Micro, mas confortável: morar em mini-apartamentos requer planejamento e praticidade

Patrícia Santos Dumont
pdumont@hojeemdia.com.br
09/02/2018 às 12:29.
Atualizado em 03/11/2021 às 01:14
 (Fotos: Pinterest (alto), Jomar Bragança (primeira à esquerda), Rodrigo Tozzi (meio) e Pinterest)

(Fotos: Pinterest (alto), Jomar Bragança (primeira à esquerda), Rodrigo Tozzi (meio) e Pinterest)

Morar num microapartamento não precisa ser sinônimo de morar apertado. Pelo contrário! Construtoras apostam cada vez mais em lofts e estúdios supercompactos, seguindo uma tendência global de levar em conta o fato de que os moradores passam cada vez menos tempo em casa. Para fazer a ideia funcionar não é preciso muita coisa (literalmente). Boas ideias e planejamento são meio caminho andado para criar um ambiente acolhedor, cheio de personalidade. E o mais importante: confortável. 

Designer de interiores e ex-moradora de um flat de 38 m², Melina Mundim é enfática sobre o pulo do gato para quem sonha ou planeja se mudar para um local pequenininho. “Não adianta querer guardar o mundo dentro de casa”, sentencia. É preciso ter consciência do pouco espaço disponível e fazer caber nele aquilo que realmente é necessário para viver bem. 

Na opinião dela, fazer intervenções pontuais na planta é o ideal nesses casos, já que permite ao morador adequar o imóvel às próprias necessidades, quebrando paredes, por exemplo, para ampliar determinados espaços. Caso não seja possível, o mais indicado é apostar na marcenaria planejada, capaz de preencher todos os espaços do ambiente de forma inteligente e prática.

Funcionalidade

Escolher móveis funcionais é outra dica da arquiteta e designer de interiores Gislene Lopes. Para ela, mais do que se preocupar em economizar espaço, entretanto, é preciso ficar de olho na função desempenhada pelo mobiliário e na comodidade que irá proporcionar no dia a dia do morador. 
Trocando em miúdos, de nada adianta ter uma cama que vira mesa ou uma mesa que vira banco se isso não for prático na rotina de quem irá usá-los. “A peça em si funciona bem, mas o uso adequado no dia a dia depende do usuário. Se a pessoa vai guardar o móvel quando não estiver sendo usado ou se ficará com preguiça disso, por exemplo. Funcionalidade é a primeira coisa a ser observada”, destaca. 

Sem convenções

A arquiteta também não recomenda ficar preso a convenções, como a de que cores claras ampliam e escuras diminuem. “O uso de cores claras é recomendado, mas isso não significa que se deve usar tudo claro na mesma casa. O jogo de cores é que proporciona a criação de um ambiente espaçoso, confortável e sofisticado ao mesmo tempo”, alerta. 

Ainda de acordo com a profissional, locais muito pequenos pedem edifica-ções diferenciadas e visualmente confortáveis. “O maior objetivo nos microi-móveis é proporcionar prazer a quem irá usá-los”. 

Inspire-se:Pinterest/Divulgação

 PRIVACIDADE
Quem gosta de receber em casa, mas tem pouco espaço, pode usar portas de correr, como a do ambiente abaixo, para isolar o quarto dos ambientes sociais. Estrutura não prejudica a fluidez dos ambientes – que continuam integrados na medida certa – nem interfere na sensação de amplitude, já que não ocupa tanto espaço, como as portas convencionais 

  

 Pinterest/Divulgação

 CONJUGADO
Marca registrada deste imóvel, espécie de estúdio, é a unificação dos espaços; somente o quarto, ou melhor, a cama do dono da casa, tem parede divisória para cozinha e banheiro. Palavra de ordem nesse ambiente é harmonia: cores e móveis devem conversar

 Pinterest/Divulgação

 JUNTO E MISTURADO
Alguns imóveis-micro costumam dispor de lavanderia na área comum do prédio, mas quem não tem essa facilidade pode separar um espaço pequeno na cozinha para instalar uma máquina de lavar e uma bancada com torneira. Bancada de apoio, que divide sala e cozinha, também tem dupla função e, embaixo, pode abrigar banquinhos para a hora das refeições

 Fotos Jomar Bragança/Divulgação

  

NOS TRINQUES
Projeto da arquiteta e designer de interiores Gislene Lopes para jovem casal incluiu reforma completa do espaço de 38 m², na Savassi, em BH. Paredes foram removidas para integrar os ambientes (imagem à esquerda, no alto) e dar sensação de amplitude e os móveis projetados para aproveitar cada espacinho. Na lateral da varanda (próximo à TV), foi montado um mini-escritório. Espelhos instalados no quarto e no banheiro amplificam cômodos em “miniatura” e garantem conforto visual aos usuários. Tons escuros, usados sobretudo na cozinha, combinam com estilo dos moradores, tecnológicos, modernos e descolados

  

Sistema da ‘chave na mão’ dá autonomia ao profissional e livra cliente da dor de cabeça

Terceirizar toda a implantação do imóvel, da execução de pequenas intervenções à compra de móveis, tem sido cada vez mais comum entre os que escolhem viver em um micro-apartamento. Batizada de turn key, ou chave na mão, na tradução livre, a modalidade facilita a vida do morador e dá mais fluidez ao trabalho do arquiteto. 

Especialista em imóveis pequenos, o arquiteto Gláucio Gonçalves, de São Paulo, explica que o objetivo do serviço é “livrar” o contratante das dores de cabeça típicas de uma mudança e garantir mais autonomia ao profissional que executará o projeto. 

“Grande parte do público do turn key trabalha dez, 12 horas por dia. São pessoas que não têm muito tempo para correr atrás de decoração nem de móveis. Fechamos, então, um projeto, estabelecemos um cronograma e, a partir dali, o trabalho fica por conta do arquiteto. Quando se cria essa conexão, tudo fica mais fácil”, explica o profissional da Gláucio Gonçalves Arquitetura e Design.

Comodidade

Ele conta que, recentemente, atendeu um cliente, piloto de avião, que mora em Salvador, na Bahia, e comprou um apartamento em São Paulo. Por causa do deslocamento, explica o arquiteto, o cliente não dispunha de tempo suficiente para acompanhar as transformações do estúdio de 32 metros quadrados em um lar. A saída é “monitorar” o serviço por relatórios e fotos. 

“Resumindo, fizemos o projeto que transformaria o local na casa dele, com mais personalidade e funcionalidade, calculamos os gastos e fechamos o orçamento. À medida que é necessário, ele faz as transferências bancárias. Peguei a chave no começo e entregarei no final”, detalha Gláucio Gonçalves. 

De acordo com o arquiteto, o serviço vale a pena pela boa relação custo-benefício. "Rendo mais como escritório, já que tenho mais autonomia para trabalhar e tiro a preocupação do cliente. A essência do turn key é trabalhar com independência e deixar o cliente à vontade”, resume.

Ponto a ponto:

Confira dicas do arquiteto Gláucio Gonçalves, especialista em apartamentos pequenos, para acertar no planejamento e na escolha dos móveis e objetos decorativos:

1. Faça um projeto:
Quando o assunto são apartamentos de 20, 30 metros quadrados, não há como iniciar uma decoração sem ter um ponto de partida. “A pessoa vai ficar solta, sem saber o que precisa e para onde deve seguir e aí sim correrá o risco de errar muito na escolha das coisas”, enfatiza o profissional. Segundo ele, a contratação de um arquiteto não é “artigo de luxo”, pelo contrário, ajuda a evitar retrabalho e a compra de peças novas para substituir escolhas erradas. 

2. Conheça o perfil do morador e as necessidades dele:
Além de bonito, o apartamento deve ter a cara do dono. Para isso, é fundamental que o morador se veja em cada canto da casa nova e tenha as necessidades bem atendidas. “O apartamento precisa ser funcional, claro, mas também tem que imprimir a personalidade do dono, que tem que se sentir em casa e ter atendidas as necessidades, como receber amigos ou trabalhar”, diz.

3. Dê prioridade a móveis com dupla função:
Mesa que vira banco, aparador que vira bancada ou box de cama que tem função de guarda-roupa são boas estratégias para economizar espaço. Lugares pequenos exigem flexibilidade de uso e, portanto, da serventia que os móveis terão. Mais uma vez: planeje-se!

4.Faça escolhas que caibam no bolso
Fechar um orçamento realista é essencial para fazer o projeto caminhar e as coisas saírem do papel. De nada adianta ter a vista alta e mirar-se num modelo se não for possível pagar por aquilo. ”O melhor caminho para que o imóvel seja funcional e tenha a cara do dono é ele caber no bolso. O custo de execução deve ficar dentro do que foi imaginado”, reforça Gláucio. 

 No fim de 2017 uma construtora paulistana virou assunto ao lançar um empreendimento de 10m². Segundo a empresa, será o menor imóvel da América Latina. Ficou curioso? Confira o vídeo com a perspectiva do local, que deve ficar pronto no ano que vem.

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