Nova realidade: Do formato às interações, reality shows e público se adaptam à quarentena

Thiago Prata
@ThiagoPrata7
09/07/2020 às 17:04.
Atualizado em 27/10/2021 às 03:59

Nesta terça-feira (14), a partir das 22h45, o "MasterChef Brasil" volta às telas sob a égide de uma nova era. Em função da pandemia do novo coronavírus, o programa exibido pela Band passa por adaptações, calcadas nos cuidados higiênicos e de distanciamento mínimo para evitar o contágio da Covid-19. Uma situação inerente em reality shows daqui para frente durante o período da quarentena, vide parte do próximo “Top Chef” (que estreia na quarta e retomará o processo de gravações ainda neste mês) e também “A Fazenda 12” (em que a plateia ficará dentro de bolhas espalhadas pelo cenário), ambos da Record.

Os cuidados se fazem necessários, como atesta Arthur Guedes, mestre e doutorando em Comunicação pela UFMG especializado em reality shows. No entanto, ainda é cedo para falar dos impactos sobre os programas, de uma maneira geral.

“Sem dúvida alguma, (as modificações provocadas pelo isolamento social) prejudicam a maneira de produzir o programa. De fato, é preciso se tomar muito mais cuidado, diminuir equipe, aumentar os cuidados com higienização, uso de mascaras, saber como que higienizam as coisas que chegam às pessoas confinadas... Em ‘A Fazenda’ e ‘BBB’, por exemplo, isso tudo muda”, destaca.

Na verdade, antes de ‘MasterChef’, outros realities já vinham promovendo modificações em sua fórmula. “Eu estava vendo um reality show de drags, que está sendo todo transmitido pelo YouTube e que é todo brasileiro. A premissa dele é que todas as participantes têm que fazer produções, as provas, tudo de forma remota, em suas respectivas casas”, relata Guedes.Band/Divulgação

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Público

Indagado se a quarentena pode influenciar e/ou já ter influenciado também numa mudança do perfil do consumidor de realities, uma vez que o isolamento social fez com grande parte dos brasileiros passassem a maior parte do tempo em casa, o especialista acredita que “não necessariamente isso aconteça”. 

“Até porque, uma das coisas que sempre falei na última edição do BBB, é que as pessoas se vinculavam não necessariamente ao programa e nem sempre a um personagem, mas às temáticas abordadas”, salienta ele, lembrando que quando os primeiros casos de coronavírus foram divulgados no Brasil, o Big Brother ainda estava sendo realizado.

“No BBB 20, a gente teve questões como machismo, racismo, homofobia, que sempre atravessaram o programa, mas isso atraiu ou afastou pessoas de assistir. O perfil do público não muda, acho que abrande para mais possibilidades de pessoas se engajarem em torno daquilo, mas não necessariamente muda (o perfil d)a pessoa que consome aquele programa”, analisa.

Como ele indica, os realities impulsionaram debates, ampliados neste período. “Pessoas que acompanham pelo formato, os personagens e as dinâmicas vão continuar acompanhando. E cada vez mais temos visto participações esporádicas das pessoas. Grande exemplo desse ponto foi o embate entre Manu Gavassi e Felipe Prior, no BBB. Ali deu origem a um embate entre pessoas que apoiavam comportamentos machistas do Prior e as que queriam combater isso por meio do apoio à Manu. Isso movimentou pessoas como Neymar e Bruna Marquezine. Movimentou o mundo dos esportes, que naquele momento estava sem atividades. Acho que não muda o perfil de quem vê o programa, mas acho que dá possibilidade de outras pessoas participarem e dizerem algo sobre aquilo”, comenta.Record/Divulgação

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Streaming

Além das TVs aberta e fechada, os realities estão hospedados nas plataformas de streaming. Com a pandemia, essas mídias passaram a ser ainda mais acessadas pelas pessoas – Netflix, HBO e Amazon não divulgam os números. E esse tipo de programa, muito provavelmente, também pode ter apresentado um aumento de acessos, o que gera novos debates.

“Acredito que alguns tiveram mais repercussão exatamente por serem atravessados por questões como lutas sociais, representatividade de minorias... O ‘De Férias com o Ex’ (exibido pela Amazon), por exemplo, tem vários casos de machismo explicito. Nesta última (edição) incluíram um participante gay, e tem outras questões que podem ser observadas e são problematizadas para além do programa. Não acho que necessariamente está havendo maior consumo de reality shows (em plataformas de streaming), mas sim um aumento no consumo de conteúdo de plataformas como todo. E os reality shows estão dentro disso”, afirma.

Descentralização

Antes mesmo da quarentena, os realities shows já vinha passando por mudanças, mas, no caso, com relação ao formato e a forma de interação com seu público. “Acho que está havendo uma descentralização da produção. Sabemos que produção televisiva envolve muita gente, equipamento e tecnologia. E tem um critério de qualidade de produção. A pandemia veio para mostrar que a forma é importante, mas talvez o conteúdo seja mais. É mais importante que a informação chegue às pessoas, que entretenimento e educação, qualquer que seja o objetivo do programa, cheguem às pessoas”, comenta Arthur Guedes.

“A gente pode pensar em um fazer audiovisual de diversas plataformas, como YouTube, Vimeo, redes sociais... O vídeo é um formato que extrapola a televisão. Talvez tenha sido a maior transformação que a pandemia trouxe”, completa.

Como ele destaca, existem diferentes fórmulas de realities, o que implica em dinâmicas distintas, obviamente. “A gente costumava ter três principais formatos de realities: o de cotidiano, o de competição e o híbrido, que mistura essas duas coisas. O ‘Master Chef’, por exemplo, se encaixa muito mais no de competição, enquanto ‘A Fazenda’ e ‘Big Brother’ são híbridos, pois, por mais que mostre o dia a dia das pessoas, há provas, campeão no final, prêmio...”, diz Guedes.

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