Grafologia revela traços da personalidade e ajuda até em seleção para vaga de emprego

Patrícia Santos Dumont
13/08/2019 às 11:54.
Atualizado em 05/09/2021 às 19:58
 (Lucas Prates)

(Lucas Prates)

Em cartas, recados, no trabalho e na escola ou para transcrever pensamentos num diário, a escrita é mais do que ferramenta para se comunicar. Analisada sob aspectos como formato e ângulos das letras, inclinação, pressão e disposição no papel e até pela distância entre as frases, ajuda a revelar o modo como nos relacionamos, tomamos decisões, lidamos com frustrações e vitórias e uma série de outras características capazes de traçar nossa personalidade.

“Na execução de um texto manuscrito nos deparamos com informações conscientes e inconscientes do escritor. Na folha de papel em branco irá projetar aspectos da personalidade, a forma como se adapta ao mundo e como responde aos diferentes estímulos internos e externos”, resume Janete Dias, uma das fundadoras da Grafologia Brasil - Escola de Formação, em São Paulo. 

A grafologista – como são chamados especialistas na técnica – explica que a ferramenta é empregada nas áreas jurídica, publicitária, educacional, organizacional e até no recrutamento e seleção de candidatos. Também idealizadora e fundadora da escola, Cristianne Valladares reforça que a avaliação não deve ser feita apenas com base nas letras, mas levando em consideração um contexto. 

Sandra Santos analisa mais de 200 características ao avaliar uma escrita, dentre elas dimensão, engrossamento e afinamento da letra, quedas, tombamentos e inclinações

“Todos os outros sinais podem potencializar ou enfraquecer aquele signo. Amadores farão a análise dos sinais, mas grafólogos sabem que a interpretação acontece pela inter-relação entre eles”, reforça a profissional, exemplificando o uso de “acessórios” em assinaturas. “O arco remete ao sentido da proteção. Quanto mais voltas, mais “couraças” para acessar o indivíduo. Quanto mais rebuscada a escrita, maior a necessidade de chamar a atenção”, acrescenta.

20 linhas

Especialista com 25 anos de experiência, tendo mais de 35 mil perfis grafológicos arquivados, a paulistana Sandra Santos, que vive em Belo Horizonte desde 2007, explica que são necessárias cerca de 20 linhas de texto para traçar o perfil completo de uma pessoa. O motivo, segundo ela, é a importância de assegurar a análise das letras, que podem se reforçar ou se contradizer. 

“Por isso, testes disponíveis na internet não fazem muito sentido. Precisamos do maior número possível de informações para obter uma interpretação assertiva. Só falo para alguém algo que tenha sido observado pelo menos cinco vezes naquela escrita”, enfatiza.

Interpretações do ponto de vista comportamental também só podem ser apresentadas para a própria pessoa. Trabalhos em empresas, voltados para o preenchimento de vagas de emprego, por exemplo, seguem outro viés. “Neste caso, entrego dois perfis, um para o candidato, com conteúdo mais emocional, e uma avaliação de zero a dez de aspectos específicos da vaga”, explica Sandra Santos.

Quem me acompanha por aqui sabe que se tem uma coisa que gosto é de experimentar as ferramentas sobre as quais escrevo. Afinal, não há nada melhor do que falar daquilo que realmente conhecemos. Com a grafologia não foi diferente. Antes mesmo de começar a apuração, enviei (pelo WhatsApp) para a Sandra Santos três frases aleatórias e minha assinatura escritas numa folha sem pauta. Estava curiosa, mas, confesso, desconfiada do retorno que receberia. Tive as expectativas superadas. A análise foi certeira! Pedi, inclusive, a duas colegas de trabalho que lessem a transcrição do áudio enviado. Queria me “certificar” de que não estava sendo sugestionada a aceitar aquele conteúdo como verdade. A resposta das duas foi: “é você”?

Quem quer se conhecer melhor e está aberto a novas possibilidades também pode se surpreender, assim como eu. Mas não espere encontrar uma receita pronta para resolver conflitos internos ou para melhorar, por exemplo, a convivência com os outros – algumas das informações extraídas na análise da escrita. O que a grafologia faz é entregar o resultado de uma investigação – bem criteriosa, por sinal. Mas cabe à pessoa utilizar as ferramentas que tem e o autoconhecimento para se moldar, sozinha. Em Belo Horizonte, a sessão com Sandra Santos custa R$ 250.

Interpretação também permite atestar veracidade de textos

Diferentemente da grafoterapia, que avalia os aspectos da escrita sob um viés comportamental, a grafoterapia é capaz de identificar falsificações através da contraposição de traços. Subdivisão da criminalística, analisa elementos objetivos, como forma e tamanho; subjetivos, como pressão e velocidade, e utiliza-se principalmente da comparação para produzir o resultado esperado. 

“Creio que a grande diferença seja o fato de os exames grafoscópicos serem essencialmente comparativos. Os elementos são analisados e comparados à escrita do(s) suposto(s) autor(es), ao chamado padrão gráfico. Assim, revelam-se convergências e/ou divergências entre eles”, explica o perito criminal da Polícia Civil Evaldo Pinheiro Amaral, especialista em documentoscopia e grafoscopia. 

Costumam ser analisados assinaturas em contratos, cheques e promissórias e o teor de documentos, cartas, receitas e até atestados médicos. Em março de 2016, um caso de vandalismo a um cartão-postal de BH foi solucionado com ajuda da técnica. Após pichar a Igrejinha da Pampulha, um homem, flagrado por câmeras de segurança, teve os traços analisados e, após perícia, foi condenado e preso. 

Reeducação

Mais do que expor características pessoais e confirmar informações suspeitas, a escrita também possibilita a reeducação comportamental. Por meio da grafoterapia é possível ajudar os indivíduos a buscarem o equilíbrio, modificando ou desenvolvendo aspectos da personalidade. 

“Trata-se de um método executado sob três vieses: motriz (exercitação neuromuscular), psíquico (influência auto sugestiva do texto) e mental (reconhecimento das qualidades negativas e racionalização do que se deseja alcançar). Com os exercícios, o sujeito aprende a conhecer as próprias lacunas e a reeducar-se”, explica a grafóloga e professora Maria Inês Pereira.

Experiências sociais e emocionais e as mudanças que elas geram em nossas vidas também são capazes de influenciar na forma como escrevemos, tornando as letras maiores, menores ou mais espaçadas, por exemplo. 

“Interesses e experiências individuais refletem na escrita, que muda ao longo da vida, revelando evolução e maturidade individuais” - Cristianne Valladares, grafóloga, fundadora da Grafologia Brasil - Escola de Formação

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