Jejum faz bem? Confira orientações de especialistas sobre essa prática tão divulgada

Luisana Gontijo
lgontijo@hojeemdia.com.br
09/05/2021 às 13:17.
Atualizado em 05/12/2021 às 04:53
 (Editoria de Arte do Hoje em Dia)

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Lucas Prates 

Endocrinologista Adauto Versiani dá dicas para uma alimentação saudável, que ajuda a manter a forma

Indicações de jejum para perder peso parecem ter virado moda, mania, surto, epidemia, nas redes sociais, em sites, blogs, no mundo virtual inteiro. Mas será que isso funciona? Será que é saudável?

Para começo de conversa, é preciso estar atento à formação da pessoa que dá qualquer tipo de orientação, qualquer receita milagrosa, para emagrecer. 

Tem gente por aí, com milhões de seguidores nas redes sociais e nenhuma formação na área da saúde, indicando jejuns de vários dias. O alerta dos especialistas é de que isso pode gerar sérios prejuízos à saúde.

Perigo
“A gente é igual a um carro, precisa de gasolina para funcionar. Tudo o que a gente come cai no estômago, é digerido e se transforma em proteína, gordura e carboidrato. A proteína vira massa muscular e célula de defesa. A gordura gera reserva de energia e hormônios. E carboidrato é gasolina. Ele é absorvido no intestino e faz a glicose subir”, explica o endocrinologista Adauto Versiani.

O médico detalha que no nosso organismo, o carboidrato precisa ir até o estômago. “Eu como, vira glicose, entra na célula e produz energia, para a célula funcionar. Guardo no fígado, na forma de glicogênio hepático. De madrugada, quando não como nada, minha insulina cai um pouquinho e esse glicogênio compensa. Tenho glicose 24 horas por dia”.

E o que Versiani quer dizer com tudo isso? Que se alguém ficar uma semana sem comer, não vai ter carboidrato e precisará tirar energia de algum lugar, da proteína e da gordura. Vai perder também massa magra e afetar ainda o sistema imunológico, ficando mais suscetível a ter infecções, gripe e outros problemas de saúde. “A pessoa entra em catabolismo, que é estado deletério, ainda mais, nesta época de Covid”, alerta.

Intermitente
Sobre o jejum intermitente - que consiste em ficar 8, 12 ou 16 horas sem se alimentar ou em só se alimentar uma vez em dois dias da semana -, o endocrinologista pondera que há quem se adapte a ele e há quem não consiga. Versiani aponta que, entre estudos de até um ano de acompanhamento, não existe ainda nenhum mostrando que jejum intermitente aumenta a mortalidade em humanos.

“Em animais, tem estudo mostrando que, alimentado de maneira intermitente, costuma ter um melhor padrão metabólico e maior sobrevida. Posso falar que jejum intermitente de animal pode ter benefício de longevidade. Não posso falar isso de humanos”, frisa o médico.

Ele ressalta, no entanto, que não há nenhum estudo falando que o jejum intermitente piora a qualidade de vida. “Posso fazer qualquer dieta, desde que sob acompanhamento, e, para ter sucesso, tem que ser a mais fácil para mim”, ensina o endocrinologista.

No caso do jejum intermitente, observa ainda, não adianta a pessoa ficar, digamos, 16 horas sem comer nada e, nas outras oito horas do dia, se empanturrar com alimentos como pizza, sanduíches e outros alimentos ultraprocessados.

Benefícios
A ponderação é similar à da nutricionista Aline Pinheiro Amorim de Melo, doutora em Ciência de Alimentos. “O jejum de 16 horas, duas vezes na semana, pode trazer benefícios para o organismo, uma pausa saudável para o sistema gastrointestinal. O problema é que há pessoas que fazem de forma equivocada, por 18, 24 horas”, pondera.

Professora das Faculdades Promove, a nutricionista ressalta ainda que é importante que o jejum seja quebrado, interrompido, com legumes, uma carne magra, lentilha, omelete e alimentos saudáveis, como frutas.

Saiba mais
Quando não havia esta pandemia, pondera o endocrinologista Adauto Versiani, as pessoas diziam que tinham muitos eventos para ir e acabavam comendo e engordando. “Agora, fico dentro de casa e desconto na comida. A gente cria uma válvula de escape. Mas que não seja a comida”, adverte.

O médico orienta que a comida seja substituída por atividade física, pela leitura de um livro, por dançar, fazer uma caminhada sem aglomerar. “Perder peso e fazer atividade física diminuem em 34% as formas graves da Covid-19”, frisa Versiani.
“Tenho que descobrir algo que seja prazeroso e que não seja relacionado com comida e bebida, para não ser minha válvula de escape. A moda chama muito a atenção, falar que tem uma dieta nova atrai muita gente. Por que aparecem essas dietas com nomes diferentes? Porque o diferente chama a atenção”, reflete.

Ele compara, por exemplo, ao modismo que virou fazer harmonização facial. “Quem faz está injetando uma substância estranha ao organismo. Às vezes, fica legal. Às vezes, não. Será que sempre dá bom resultado? Será que é realmente necessário?”

Ainda sobre hábitos e costumes alimentares, a nutricionista Aline Pinheiro Amorim de Melo lamenta que a população brasileira tem deixado de comer o arroz e o feijão, com legumes e uma carne, para comer alimentos ultraprocessados, menos saudáveis. 

Ela destaca a importância do Guia Alimentar para a População Brasileira, instrumento tanto para o nutricionista quanto para outros profissionais de saúde orientarem a população sobre uma dieta equilibrada.
 

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