ainda deu origem a produção de uma camisa. Feita em parceria com o artista Daniel Jack, que pintou um dos murais da fábrica, a peça terá toda a renda voltada para o Instituto Mario Pena e começa a ser vendida ainda no final do mês.

Em relação a comunidade, a marca programa uma abertura oficial para o espaço em novembro. “Estamos pensando em uma festa interdisciplinar, desde um momento fitness a um momento de gastronomia, workshops de pintura, artesanato”, adianta Reis. 

 Riva Moreira/Hoje em Dia 

FÁBRICA - O espaço fica localizado na Rua dos Pampas, 618 no bairro Prado

 ‘Bolinhos’ também marcam presença no espaço cedido pela marca

É muito difícil andar por Belo Horizonte e não se deparar com os bolinhos pintados pela artista Maria Raquel. Um dos grandes nomes do grafite belo-horizontina, a artista também marca presença no projeto “Skazi Art Walls”. 

Convidada pela equipe da Galeria Quartoamado, Maria Raquel ressalta a importância do projeto. “Sei que é um lugar onde a galera trabalha, então achei importante deixar uma coisa para que o ambiente ficasse mais leve. Às vezes você está em um dia cansativo e, pelo menos, poderá sair e ver bolinhos divertidos”, diz. E é justamente a diversão que dá o tom do painel feito pela artista. “Tivemos liberdade para criar da forma como a gente quisesse. Então, pensei em um desenho que fosse mais fluído, em que as coisas fossem se encaixando naturalmente e que fosse algo leve e alegre”, conta. 

Maria Raquel pontua também o valor do espaço para o público geral. “É importante de várias formas. Por ter uma quantidade grande de artistas e murais diferentes, cada um em um estilo diverso, as pessoas têm a possibilidade de ver um monte de coisa bacana”, afirma. 

 Riva Moreira/Hoje em Dia 

ARTE URBANA – Alexandre Rato, Baba Jung, Clara Valente, Daniel Jack, DMS, Gabriel Dias, Helder Cavalcante, João Maciel, Maria Clara Cheib, Maria Raquel Bolinho, Thiago Alvim, Wanatta, Zi Reis foram os artistas escolhidos para produzir os 13 os painéis que compõem o corredor cultural do projeto “Skazi Art Walls”

 Trajetória

Maria Raquel é atualmente uma das artistas mais atuantes em Belo Horizonte, mas foi em 2009 que ela passou a pintar seus primeiros bolinhos pela cidade. “Sempre fui apaixonada pelo grafite. Então, dessa vontade nasceu o bolinho”, lembra. O desejo de deixar a sua marca pela cidade e a paixão pela cozinha, foram motores para a criação do personagem. “Não tinha experiência com o desenho então pensem em algo simples”, conta.

Ela confessa que quando começou nunca imaginou as proporções que o personagem ganharia. “Acho que hoje muita gente vê o bolinho como algo que é a cara de Belo Horizonte e eu acho isso super legal. A resposta que tenho das pessoas é muito positiva e isso é muito incentivador”, afirma. Para ela, o próprio personagem é a força do sucesso. “Ele é muito carismático, as pessoas o veem com frequência e ele está quase sempre com um sorriso, então acho que quem vê acaba se apegando a ele”, acredita. 

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