Reflexos do isolamento social na vida dos adolescentes preocupam pais e especialistas

Patrícia Santos Dumont
pdumont@hojeemdia.com.br | @patriciafsdumont
26/07/2020 às 06:00.
Atualizado em 27/10/2021 às 04:07
 (Pexels/Divulgação)

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Privados de encontrar os amigos, afastados da sala de aula e com o futuro escolar incerto, adolescentes dos quatro cantos do mundo se viram obrigados a repensar e reorganizar não só as próprias rotinas, mas a forma de encará-las. Emocionalmente mais sensíveis, dadas as transformações inerentes a essa fase da vida, vêm despertando preocupação nos pais e em especialistas, que avaliam como se comportará a geração no pós-pandemia.

Membro da Federação Latino-americana de Psiquiatria da Infância e da Adolescência e da Associação Brasileira de Psiquiatria, Ana Christina Mageste diz que, ao lado dos profissionais de saúde, crianças e adolescentes estão entre os mais vulneráveis, sujeitos a crises de ansiedade, fobias, depressão e transtorno de estresse pós-traumático. 

“Deixaram e deixarão de viver rituais típicos, como as festas de 15 anos, as formaturas, viagens e encontros entre amigos. E isso tudo gera um vazio interno muito grande. Muitas pesquisas já apontam, inclusive, para um aumento no uso de drogas e álcool. A grande preocupação é saber como se comportarão no pós-pandemia”, coloca a psiquiatra.

Ansiedade e depressão

Também psiquiatra, especialista no atendimento de crianças e adolescentes, Jaqueline Bifano chama a atenção para possíveis gatilhos para transtornos mentais no present e no futuro. “Limiar muito baixo para irritabilidade, perda de interesse por coisas que gostava, choro fácil, alterações no apetite, além de sintomas físicos como taquicardia, tremor, dor de cabeça e tontura”, pontua a profissional, descrevendo sintomas que podem denotar depressão e ansiedade.Pexels/Divulgação

Ao lado de profissionais de saúde, crianças e adolescentes estão entre os mais afetados pelo isolamento social imposto pela pandemia, dizem especialistas

Os amigos Laura Condé Junqueira e Pedro Vieira Escuin Gonçalves, de 17 anos, têm passado por meses turbulentos dentro de casa. A queixa comum é justamente a ansiedade, que procuram driblar vivendo o presente sem fazer tantos planos para o futuro.

“Quando (a ansiedade) bate, paro de estudar porque fica realmente impossível. Vejo um filme, escuto música ou converso com as amigas, todas passando pela mesma situação”, conta Laura.

Pedro, por sua vez, tenta se agarrar à máxima de que "o futuro a Deus pertence”. Já parei para pensar em como as coisas serão, mas é tudo muito incerto. Não sabemos como será a flexibilização do isolamento. Tudo influencia a liberdade que teremos”, diz o garoto, que precisou se reinventar para manter o ritmo dos estudos para o vestibular de Medicina. 

Professora-adjunta no Departamento de Pediatria da UFMG, Ana Maria Costa da Silva Lopes diz que, embora os adolescente estejam mais vulneráveis às repercussões emocionais trazidas pela pandemia, é importante ponderar que alguns poderão transformar as situações adversas em resoluções. “Apresentando o que denominamos como resiliência, a capacidade de adaptação”, acrescenta.

Fique por dentro:

Um grupo de pesquisadores do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP lançou um site para monitorar a saúde mental de crianças e adolescentes brasileiros durante e passada a pandemia do novo coronavírus. O projeto – disponível em jovensnapandemia.com.br – tem como objetivo avaliar os impactos do isolamento social em crianças e adolescentes, de 5 a 17 anos, incluindo reações de estresse que podem levar a problemas  mais graves.

Crianças e adolescentes cadastrados serão monitorados por 12 meses a partir das questões respondidas pelos pais. O preenchimento do questionário inicial dura cerca de 20 minutos e dos seguintes, cerca de 5. As crianças também serão convidadas a participar de um jogo virtual para avaliar a flexibilidade do pensamento delas durante a pandemia.

Após iniciar a participação e preencher os dados, o participante (pai ou mãe) receberá por e-mail informações sobre como está o comportamento do (a) filho (a) comparado aos padrões da população. Os dados individualizados serão disponibilizados apenas para os respectivos pais e, futuramente, integrarão uma pesquisa mais completa.

Novos questionários serão aplicados a quem se dispuser a participar da pesquisa a cada 15 dias, enquanto durar o confinamento, e, depois, mensalmente, até completar 1 ano.

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