Ritmo para aprender: música ajuda no desenvolvimento cognitivo, motor, social e emocional

Patrícia Santos Dumont
03/10/2019 às 15:14.
Atualizado em 05/09/2021 às 22:03
 (Riva Moreira)

(Riva Moreira)

Responsável por embalar diferentes momentos, despertando emoções e trazendo à tona lembranças diversas, a música é também poderosa ferramenta de aprendizado. Quando inserida nos primeiros anos de vida da criança, ajuda no desenvolvimento cognitivo, motor, fisiológico, emocional e social.

Pesquisas em neurociência comprovam, inclusive, que as canções, sejam acompanhadas ou não por vozes, são a atividade humana que mais consegue mobilizar praticamente todas as áreas do cérebro ao mesmo tempo. “Forma de potencializar funções básicas como memória e atenção”, reforça a doutora em Ciências da Saúde Betânia Parizzi, professora associada da Escola de Música da UFMG. 

Segundo a profissional, apresentar os sons desde cedo faz toda a diferença no processo de aprendizagem e desenvolvimento infantil. “O primeiro contato do feto com o mundo exterior é pela audição, a partir da 20ª semana de gestação. Os bebês vêm ao mundo com memórias e preferências pelo que ouviram antes mesmo de nascer”, explica, acrescentando que o gosto musical é, portanto, de certa forma uma responsabilidade dos pais.

Desde cedo

A analista de inovação Luiza Freire Vidigal, de 33 anos, sabe bem disso. Prova é que ela e o marido, Roberto Abou Id Dabés, de 37, começaram, bem cedo, a “moldar” o gosto do primogênito Henrique, de 2 anos. Apaixonado por música, o menino tem guitarra, violão, pandeiro, flauta, piano e até bateria, além de viver cantarolando repertório que vai de Beatles a Queen. 

“Temos convicção de que ajuda em todos os sentidos, desde que seja de qualidade”, frisa Luiza.Riva Moreira

Henrique, de 2 anos, foi apresentado, antes mesmo de nascer, às músicas prediletas dos pais, Luiza e Roberto; hoje, além de cantarolar as melodias, toca diferentes instrumentos, incluindo bateria

E ela está certa. “Devemos oferecer às crianças diversidade musical, obras que tenham algo a dizer. Existem inúmeras músicas maravilhosas! Deve-se levar o rock de boa qualidade, o samba, MPB, música étnica e, principalmente, erudita”, detalha Betânia Parizzi, sugerindo a playlist “ideal”. 

Presidente do Departamento Científico da Primeira Infância da Sociedade Mineira de Pediatria, Laís Maria Santos e Valadares explica que as janelas cerebrais estão mais abertas nos primeiros três anos de vida, quando as conexões dos neurônios estão também mais intensas.

“Crianças que tocam instrumentoresidente do Departamento Científico da Primeira Infância da Sociedade Mineira de Pediatria

“A criança chega ao mundo com um conjunto de potencialidades, que se desenvolvem ou não, conforme os estímulos recebidos e a interação com o outro. É cientificamente comprovado que as que tocam instrumento ou têm aprendizado neste sentido, antes dos 5 anos, apresentam a área frontal do cérebro, responsável por conhecimentos lógico e abstrato, mais desenvolvida”, acrescenta.

Psicóloga especializada em atendimento sistêmi-co, Carolina Ratton reforça: o simples ato de ouvir uma música é o suficiente para estimular as conexões cerebrais, influenciando nos estados de alerta (canções com andamentos mais rápidos) e de relaxamento (geralmente mais lentas), facilitando a concentração ou a euforia.

Bebês

Nos bebês, o estímulo musical deve explorar mais do que só sons, mas também incluir diferentes formas sensoriais, como apelos visuais, táteis e motores. A recomendação dos especialistas é para que as músicas sejam inseridas nos rituais do cotidiano, como na hora do banho, ao deitar para dormir, durante as refeições e nas brincadeiras.

Influência pelo gosto dos pais só é possível até os 10 anos

Embora mais de 80% dos pais desejem influenciar os filhos com as músicas que eles mesmos têm o hábito de ouvir, passar para frente os interesses pessoais só é efetivamente possível até os 10 anos. A comprovação é de uma pesquisa divulgada recentemente pelo Deezer – serviço de <CF36>streaming</CF> com o segundo maior número de usuários no mundo.

Conforme o levantamento, até esta faixa etária as crianças estão mais receptivas às influências externas (confira no infográfico no fim da matéria). A razão é simples, explicam especialistas que analisaram os resultados da pesquisa. “A partir dos 10, 11 anos, a criança atinge, cada vez mais, autonomia para frequentar contextos sociais diversificados, incluindo-se aí as mídias sociais. Neste momento, ampliam-se e fortalecem-se as influências não apenas em relação às escolhas musicais”, explica Betânia Parizzi, professora de música na UFMG. 

Para a profissional, o resultado reforça a importância de se fazer escolhas permanentes e refinadas com base numa boa educação musical. “Músicas ouvidas em casa e cantadas pela mãe na gestação formarão o repertório inicial de memórias musicais do bebê e, certamente, definirão o gosto e as escolhas da criança”, justifica.

Escolhas diversas

Psicóloga especializada em atendimento sistêmico, Carolina Ratton vai além, reforçando que a influência dos pais sobre as escolhas dos filhos, nessa idade, referem-se não só à música, abarcando diferentes aspectos da vida.

“Roupas, alimentos, dentre outros. Essa é a idade na qual as crianças começam a explorar e valorizar o mundo ampliado, aquilo que vai além do que é familiar, que é apresentado por colegas e amigos”, avalia a profissional. Editoria de Arte

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