Profissionais e faculdades do Norte de Minas se unem para fabricar máscaras

Marcelo Jabulas
@mjabulas
26/03/2020 às 13:23.
Atualizado em 27/10/2021 às 03:05
 (Funorte/Divulgação)

(Funorte/Divulgação)

A pandemia da Covid-19 tem sido um período difícil para toda a sociedade. Confinamento social, incertezas sobre o futuro, pessoas adoecendo e morrendo... Mas se assistir pela janela já é doloroso, imagine para quem está na linha de frente no combate à doença. Profissionais e familiares que não têm equipamentos para se proteger, como médicos, enfermeiros e até mesmo outros pacientes nos hospitais e unidades de saúde? Ou não poder salvar uma vida porque o respirador artificial está quebrado?

Foi pensando nisso que engenheiros do Norte de Minas resolveram criar um grupo para produzir máscaras em impressoras 3D e prestar manutenção em aparelhos respiratórios. A ideia começou com uma troca de mensagens na sexta-feira passada, 20 de março. No domingo, dia 22, o plano de ação estava concluído e no início desta semana os protótipos das máscaras já estavam em teste. 

Hoje, o projeto SerTão está produzindo os equipamentos que serão distribuídos a unidades de saúde e hospitais na região de Montes Claros. Além de engenheiros, o grupo reúne médicos, advogados, contadores e especialistas de várias áreas que abraçaram a ideia para minimizar a transmissão do vírus.

A engenheira biomédica Erlane Motta é uma das idealizadoras do projeto, apesar de preferir dizer que se trata de uma ação coletiva que começou tímida e conta agora com pelo menos 200 participantes. À frente da coordenação da iniciativa, ela explica que toda a mobilização tem sido feita em grupos.

“Eu conheço poucas pessoas, mas nos organizamos em diferentes grupos e está funcionando. Cada um em casa, fazendo a própria parte, seja na pesquisa, na fabricação, na divulgação, no levantamento de dados e em várias outras frentes”.

De acordo com os participantes, há uma carência por máscaras capazes de reter gotículas de saliva dos doentes, o que coloca profissionais de saúde em risco de contágio da Covid-19, assim como os acompanhantes das pessoas infectadas. 

“Essa máscara segue as normas da Anvisa. Nas impressoras 3D são feitas as hastes, de acordo com as especificações. Em máquinas a laser são feitos os cortes nas folhas de acetato utilizadas nas máscaras”, explica o professor Pedro Almeida, diretor do campus JK da Funorte.

Sensibilizada com a iniciativa, a instituição cedeu as próprias impressoras 3D para a fabricação das hastes. Segundo o professor, cada máquina é capaz de produzir até quatro peças em 90 minutos. Já Erlane conta ter ficado surpresa com o número de equipamentos na região. “Acreditávamos que teríamos umas cinco impressoras, mas já contamos com 16 e podemos chegar a 20. A maioria das máquinas é de engenheiros que resolveram entrar nessa corrente”, diz.

O processo de produção exige uma logística que não viole a quarentena. As peças são recolhidas ao fim do dia e levadas a um laboratório em Bocaiúva, onde têm a qualidade validada e depois são montadas, voltando a Montes Claros já embaladas para distribuição. 

O plano do projeto SerTão é garantir um mínimo de máscaras para a rede de saúde da região. “Qualquer unidade já ajuda. Estamos focando no atendimento mínimo para chegar ao ideal, mas temos que ter certeza da qualidade, pois são equipamentos de proteção”, enfatiza Erlane.

Insumos
O professor Pedro Almeida também explica que o grupo está se mobilizando para conseguir insumos como as bobinas das impressoras e o próprio acetato. “Como estamos produzindo de acordo com a norma da Anvisa, precisamos conseguir os materiais certos. O acetato tem uma espessura correta para uso nas máscaras, que às vezes é diferente da que temos disponível”, explica.

Dos diversos grupos formados, há um time que está atuando na manutenção dos respiradores da rede hospitalar. Segundo os integrantes do SerTão, há equipamentos danificados e antigos que precisam ser recuperados. De acordo com Erlane, o objetivo é ampliar a oferta de respiradores. “Estamos projetando o uso de cada máquina para dois pacientes, que é o que tem sido feito”, aponta. Parafraseando a engenheira: “É o poder da internet de fazer uma revolução sem precisarmos nos levantar da cadeira”. 

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