Paiol de ritmos afro-latino-americanos, pra ninguém ficar parado

Luisana Gontijo
lgontijo@hojeemdia.com.br
Publicado em 19/08/2021 às 18:20.Atualizado em 05/12/2021 às 05:43.
 (Fotos Arquivo Pessoal)
(Fotos Arquivo Pessoal)

A profusão de ritmos que compõem a música afro-latino-americana é sinônimo de riqueza cultural, ancestralidade e história de inúmeros povos que trazem a sonoridade no DNA, na veia, no dia a dia. Passando pelo semba angolano, que leva ao samba; pela cúmbia, nascida nas áreas rurais da Colômbia, antes de ganhar o mundo; pela rumba cubana, caribenha; pelo maracatu, outro de origem africana, materialização do folclore brasileiro; é essa mistura de sons que, feita com paixão e conhecimento, leva a banda mineira Paiol de Tonha a atrair dezenas, centenas, de fãs aos shows que vem retomando, com o avanço da vacinação contra a Covid-19.

Antes mesmo de retornar às apresentações presenciais, o grupo viu que precisava inovar, criar, investir nessa bagagem de ritmos afro-latino-americanos que vem adquirindo, à qual vem se dedicando, e gravou em estúdio o primeiro EP, no começo deste ano, que está sendo lançado agora. “Amarillo Mango” traz três canções autorais, todas elas convidativas ao remelexo, à ginga, daquelas que não deixam ninguém parado.

Herança

Baterista da Banda Paiol de Tonha, Luiz Paulo Ramos

Luiz Paulo Ramos, baterista da Paiol de Tonha, é ex-integrante da Banda Berimbrown e egresso do Grupo Uakti


Composto pelo multi-intrumentista, cantor e compositor Luiz Paulo Ramos, ex-integrante da Banda Berimbrown; com formação musical, inclusive, nas odes do lendário Grupo Uakti; pelo compositor, vocalista e violonista Marcelo Carvalho; e pelo compositor e guitarrista Daniel Filho, Paiol de Tonha é fruto das histórias familiares musicais de seus integrantes, que os levaram a se encantar e a mergulhar na sonoridade afro-latina.

Filho e neto de índios Pataxó, o baterista Luiz Paulo Ramos se orgulha de trazer em si a musicalidade e ludicidade desse povo. “Essa minha ancestralidade se fundiu com a cultura dos povos africanos. Todos nós, com a nossa brasilidade, assimilamos a ancestralidade da música africana”, pondera o músico.

Seu avô Caetano Avelino Ramos tocava todos os instrumentos de sopro existentes. Os irmãos Serginho Beagá e Marquinhos Ramos são nomes conhecidos na cena musical mineira. E o mestre de cavaquinho Valdir Silva, um dos compositores e instrumentistas mais celebrados do país, também era da família, primo de Luiz Paulo.

Vocalista e violonista da banda Paiol de Tonha, Marcelo CarvalhoCompositor, vocalista e violonista, Marcelo Carvalho é um dos fundadores do bloco de carnaval "Chega o Rei"

Marcelo Carvalho conta que sua primeira influência musical foi o próprio pai, tocador de violão dos bons, ligado à música nordestina, a ritmos como baião e xaxado. O vocalista já teve banda de rock, de reggae e até bloco de carnaval, o Chega o Rei, que toca só Roberto Carlos.

Daniel Filho também revela que é de família de músicos, das rodas de samba animadas, e que desde criança tinha um instrumento à vista. “Eu estava sempre brincando com um instrumento. Meu amor pela música foi crescendo tanto que eu queria tocar o tempo todo”, detalha o guitarrista.

Guitarrista da banda Paiol de Tonha, Daniel FilhoDe família de músicos, guitarrista Daniel Filho toca desde a infância e já na adolescência fazia shows na noite

Primeiro EP

Criada em 2018, a banda Paiol de Tonha fez shows até o dia 12 de março de 2020, antes da pandemia. No começo deste ano, os três integrantes do grupo viram que precisavam inovar, dar um passo à frente, e decidiram pela produção do EP “Amarillo Mango”, com três músicas autorais.

E todas as composições do álbum são dançantes, amparadas em ritmos calientes da música afro-latino-americana. 


Abrindo o EP, “Que Que Tem? (Tá que tá)” – clique e ouça –, define Marcelo Carvalho, usa uma afiada ironia cômica para retratar o momento de um Brasil tomado pela insegurança e, à sua maneira, segurando as pontas do jeito que consegue. 

Tereza” é um balanço afro-brasileiro, na sua mais pura tradução. “Enaltece a beleza feminina que há em todos os que se deixam levar pelo suingue da Paiol de Tonha”, aponta ainda Carvalho.

Fecha o álbum a charmosa cúmbia “En Calorado”, que fala de um amor que se revela ao longo dos versos, pelo calor intenso e boêmio.
 

Onde curtir

As canções de “Amarillo Mango”, que podem ser apreciadas no YouTube, já são tocadas pela banda em suas apresentações, especialmente às quinta-feiras, no Saruê, que fica no bairro Castelo, em BH.

Capa do primeiro EP da banda Paiol de Tonha, "Amarillo Mango"

Capa do primeiro EP da banda Paiol de Tonha, que traz canções autorais de extrema originalidade

“A gente é uma banda de rua, toca na rua. Não é aquela coisa presa a pilares, a conceitos. O Brasil está precisando de mais coisas assim. Ficamos muito reféns da tecnologia”, pondera Luiz Paulo Ramos, com o cacife de quem foi aluno do Uakti, um dos grupos instrumentais mais criativos que o país já viu.

Na mesma linha, Daniel Filho defende a busca constante de originalidade ao se fazer música: “A guitarra paraense, por exemplo, é um jeito de tocar que existe no Brasil, mas que a gente deixa de lado, pela influência do rock”, considera ele.
 

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