Plataformas de comércio de games distribuem títulos de graça para 'acumular vidas', literalmente

Marcelo Jabulas
@mjabulas
14/08/2020 às 23:12.
Atualizado em 27/10/2021 às 04:17
 (SNK)

(SNK)

Pode parecer estranho, mas muita gente não sabe que o mercado de games é o maior segmento da indústria de entretenimento, maior que música e o cinema. Este ano, o faturamento previsto é de US$ 159 bilhões. Em reais, são mais de R$ 800 bilhões. E outro dado curioso é que quase 50% de toda essa arrecadação é oriunda de jogos de celulares. Em contrapartida, os setores de jogos para computadores e consoles vêm buscando soluções para atrair consumidores, fazendo valer um recurso semelhante ao dos games mobile: jogos gratuitos.

Essa semana, a Amazon incorporou, em sua plataforma Prime, o Prime Gaming. O serviço que permite downloads de jogos é gratuito para quem assina a plataforma de filmes, séries e músicas. De acordo com a plataforma, todos os meses ela irá disponibilizar jogos gratuitos para seus assinantes, além das opções pagas. 

Entre os conteúdos disponíveis estão games da SNK, estúdio famoso por jogos de fliperama nos anos 1990 e também pelo console Neo-Geo, que era o PS5 da velha guarda. Títulos como “Sengoku” e “Metal Slug 2” (que ilustra a página) estão na lista deste mês.

Isca

Outra empresa que tem apostado em jogos “na faixa” é a Epic Games Store. O estúdio norte-americano, que ficou famoso pelo motor gráfico Unreal e por franquias como “Fortnite” e “Gears of War”, entrou no varejo online há cerca de dois anos.

E para ampliar sua pasta de clientes ela vem apostando em jogos gratuitos, que se atualizam semanalmente. Para se ter uma ideia, a Epic já disponibilizou medalhões como “Grand Theft Auto V”, que é um dos maiores fenômenos da indústria de jogos, com mais de 120 milhões de cópias vendidas. 

Nesse episódio, a procura foi tão intensa que os servidores não suportaram o volume de acessos. Mas foi uma estratégia impecável para promover o serviço que concorre com plataformas populares como Steam e GoG.com. 

A Steam, loja de jogos da Valve, é outra empresa norte-americana que iniciou o desenvolvimento de games (é a produtora de “Half-Life” e “Counter-Strike”) e depois migrou para o varejo. A Steam também dava games de graça como isca para atrair consumidores.

Hoje, a Steam não é tão generosa assim, afinal tem uma base gigantesca de clientes. Mas a plataforma ainda se destaca por praticar preços muito baixos em publicações mais antigas e jogos independentes.

Contra-ataque

A Electronic Arts, uma das gigantes dos games, também distribuiu jogos para capilarizar sua plataforma de vendas Origin, exclusiva para computadores. Quando iniciou suas atividades, em 2011, também presenteava os usuários cadastrados com um game gratuito por semana. Claro, eram títulos antigos como “Sim City 2000”, mas também oferecia produções não tão “maduras” como “Dragon Age” e até mesmo títulos famosos como “Medal of Honor: Pacific Assault”. 

Mas naquela época estratégia não era competir com os joguinhos de celular, e sim desestimular a pirataria que pipocava em servidores de compartilhamento. Os famosos torrents, que ainda operam, mas com menor intensidade que no passado. 

A GoG.com, assim como Origin, também não faz “graça” com joguinhos gratuitos, mas também atrai sua clientela com títulos oferecidos por valores irrisórios. Já a Ubi, loja exclusiva da Ubisoft, tem como estratégia distribuir conteúdos, mediante o desempenho dos inscritos com seus games. 

Ou seja, quanto mais o jogador progredir em um título, ele recebe pontos que podem ser gastos nos games, não necessariamente naquele em que pontuou. Por exemplo: O jogador pontua em “Far Cry 5”, mas pode gastar seus pontos em “Ghost Recon: Breakpoint”. 

Consoles

Se no mercado de PC, distribuir jogos é uma solução para atrair consumidores, no segmento de consoles os gratuitos são armas para vender aparelhos e serviços de assinatura.

Microsoft e Sony disputam o mercado de consoles, que ainda conta com a presença de centenária Nintendo (antes de fabricar videogames passou décadas atuando no ramo de baralhos). 

As duas contam com serviços de assinatura, que são fundamentais para jogar online, mas que também adoçam os assinantes com jogos gratuitos. A regra é basicamente a mesma das demais. Todos os meses disponibilizam games que podem ser resgatados. No entanto, o acesso é permitido durante o período da assinatura, que podem ter duração mensal, trimestral ou anual, com valores que podeM variar de R$ 26 a R$ 150.

A Microsoft ainda conta com o serviço Xbox Game Pass, que dá acesso à biblioteca de jogos para Windows e Xbox One, por R$ 30,49 ao mês. Já a Electronic Arts também oferece um serviço de assinatura, o EA Access, que dá acesso ao seu catálogo de jogos, assim como descontos em lançamento, para computadores, Xbox One e PS4.

A indústria dos games atua com a mesma lógica de seus jogos, em que acumular vidas é essencial para a sobrevivência. Literalmente.

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