Pelo caminho do meio: disciplina positiva prega abordagem mais serena para criação dos filhos

Patrícia Santos Dumont
pdumont@hojeemdia.com.br
19/08/2018 às 06:00.
Atualizado em 10/11/2021 às 01:58
 (Riva Moreira)

(Riva Moreira)

Não importa se você é pai ou mãe de primeira viagem ou se já tem muitos filhos. Dúvidas sobre estar seguindo o caminho correto na educação e formação de uma criança são comuns a qualquer família. Contrária a um manual de conduta e a receitas de certo e errado, uma filosofia vem despertando a atenção ao propor o caminho do meio entre permissividade e autoritarismo, baseando-se, principalmente, em firmeza e gentileza.

Certificada pela Positive Discipline Association e referência no assunto em Belo Horizonte, com mais de 38 mil seguidores no Instagram, a educadora parental em disciplina positiva Mariana Lacerda diz que o método individualiza o tratamento com foco na solução e não no problema.

O ponto de partida é transformar cada desafio (como são denominados comportamentos considerados ruins) em oportunidade de ensinamento e aprendizado emocional.

“Não é uma abordagem com fórmula mágica, que vai fazer com que todas as crianças se tornem obedientes, submissas e não se comportem de maneira desafiadora novamente. Mas modifica nosso olhar para o desafio. A mudança começa no adulto”, ressalta Mariana, que é terapeuta ocupacional, doutoranda em saúde da criança e do adolescente. 

A especialista orienta sobre como agir, por exemplo, diante de uma birra motivada por frustração. “Muitos métodos ensinam a ignorar a criança ou bater para que ela não repita aquela conduta. Em ambos os casos, o objetivo é simplesmente parar o comportamento. A disciplina positiva diz o contrário. Mostra que aquele é o momento ideal para ensiná-la sobre como agir diante daquela emoção”, exemplifica. 
 Riva Moreira

TREINAMENTO
Especialista em disciplina positiva, Mariana Lacerda reforça que ferramenta deve ser aprendida na prática


Exercicío da escuta

Mãe de Maria Eduarda, de 3 anos, e de Benício, de 1 ano e 4 meses, a servidora pública Laura Pires da Cunha, de 36, procurou a disciplina positiva assim que a primogênita completou 2 anos. Aprendeu a substituir a rigidez extrema, os gritos e frases como “eu sou adulta e sei o que é melhor para você” pelo exercício da escuta e do respeito à vontade do outro. 

Hoje, tem uma relação menos hierárquica e mais amorosa com os filhos. “Comecei a ver que existe outra forma de conquistar respeito, que é através do amor e da escuta, pois eles são seres humanos que têm vontades e precisam ser respeitados. Uma das coisas mais importantes é enxergar a necessidade por trás de cada comportamento e não simplesmente bani-lo”, afirma. 

Mãe de Maria, de 3 anos, Ana Paula Rodrigues Sanches, de 40, trilhou caminho semelhante ao lidar com a menina que, aos 6 meses, deixou de reagir bem ao cantinho do pensamento (castigo que força a criança a refletir sobre um comportamento inadequado). 

“Passei a levar em consideração os sentimentos e opiniões dela e a escolher que batalhas travar. Não me importo, por exemplo, que ela pule no sofá, mas não abro mão das horas de dormir e comer. Assim, ao invés de impor, escuto e converso e ela, dessa forma, se sente mais amada e respeitada”, explica a servidora pública. 

Longo prazo

A educadora parental em disciplina positiva Mariana Lacerda diz que os benefícios da filosofia na educação dos filhos têm efeitos também a longo prazo. “A grande questão é que muitos pais querem ensinar só a não se comportar daquela forma naquele momento, mas não querem solucionar o motivo que levou àquela atitude. A disciplina positiva é mais que um método educacional, é uma ferramenta de aprendizado”, reforça. Lucas PratesQUESTÃO DE ESCOLHA
Ana Paula aprendeu a escolher que batalhas deseja travar com a filha Maria: "Não me importo que ela pule no sofá, mas não abro mão da hora de comer e dormir"

Ser gentil e firme muda qualquer relacionamento

Pioneira em disciplina positiva no Brasil e em Portugal e treinadora líder certificada, Fernanda Lee ressalta que a ferramenta pode ser usada não só com crianças e adolescentes, mas em todos os relacionamentos. O ponto-chave, conforme a especialista, que trabalha com a dra. Jane Nelsen – precursora da filosofia no mundo –, é a compreensão do sentimento do outro. 

"Uma pessoa só irá conseguir escutar o que precisa se estiver se sentindo ouvida. O sentimento de compreensão é fundamental e a disciplina – que sempre foi usada como uma palavra pejorativa – só vai ser realmente efetiva se usada dessa forma. Firmeza e gentileza cabem em qualquer contexto, entre pai e filho, casais e parceiros”, reforça a co-fundadora do site disciplinapositiva.com.br. 

Mudança de visão

Fernanda Lee associa a popularidade da disciplina positiva a uma mudança na história das gerações (os millennials) mais questionadoras e resistentes. “As crianças, agora, observam a dinâmica que vivem em casa. Para criar um adulto diferente, portanto, eu preciso ser diferente. Como criar consciência crítica se não as deixamos opinar? Todas têm direito a respeito e dignidade e esse não é um trabalho para ser feito sozinho, mas em comunidade”, afirma. 

Segundo a dra. Jane Nelsen, qualquer criança pode aprender cooperação e autodisciplina sem ter a autoestima e a dignidade prejudicadas.

Leia mais:

Além disso:

Desenvolvido pela dra. Jane Nelsen, a disciplina positiva é um programa baseado no trabalho do psicólogo Alfred Adler e do psiquiatra e educador Rudolf Dreikurs, ambos austríacos. O objetivo do método, difundido no Brasil recentemente, é encorajar crianças e adolescentes a se tornarem responsáveis, respeitosos, resilientes e aptos a solucionarem os próprios problemas ao longo da vida. A filosofia se baseia em cinco princípios e aponta mais de 50 ferramentas para ajudar os adultos a desenvolverem as habilidades que desejam para as crianças. 

Cinco princípios da disciplina positiva:

  1. Ajudar a criança a se sentir conectada: sentir que é aceita na família e/ou na escola e que é capaz de contribuir
  2. Encorajar o respeito mútuo: agir com firmeza e gentileza ao mesmo tempo. Os adultos tornam-se o modelo de respeito que desejam ter
  3. Ser eficaz a longo prazo: considerar o que a criança está pensando, sentindo, aprendendo e decidindo sobre si mesma e sobre o meio social
  4. Ensinar habilidades sociais e de vida: respeito, cuidado com os outros, resolução de problemas e cooperação
  5. Incentivar a descobrir as próprias capacidades: encorajar o uso construtivo do poder pessoal e o desenvolvimento da autonomia

Saiba mais sobre a história da disciplina positiva clicando aqui. 

Informações sobre cursos e workshops:

Veja alguns desafios colocados pelas crianças e sugestões de comportamento para os pais, conforme a disciplina positiva:Editoria de Arte

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