Guinada aos 50: idade não é barreira para mudar de profissão atrás de aprendizagem e diversão

Patrícia Santos Dumont
pdumont@hojeemdia.com.br
25/08/2017 às 10:12.
Atualizado em 15/11/2021 às 10:15
 (Editoria de Arte)

(Editoria de Arte)

O aumento da expectativa de vida tem mantido os brasileiros por mais tempo no mercado de trabalho. Prova disso é que, ao contrário do que acontecia algum tempo atrás, ao chegar aos 50 anos muita gente tem adiado os planos de aposentar-se para refletir sobre o que já conquistou. Mais que isso: sobre os sonhos que ainda deseja realizar.

É como se a idade, marco da maturidade emocional, funcionasse também como divisor de águas quando o assunto é a realização profissional. “Denominamos a etapa dos 49 aos 56 anos como fase inspirativa. É o momento em que o profissional começa a escolher novos caminhos”, detalha a consultora organizacional Tânia Zambelli. 

Co-fundador da Inner Game International School (escola com unidades no Brasil e em outros cinco países e que aplica os conceitos da metodologia The Inner Game® – O Jogo Interior – leia mais no fim da matéria), Renato Ricci diz que o volume de cinquentões em busca de uma “guinada em 180 graus” aumentou. “Querem mudar de profissão e começar vida nova, pois ao longo da jornada fizeram tudo o que não gostavam”, diz. 

Segundo Ricci, essa mudança exige cautela. Ao contrário da expressão no pain, no gain (sem dor, sem ganho) usada em diferentes aspectos da vida, para se alcançar os resultados desejados, segundo ele, é preciso que haja diversão e satisfação pessoal. 

“A performance só é atingida se houver um processo em que exista aprendizado associado a diversão e satisfação. Não acreditamos em no pain, no gain, que seja preciso algo duro para se obter resultado. Não compartilho desse pensamento. A performance sempre será obtida num ambiente de aprendizagem e diversão. É preciso ter satisfação e contentamento”, reforça.

No dia 30, Tim Gallwey fará palestra em BH; saiba como participar aqui

Neste contexto, a figura do coach, avalia Ricci, tem sido cada vez mais buscada como forma de ajudar a dar clareza aos objetivos reais de cada um. Ele ressalta, no entanto, que a ideia é instigar a reflexão e incentivar o jogo interior – da pessoa consigo mesma. 

“Somos uma espécie de advogado do diabo, fazemos perguntas de reflexão, às vezes instigantes. Não é uma consultoria ou aconselhamento, mas um trabalho de facilitação”, explica.

Além disso:

O conceito de Inner Game (O Jogo Interior) nasceu na década de 1970, quando Tim Gallwey, então professor de tênis em Harvard, descobriu que o aprendizado era mais natural e os atletas desenvolviam-se mais quando o treinador interferia menos. O conceito principal do jogo, levado depois para outros esportes, para a área da saúde e para grandes empresas e corporações, considera que desempenho é igual potencial menos interferências. 

Formado em Harvard, onde graduou-se em literatura, Tim Gallwey dedicou-se, a partir da década de 1970, a disseminar o método de capacitação.  O primeiro livro publicado teve foco em demonstrar a aplicação do método para atingir a alta performance de jogadores de tênis – The Inner Game of Tennis. A publicação vendeu mais de 2 milhões de cópias somente nos Estados Unidos.

Um dos treinadores mais famosos do futebol americano, Pete Carroll, vencedor do Superbowl em 2014 pelo Seattle Seahawks, foi aluno de Gallwey e até hoje usa os princípios do Inner Game com os jogadores. A fórmula do Jogo Interno é o lema do milionário treinador. 

Entrevista - Timothy GallweyDivulgação

Norte-americano é o pai do coaching moderno

O coaching popularizou-se muito no Brasil e hoje existem, além de profissionais de várias áreas denominando-se coaches, uma enorme variedade de segmentos aos quais se destinam. Isso acabou gerando certa desconfiança quanto à técnica. Como o senhor define a essência do coaching e de que forma ele pode levar as pessoas a alcançarem o que desejam?
O aprendizado, e não o coaching, é a essência do coaching. Não é o que o coach fala que melhora a performance. Ela é aprimorada de duas formas: primeiramente, pelo desenvolvimento do potencial natural de cada um. E isso demanda prática e consciência. Uma criança aprende a andar antes de aprender a falar, sentindo a diferença entre o equilíbrio e o desequilíbrio e desenvolvendo os músculos da perna. O aprendizado acontece com as frequentes quedas e levantamentos. A segunda e a mais negligenciada forma de melhorar a performance é reduzir a interferência no desenvolvimento do potencial. Quando o medo e a insegurança ocupam a mente, eles interferem no desenvolvimento do potencial e, portanto, no desempenho. Se o coach cria as condições para reduzir o medo e a dúvida, aumenta o acesso ao potencial da pessoa enquanto a mente aprende a se concentrar nas variáveis críticas da performance. Quando o foco é praticado, o potencial aumenta e a interferência reduz. Existem técnicas que podem demonstrar isso, mas não há como encurtar os caminhos. Nós todos somos vulneráveis a dúvidas, medos e crenças limitantes sobre nós mesmos. 

Seu primeiro livro – Inner Game of Tennis – foi publicado 44 anos atrás. De lá para cá, o mundo mudou muito. Além de sermos guiados por muitas tecnologias, temos uma vida muito mais acelerada. Quais princípios do Inner Game o senhor considera que permanecem e para quais houve a necessidade de adaptação para esse novo contexto?
Os princípios não mudam com o tempo. As técnicas podem mudar à medida que você evolui. Quanto mais rápido e complexo é o ambiente, mais importante é mudar a mente de forma clara, sem distrações. Entretanto, pode haver uma escolha que aumente o foco e diminua as distrações em ambientes complexos. A excelência depende do desenvolvimento de aptidões internas que irão desenvolver, por sua vez, as externas. Uma pergunta que todos devem considerar é: “eu pratico as habilidades do jogo interior de forma que eu possa praticar o jogo exterior? Eu estou engajado nisso ou é o contrário?”. Se o meu estado de espírito é mais importante, eu tenho mais acesso ao prazer, à paz de espírito, ao aprendizado, não importam quais sejam as condições externas. Conquiste o controle sobre a sua realidade e a vitória nos “jogos” naturalmente acontecerá.

Podemos dizer que a busca principal das pessoas é por algo que as realize, que as torne mais felizes? Nesses quase 50 anos elaborando e aplicando os princípios do Inner Game, o que o senhor percebe que mudou nessa busca? Está mais fácil ou mais difícil encontrar a felicidade?
A derrota em vários jogos dos quais participamos dificulta a comprovação de que somos o máximo. Sempre haverá quem jogue melhor. Você não está no controle do nível da performance do outro. Você tem a possibilidade de escolher a felicidade acima da vitória. A felicidade e a conquista dos jogos são coisas independentes. O perdedor no jogo pode ser um vencedor na vida. Pergunte a qualquer criança: “você preferiria ser rico ou feliz?”. A criança dirá: “eu prefiro ser feliz”. Pergunte a um adolescente ou um adulto condicionados a pensar que a vitória os fará felizes, logo dirão que preferem ganhar, e você encontrará um perdedor. Afinal, o que é mais fácil? Olhe para qualquer criança que não foi ensinada que vencer é o mais importante e você verá como a felicidade é simples. O difícil é desconstruir a crença de que a vitória exterior o fará feliz. 

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