Na companhia dos livros: produção e venda de obras literárias em papel cresce na pandemia

Luisana Gontijo
lgontijo@hojeemdia.com.br
23/01/2021 às 11:53.
Atualizado em 05/12/2021 às 04:00
 (Arquivo Pessoal)

(Arquivo Pessoal)

 Poucas frases definem o momento atual como esta do escritor Mário Quintana: "O livro traz a vantagem de a gente estar só e ao mesmo tempo acompanhado”. Nesta pandemia, ao que tudo indica, muita gente tem buscado a companhia de bons livros de papel para driblar a solidão que pode vir do isolamento social.

Com isso, aumentou não só a venda, mas a produção de livros. Na comparação de 2019 com 2020, o crescimento da venda de livros no Brasil chega a 20,50%, segundo levantamento feito pela Nielsen – empresa global de informação –, em parceria com o Sindicato Nacional dos Editores de Livros. Os 3.415.494 volumes comercializados em 2019 pularam para 4.115.791, no ano passado.

Na comparação de 2019 com 2020, o crescimento da venda de livros no Brasil chega a 20,50%, segundo levantamento feito pela Nielsen – empresa global de informação –, em parceria com o Sindicato Nacional dos Editores de Livros (Livros)

“Com certeza, tivemos um envio muito maior de originais para avaliação e posterior publicação. E registramos avanço nas vendas de livros também. Acho que a explicação para tudo isso é que as pessoas, sem poder acessar o lazer fora de casa, de repente, estão tendo mais disponibilidade para essa produção que exige recolhimento e tempo para a leitura”, avalia Maíra Nacif, da Editora Relicário, de BH.

Ela pondera que leitura é um hábito que se cultiva e, por esse motivo, vê muitas chances de isso prevalecer no pós-pandemia. “Neste momento, o livro não tem mais tanta concorrência com o lazer externo. As pessoas não estão podendo se encontrar, ir ao cinema, ter outros tipos de entretenimento, então, tem sobrado mais tempo para essa atividade mais quieta, que a gente faz mais exclusivamente em casa”, reflete Maíra Nacif.

Boom e e-commerce
Lucas Crivo, da Editora Crivo, também da capital, recorda que, no começo da pandemia, as editoras seguraram um pouco as produções, por causa da distribuição incerta. “Mas, na retomada, no segundo semestre, uma notícia fidedigna das gráficas é que houve um boom de produção. Neste momento, você tem todo mundo correndo para fazer parte do que não foi feito no primeiro semestre, pela instabilidade e pela insegurança de então. E por uma compreensão de que a coisa ia continuar. Não tínhamos muita alternativa a não ser rodar os livros e ter como mecanismo certo a distribuição via e-commerce, via mundo digital”, informa o editor.

Ele confirma, também, que a Crivo deu uma acelerada, no segundo semestre de 2020, soltando mais livros, por conta de entender como o mercado estava funcionando e se adaptar ao momento. “Nossa produção e nossas vendas foram bem mais expressivas a partir do segundo semestre”, reconhece.

"Acho que a explicação para tudo isso é que as pessoas, sem poder acessar o lazer fora de casa, de repente estão tendo mais disponibilidade para essa produção que exige recolhimento e tempo para a leitura”, avalia Maíra Nacif, da Editora Relicário

A estudante do ensino fundamental Amanda Oliveira da Silva, de 15 anos, é um exemplo indiscutível desse mergulho nos livros. Ela já devorou cinco dos sete exemplares da coleção de Harry Potter que ganhou outro dia mesmo – no Natal. “Como eu não podia comprar toda a coleção, tentei baixar, em PDF antes, mas não consegui ler pela internet. Não me prende do mesmo jeito que o livro de papel”, admite. 

 Hábito fortalecidoArquivo Pessoal 

Amanda Oliveira, de 15 anos, já leu cinco dos sete livros da coleção de Harry Potter que ganhou no Natal

A pandemia reforçou também o hábito de ler em Luana Oliveira Castro, de 17 anos, aluna do terceiro ano no Colégio Maximus, no bairro Santa Inês, em BH. “Leio vários tipos de livros, de qualquer coisa, mas os preferidos são os sobre distopia, gosto de romance de época, de clássicos. O último que li foi ‘O apanhador do campo de centeio’ (de J.D. Salinger), um livro forte, que abre espaço para muita interpretação. Os livros me permitem abrir a imaginação e, ao mesmo tempo, me fazem sair do espaço em que estou”, conta ela.Arquivo Pessoal / N/A

Luana Oliveira Castro, de 17 anos, gosta de temas como distopia e de livros clássicos

 Mãe de um casal de filhos – de 12 e 9 anos, entre os quais ela diz incentivar a leitura –, a manicure Verônica Lima está se dedicando a ler pelo menos um exemplar a cada mês nesta pandemia. “Sempre gostei de ler e, como sou autônoma e vi o movimento de trabalho diminuir, foquei na leitura, para reduzir o estresse. Leio de tudo, mas me concentrei em autoajuda e gosto muito de romance. Livro me faz sentir paz. É aquele momento em que consigo dar uma relaxada, refletir, esquecer problemas”, recomenda. Atualmente, Verônica lê “Todo santo dia”, da escritora Andreza Caricio, que ganhou de uma amiga. “Todo santo dia é dia de melhorar. O livro ensina isso, que todo dia é dia de fazer, de não deixar para amanhã”.

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