Mães 'da quarentena': isolamento social impôs nova rotina a elas, que celebram um domingo especial

Patrícia Santos Dumont
pdumont@hojeemdia.com.br | @patriciafsdumont
07/05/2020 às 15:30.
Atualizado em 27/10/2021 às 03:27
 (Maurício Vieira)

(Maurício Vieira)

Roberta convidou a sogra e, depois, a mãe, para morar com ela, o marido e a filha, uma bebê de 1 ano. Izabela trocou a atribulada rotina por dias inteirinhos de dona de casa e mãe da Manu. Ana Carolina viu o apartamento onde vive ser colocado do avesso por um furacão duplo, as gêmeas Victoria e Catarina. Ana Paula teve que exercitar a criatividade para entreter Gabriel e Isabela. E Juliana precisou fazer a surpreendente, mas necessária, escolha de transformar a sala de visitas da família num estúdio de balé. 

Cinco moradoras de Belo Horizonte, a coordenadora pedagógica, a empresária, a engenheira civil e designer, a profesora e a servidora pública são apenas uma amostra do que a pandemia do novo coronavírus e o isolamento social trazido por ela impuseram à rotina das mães. 

Algumas viram o corre-corre das múltiplas tarefas que desempenhavam ser suavizado por mais tempo de qualidade com os filhos. Outras, tiveram que tapar os olhos para a bagunça que se instalou ali, na sala de casa (ou na casa inteira!). Mas todas experimentam sentimento que deve ser compartilhado neste domingo – Dia das Mães: toda mudança, seja ela desejada ou não, esteja nos planos ou simplesmente chegue de surpresa, traz algo de especial a ser dividido com quem se ama. 

Roberta ressignificou a maternidade, Izabela passou a curtir mais as descobertas da primogênita, Carol desligou o botão da arrumação e apertou o start para viver relações mais leves e amorosas Por outro lado, Ana Paula passou a dar ainda mais importância à presença dos filhos na própria vida, e Juliana aproximou-se e orgulhou-se ainda mais da boa relação que construiu com os dela - um deles, Sophia, que é bailarina.

Confira mais sobre essas histórias:Fotos Maurício Vieira 

FURACÃO EM DOSE DUPLA
As gêmeas Victoria e Catarina, de 1 ano e 10 meses, ainda não iam para a escolinha, mas davam um “respiro” à mãe quando passavam parte de alguns dias com os avós ou podiam gastar energia nas atividades externas. Há quase 2 meses, tudo mudou. Mãe delas, a engenheira civil e designer de interiores Ana Carolina Bitar Guimarães, de 38 anos, viu-se com a vida, e a casa, reviradas. “Tirei todos os objetos decorativos da sala, em parte para que não se machuquem, pois é onde passam maior parte do tempo, mas para facilitar a limpeza também. Antes, parecia haver um tempo certo para cada brinquedo. Agora, ficam 100% espalhados”, justifica. Para ela, a maior dificuldade não é assimilar o confinamento com as gêmeas, já que, antes da pandemia, ela havia escolhido se dedicar à maternidade em tempo integral nos dois primeiros anos das meninas. “O desafio mesmo é a bagunça. Mas penso sempre nelas, no estresse que não preciso que sintam. É realmente um momento de reflexão, de mudanças, de levar a vida mais leve”, pondera.Fotos Arquivo PessoalROTINA REINVENTADA
Mãe de Gabriel, de 11 anos, e de Isabela, de 5, a professora de educação infantil Ana Paula Silva Lara, 32 anos, reinventou-se por completo, desde as atividades corriqueiras - como cozinhar e arrumar, funções que já desempenhava antes, à forma como se relacionava com os filhos, agora integralmente dentro de casa. Estabeleceu uma rotina diferente, menos "cronometrada" que a antiga, mas mais interessante, onde o que vale é enxergar o lado positivo das coisas. "Começou como uma brincadeira, mas acabou virando rotina. Todo dia, a proposta é ensiná-los uma coisa nova, que seja por 10 ou 15 minutos", conta. O saldo, que será celebrado neste domingo das mães, é que em meio a tantas dificuldades, vale mais a pena ter foco no que é prazeroso do que naquilo que incomoda. "Vai ser um dia de auto-avaliação, pois apesar de o mundo lá fora estar nos metralhando, precisamos nos blindar, cuidar, e manter uma rotina alegre dentro de casa. A casa virou outro. Faxina mesmo é só quando tudo acabar", brinca. Fotos Maurício Vieira

SALA? QUE SALA?
Sophia Heringer, de 11 anos, também apresentou à mãe, Juliana Aparecida Heringer Coelho de Mattos, de 47, uma realidade completamente transformada. Bailarina, a menina não pôde parar os treinos, já que tem competições e testes à vista. O jeito foi improvisar um estúdio – com linóleo no piso, material usado para que o bailarino não sofra quedas, e até uma barra móvel – ali mesmo, na sala de casa. “Os móveis foram redistribuídos nos outros cômodos”, detalha a servidora pública e professora de inglês, mãe da menina. Quem não gostou nada da ideia foi o caçula, Phillip Augusto, de 10 anos, que precisou interromper os treinos de vôlei e acabou perdendo espaço, literalmente, dentro da própria casa. “De certa forma, nossa privacidade foi reduzida. Durante as aulas (de balé, on-line), não podemos fazer barulho e temos que estar com trajes adequados quando passamos pela sala de jantar”, conta Juliana, que, ao dispensar a ajudante, também passou a executar todas as tarefas da casa. Mudança e tanto para quem, antes, precisava administrar o tempo, corrido, entre o trabalho como servidora pública, as aulas de inglês numa escola de idiomas e o lazer na zumba.Fotos Lucas Prates

ALÍVIO E APERTO NO CORAÇÃO
A empresária Izabela Magalhães Zarife de Barros, de 33 anos, precisou reinventar-se não só na profissão (dona de uma buffet, parado em função dos desdobramentos da pandemia, abriu uma hamburgueria delivery com o irmão), mas no ofício de mãe. Se, antes, faltava tempo para curtir a filha Manuela, de 2 anos, em meio a tantas atividades que a rotina impunha, hoje, o que falta, às vezes, é pique para entreter a pequena. Para se ter uma ideia, foi preciso adaptar o apartamento e aceitar que áreas sociais fossem transformadas em espaço kids. A cozinha também ganhou ares novos. Agora, todas as refeições da família são preparadas ali pela dona da casa. “Gosto das tarefas de casa, isso nunca foi problema. Mas ficar ‘presa’ o tempo todo sempre foi uma dificuldade muito grande porque sou agitada, gosto de fazer um milhão de coisas. Quanto a rotina voltar, vou sentir um alívio, mas um aperto no coração também”, assume, revelando que a convivência “excessiva” da família (o marido, Marcelo, tem feito home office) trouxe mais frutos positivos que turbulência. “Não teríamos a mesma chance de curtir uma fase da vida da Manu que é superlegal”, diz. Fotos Maurício Vieira

COM A SOGRA E A MÃE
Coordenadora pedagógica em uma escola de Belo Horizonte, Roberta Aranha Fossi, de 32 anos, foi desafiada a conciliar o excesso de trabalho com os cuidados demandados por Maya, que tem apenas 1 ano e exige muitas trocas de fralda por dia, alimentação na hora certa e entretenimento de qualidade. Tomou a decisão, junto do marido, Matheus, de convidar, primeiro a sogra, depois a mãe, para morar com a família e auxiliar na nova rotina. Somam-se a isso, as limitações físicas do imóvel onde vivem, cuja área externa é pequena, suficiente apenas para o solzinho da manhã. “Maya está numa fase que precisa de espaço, de explorar ambientes, conhecer texturas, interagir com o meio, e isso não está sendo possível”, lamenta, contando que, antes da pandemia, os planos dela com a filha incluíam uma agenda recheada de shows, teatros e musicais. “Será um Dia das Mães muito especial, de auto-reflexão constante sobre meu papel, desafiador, mas prazeroso, num cenário caótico, incerto e triste”, reflete.

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