O rosto fala: análise facial desenvolvida por mineira ajuda a aprimorar imagem pessoal

Flávia Ivo
09/06/2019 às 06:00.
Atualizado em 05/09/2021 às 19:00
 (Persoona/Divulgação)

(Persoona/Divulgação)

Basta "dar um Google" para encontrar milhares de páginas com explicações e todos os detalhes dos processos de consultoria de estilo e visagismo. Tanto os conceitos quanto o passo a passo dessas técnicas objetivam o aprimoramento da imagem pessoal.

A prática, antes de tudo, deve estar focada no autoconhecimento do cliente e não no simples e puro uso de peças de roupas e acessórios refinados ou moderninhos. É preciso "conversar" com o indivíduo em todos os aspectos.

Por acreditar nesse processo voltado para o entendimento de si próprio, a mineira Cris Alves desenvolveu uma metodologia inovadora de análise facial, capaz de detalhar características e comportamentos pessoais. A profissional, de 37 anos, é referência no Brasil em consultoria de imagem.

Fisioterapeuta por formação, ela começou a investir em cursos há oito anos e, aos poucos, foi aperfeiçoando o método de consultoria guiada pelo rosto – hoje registrado como Persoona.

Cris Alves falou ao Hoje em Dia sobre esse universo onde resolveu mergulhar e acerca das reais transformações promovidas pelo diagnóstico de linhas, formas, cores, texturas e volumes.

Como começou sua história com a consultoria de imagem?
Tive o primeiro contato na época do meu casamento. Assim que me casei, comecei a consultoria de imagem como cliente. Coincidiu com uma fase de muita mudança, tinha passado no concurso da Assembleia de Minas. A pessoa que fez a minha consultoria também dava aulas e resolvi me inscrever. Cheguei despretensiosa, mas no primeiro dia já pensei que não iria trabalhar com a fisioterapia e sim com a consultoria de imagem. Inicialmente, meu público maior era da Assembleia, mas depois de pouco tempo, uma foi falando para outra e eu comecei a atender mais pessoas fora de lá do que lá mesmo. Foi acontecendo...Maurício Vieira

Uma das conclusões a que chegou Cris Alves após anos de estudo foi a necessidade do uso de um paquímetro para auxiliar nas medições do rosto


E como foi essa transição?
Não estava aguentando o cansaço, trabalhando à noite e aos fins de semana. Abri mão da extensão de jornada que tinha e, passado algum tempo, montei minha sala. Ano passado, tomei a decisão de tirar uma licença sem remuneração da Assembleia, um desapego muito difícil. No fim de 2018, decidi pedir a exoneração. Hoje, comigo, tenho cinco funcionárias (consultora de imagem, designer de moda, designer gráfico, arquiteta e secretária) e vamos expandir ainda mais o espaço que já temos.

Desde o início você sentiu um incômodo com o método tradicional da consultoria de imagem?
Total. Eu acredito em identidade visual. São mensagens que a gente transmite verbal ou não verbalmente, da cabeça aos pés. Quando comecei a trabalhar com os primeiros clientes, pensava que tinha algo fora da ordem. A pessoa ficava bacana do pescoço para baixo. E o rosto? É um pedaço pequeno do corpo, mas é o mais importante e comunicativo. Em bibliografia, o que tinha, na época, voltado para rosto era o visagismo, do Philip Hallawell – meu primeiro curso fora da consultoria de imagem. Estudei e tentei fazer aquele conteúdo virar ferramenta prática para o dia a dia de um consultor. Transformar isso em adequação de imagem para sobrancelhas, cabelos, maquiagem e uso de acessórios me levou a um campo de pesquisa. Descobri pesquisadores muito bacanas.

Mas e a roupa?
Ela é importante sim, para adequar ao contexto, ao objetivo, mas o primeiro julgamento que a gente faz é baseado no rosto. Já que ele está despido o tempo todo, à mostra, como cuidamos da roupa do rosto, que é o que está ao redor dele? Aqui no Brasil, bem ou mal, a gente tem o visagismo.

E fora, não?
Fora do Brasil, as pessoas não têm noção do que é a consultoria de imagem guiada pelo rosto. Acabo de chegar de uma palestra em Chicago, nos Estados Unidos, e percebi que este é um universo paralelo. O rosto é que comanda o resto do corpo e não o contrário. É uma questão de percepção interna, de como suas linhas falam para você quem você é e, de fato, tem sentido nisso dentro da psicologia facial. Pode parecer contraditório, mas a parte que está despida o tempo todo é a mais íntima. As pessoas podem construir um guarda-roupa do zero, mas quando se fala em sobrancelha, cabelo, fazer um Botox, ficam muito apreensivas.

Você já trabalhava dessa maneira e depois decidiu sistematizar o método?
É uma construção. Meus estudos começaram no visagismo. Hoje, a técnica é 10% do Persoona. Fui buscar outros conhecimentos, como a Psicologia Facial, a Gestalt e a anatomia, que trouxe da minha bagagem de fisioterapeuta. A análise facial, o Facetelling, marca também registrada por mim, é o carro-chefe do Persoona e se comunica com outras áreas, que trabalham também o rosto de maneira direta ou indireta, que é o caso dos médicos para os quais dou cursos. Após um longo tempo de posicionamento de marca, cheguei a esses nomes, que fazem sentido e não precisam de tradução em nenhum lugar do mundo.Maurício Vieira

A consultora de imagem abandonou a estabilidade de um cargo público para investir em um propósito


E como funciona?
A primeira coisa são as fases de análise: do rosto, das proporções corporais, de coloração pessoal – um pouco diferente da que está no mercado –, e de estilo de vida, gostos e preferências. Esse processo de construção de imagem passa por cinco pilares, incluindo fatores psicológicos e emocionais. O que guia o processo o tempo todo é o desejo de imagem do cliente. A pessoa descobre que, por ter o pescoço longo, mesmo tendo 1,59m de altura, a ela é conferida autoridade. Mas, e se o cabelo está cobrindo o pescoço? Será que isso não pode ser explorado quando a pessoa deseja se firmar, posicionar-se profissionalmente? Costumo dizer que o ruído da imagem não é algo que colocaram nela, é nosso. Ele incomoda porque as pessoas só passam a ver através daquele prisma e um monte de qualidades e atributos bacanas fica atrás daquilo ali. Às vezes, o que a pessoa quer não é acabar com o ruído de imagem dela, às vezes quer continuar porque o ruído pode ser uma coisa boa. Percebo que as pessoas estão buscando, mesmo que intuitivamente e inconscientemente, essas respostas.

Então, o trabalho é um resultado de associação de áreas?
O Persoona não foi uma invenção do zero. Quem me dera ser tão inteligente quando Jung, Da Vinci, quanto as pessoas que inventaram a Gestalt. A associação das áreas é que é nova. Trazer essas outras ciências para dentro da consultoria de imagem faz a gente ter uma visão inovadora do cliente. Já tive cliente que saiu da consultoria de cabelo azul. Era desejo do coração dela, combinava com o momento de vida, o objetivo de imagem, se encaixava com o trabalho. É uma questão de adequação de imagem dentro do que a pessoa quer e não do que a gente acha adequado. Tem uma questão que trabalho muito aqui e tem a ver com a minha bagagem, que é a fisiologia hormonal. São as nossas energias percebidas. O quanto que o masculino e o feminino, que são traços sexuais secundários que viemos desenvolvendo desde a pré-adolescência, interferem em como as pessoas percebem a gente. Ter cara de menininha significa que você tem muitas energias femininas. E, às vezes, essa pessoa que tem 23, 24 anos, cheia de energias femininas em estatura, coloração de cabelo, traços faciais, está precisando de maturidade, credibilidade e segurança para o mercado de trabalho. E aí o que ela faz? Coloca o cabelo mais claro ainda, com fios enormes, usa uma armação de óculos mais arredondada, roupas que remetem ao universo juvenil. Então, ela está se sabotando. Mas não precisa ser toda senhoril para atingir o objetivo, o extremo oposto só chama a atenção de fato para o que a pessoa é. Ela não consegue convencer ninguém e mal consegue sair de casa também. Muitos dos nossos ruídos não são escolhas nossas, são fisiologia. É complicado colocar na cabeça do cliente essa história de energia porque está muito acima da questão de gênero, está bem atribuída aos papéis que a gente tem.

E, ao final da consultoria, o cliente sai daqui com um guia...
Tenho clientes que vêm aqui, pegam esse guia, com mais de 300 páginas, e vão seguir sozinhos. Eu doto a pessoa de ferramentas, ela entende o propósito. Apresento os detalhes como se fosse uma aula. Não trabalho com nomenclatura de estilos universais, nem tipos físicos e até as formas do rosto são questão secundária. Trabalho com linhas, formas, cores, texturas e volumes. Aí a pessoa vai saber o motivo de na casa dela ter muitas linhas retas, por exemplo. O cérebro da gente busca complementaridade o tempo todo e a gente cai, às vezes, no equívoco de fazer aquilo que não tem a ver com a gente quando cedemos a opiniões externas, a propagandas ou tendências. Aqui é para a pessoa conhecer a própria essência. Aí está uma das diferenças de Persoona para o visagismo. Uma pessoa de rosto mais reto que vá a um visagista terá a indicação de usar uma armação mais arredondada para suavizar. E se você quiser acentuar o traço reto, use um reto. Vai ficar nessa história. No entanto, uma armação de óculos tipo aviador, por exemplo, tende a puxar a pessoa para baixo, aumentar os quadris e os ombros, por ter mais energia masculina. Então, se a mulher busca mais energia feminina, não faz sentido essa indicação. Ou seja, tem que avaliar a pessoa por inteiro.

Hoje, você tem como alunos consultores de imagem, médicos, dentistas, cirurgiões plásticos... Quais conhecimentos prévios a pessoa precisa ter para se especializar na análise facial?
Não há pré-requisito. Tenho alunos que vêm para o Persoona como primeiro curso de consultoria de imagem e outros especialistas em face – os cirurgiões plásticos e dermatologistas. Para quem lida com o rosto todos os dias, é uma maneira diferente de embasar um protocolo de tratamento. A pessoa tem que ter curiosidade, afinidade com o assunto e estar disposta a estudar, porque é um conteúdo muito denso. Não é um curso que vai repetir regra de rosto quadrado ou redondo, corpo retangular ou ampulheta.Maurício Vieira

Medições como altura e largura do rosto estão presentes no método criado por Cris Alves


Você diria que para os cirurgiões plásticos e dermatologistas é um ganho entender dessa maneira o rosto?
A pessoa pode se deparar com perda ou ganho de força com uma intervenção no rosto. Do tipo: “Quero o nariz da atriz ou a boca de fulana”. Tem uma questão de proporções e de se reconhecer. Você tem mais afinidade com as linhas que você vê todo dia, retas ou curvas. Pode até estar bonito do ponto de vista estético, mas há pesquisas que apontam mudança de comportamento. Tenho uma cliente que fez uma plástica na adolescência e hoje o ruído da imagem é que o nariz faz com que as pessoas a considerem esnobe. Mas ela tem diplomacia, é mediadora de conflitos e tem um olhar para o outro. Nesse caso, de compensar um erro do passado, tentamos romper com elementos do visual que corroborem com aquela imagem que está passando. Com o ruído da ‘fresquinha’, estava andando de calça jeans e sapatilha, pois achou que poderia ser a roupa que estava demais.

O lançamento de um livro em breve faz parte da agenda lotada, não é?
Sim. O livro já está totalmente pronto, estamos nos “finalmentes” de layout e diagramação. Lançamento previsto ainda para junho. Ano passado eu dei muitas aulas para consultores de imagem. Em 2019, reduzi a agenda para três no ano: dois no primeiro semestre, incluindo um aqui em BH no último mês, e um no segundo, em setembro. Além da divulgação do livro e da agenda internacional.

Eu experimentei

"Apesar de acompanhar, há tempos, o trabalho de Cris Alves e, inclusive, já tê-la entrevistado por telefone, nunca havíamos nos encontrado pessoalmente. Ao fim do encontro que gerou esta entrevista, pedi que descrevesse, em poucas palavras, quem era a Flávia que acabara de conhecer, apenas pela análise facial. A Cris chegou a conclusões tão precisas que até amigos meus de longa data ainda não perceberam. 'A primeira coisa que chama atenção no seu rosto é a linha lateral reta, com marcação de ângulo de mandíbula, que são linhas de força. O traço amendoado dos olhos mostra uma característica de curiosidade, que tem a ver com sua profissão, e também um olhar para o novo e para o gosto de imergir em áreas desconhecidas', descreveu a consultora. Cris também opinou sobre meu corte de cabelo, os detalhes da maquiagem e o uso dos acessórios. Para ela, percorro um caminho de muitos acertos, de equilíbrio e aumento do dinamismo. Para mim, ganhos enormes com a breve descrição da especialista e a vontade de saber mais".

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