Sinta-se em casa: mudanças no ambiente de trabalho aumentam bem-estar e produtividade

Patrícia Santos Dumont
pdumont@hojeemdia.com.br
01/11/2018 às 14:16.
Atualizado em 28/10/2021 às 01:33
 (Pinterest/Divulgação)

(Pinterest/Divulgação)

O tempo cada vez maior que passamos no local de trabalho tem transformado não só as relações entre funcionários como influenciado a forma como os ambientes são concebidos. Mais humanizados, privilegiam iluminação natural, cores acolhedoras, presença de plantas e mobiliário leve e moderno.

O objetivo principal é que o espaço – seja o escritório de uma grande empresa, a recepção de um hotel ou de um hospital ou até mesmo a sala de um call center – reproduza características antes consideradas exclusivas da própria casa. A ideia, explica o arquiteto Junior Piacesi, é a de que o ambiente seja capaz de aumentar a interação do indivíduo com o espaço.

“Deve ser pensado como um todo. Da cor das paredes, decoração e disposição dos móveis à iluminação, afinal a experiência humana é construída a partir de respostas sensoriais aos estímulos externos”, afirma. 

Adepto de conceitos como biofilia e neuroarquitetura, ele lembra que o espaço influencia diretamente no estado emocional, produtividade, sensibilidade, criatividade, entrosamento e empatia dos colaboradores. “Valores que são extremamente buscados pelas empresas e que o ambiente acaba, muitas vezes, por desestimular”, acrescenta.

Parede verde

Uma das dicas do profissional é privilegiar sempre que possível o verde nas áreas internas. Capazes de aumentar a sensação de bem-estar, promovendo criatividade, motivação e felicidade, plantas podem ser usadas pontualmente ou em paredes inteiras.

“Ajudam a melhorar o isolamento acústico e favorecem a concentração. Dividir o ambiente com elas também reduz a ideia de isolamento”, explica o arquiteto. 

Junior Piacesi também ressalta a importância de o projeto contemplar a organização das coisas. Mais compactos, assim como as residências, ambientes corporativos modernos devem ter cada cantinho aproveitado da melhor forma possível. 

“Estantes modulares que se deslocam ajudam na organização e na divisão do espaço, e nichos abertos facilitam a visualização rápida de itens de uso constante”.

Ergonomia

Sócia no escritório Ágille Arquitetura, em Belo Horizonte, a designer de interiores Flaviane Pereira também chama atenção para a ergonomia do mobiliário usado – quesito fundamental, independentemente da cara que se deseja dar ao espaço.

“Ergonomia, layout, circulação dos móveis, espaço entre mesas, dimensões mínimas, tamanhos. Tudo isso segue normas da ABNT, assim como as técnicas de iluminação, que também são específicas para os locais de trabalho”, explica a profissional. 

Segundo ela, deixar um ambiente mais humano e acolhedor é possível com estratégias simples. Madeira e carpete (que não caiu em desuso), por exemplo, proporcionam sensação de aconchego. Da mesma forma, tons mais claros, pasteis e terrosos. 

No piso, a profissional recomenda o uso de vinílicos, que são emborrachados, de pedras naturais e do porcelanato, que se transformou em um curinga da decoração. Laminados e madeira, por sua vez, não são indicados. 

“Mais do que a sofisticação do ambiente, é importante levar em conta também a linguagem que se deseja passar e a relação daquele projeto com os valores da empresa. Cada local tem uma mensagem”, acrescenta. 

Espaços devem proporcionar acolhimento e aconchego

Acolhimento é, na avaliação da arquiteta Estela Netto, palavra de ordem para transformar locais de trabalho em ambientes realmente especiais do ponto de vista afetivo. segundo ela, projeto luminotécnico mais aconchegante, aplicação de papel de parede e escolha de mobiliário estofado são alternativas pontuais e que devem ser consideradas.

“Não existe mais aquele estereótipo de mundo do trabalho e mundo residencial. Atualmente, esses conceitos estão se misturando. Antes, as cores eram frias e a luz era mais branca, o que estimulava muito as pessoas. Hoje, o projeto (de iluminação) é muito mais aconchegante, eficiente nas áreas que precisam de mais luz, mas mais confortável também”, explica a profissional. 

Para ela, também é fundamental projetar e incluir áreas que proporcionem interação entre os funcionários como forma de permitir a troca de experiências e o relaxamento, quando necessário. 

“Do ponto de vista empresarial é muito interessante, pois promove a troca de conhecimentos entre a equipe, maior patrimônio da empresa. Também não deixa de ser uma solução para fazer com que o local fique mais aconchegante e acolhedor”, afirma. 

Extensão de casa

Responsável por assinar o projeto arquitetônico do Lifecenter Exclusive, ala de luxo do hospital de mesmo nome, no bairro Serra, Zona Sul de Belo Horizonte, ela ressalta que não deixou de considerar aspectos específicos de áreas corporativas voltadas para saúde e bem-estar, mas que levou em conta a importância de criar uma espécie de extensão da casa para colaboradores e pacientes. 

“Pensei o tempo inteiro em uma arquitetura que fosse voltada para o acolhimento, pois quando procuramos um médico, fazemos uma cirurgia, de modo geral, estamos mais fragilizados. Imprimi o conceito de extensão da casa, com iluminação quente, papel de parede vinílico, que facilita a limpeza, mas parece um linho, e mobiliário moderno. Nos quartos, o que muda é só a cama”, descreve a arquiteta. 

A recepção do novo andar do hospital também reproduz o conceito. Daniel Mansur

LIFECENTER EXCLUSIVE
Andar de luxo do hospital do bairro Serra, em BH, tem iluminação quente, papel de parede vinílico, que parece linho, e mobiliário moderno; conceito inclui recepção e quartos

Ponto a ponto:

Em 2014, iniciativas capazes de reduzir os impactos negativos dos locais de trabalho na saúde e na produtividade dos colaboradores foram compiladas pelo World Green Building Council no relatório “Saúde, bem-estar e produtividade em escritórios”. Confira algumas:

– Qualidade do ar interno: a baixa concentração de gás carbônico e de poluentes no ar em resposta ao aumento das taxas de renovação pelo sistema de ar-condicionado pode aumentar a produtividade em quase 20%. 

– Conforto térmico: ambientes termicamente confortáveis impactam diretamente na satisfação de quem os ocupa. Estudos mostram que a performance em ambientes quentes pode cair até 6% e em locais frios, 4%.

– Ruído e acústica: ser produtivo fica praticamente impossível quando um ruído produz distrações constantes e indesejadas. Quanto melhor a acústica do ambiente, portanto, maior a satisfação dos funcionários. 

– Biofilia: fazer do ambiente corporativo uma continuidade do ambiente externo propicia maior conforto e produtividade. A presença de plantas aumenta em cerca de 6% a produtividade dos colaboradores, em 15% a sensação de bem-estar e em 15% a criatividade.

– Layout: a forma como um escritório está configurado afeta a concentração, a colaboração, a confidencialidade e a criatividade dos ocupantes. Locais com áreas de interação e lazer aumentam em até 18% a coesão dos colaboradores e minimizam em 6% o estresse

Confira alguns ambientes e dicas de como adpatá-los:Pinterest/Divulgação

BIOFILIA
Quanto mais plantas estiverem presentes, melhor. Verde natural dá sensação de bem-estar e favorece inclusive a concentraçãoDaniel Mansur/DivulgaçãoPROJETO LUMINOTÉCNICO
Diferentes tipos de iluminação, incluindo acessórios como lustres e pendentes, sejam eles de teto ou chão, criam "cenas" ideias para cada situação e função e privilegiam conforto do funcionárioHenrique Queiroga/Divulgação IDENTIDADE Ambiente deve preservar identidade da empresa, como neste projeto, que prioriza cores e brinquedos, por se tratar de um espaço para atendimento infantilHenrique Queiroga/DivulgaçãoMOBILIÁRIO Móveis leves, modernos, que antes eram exclusividade de dentro de casa, agora aparecem nos escritórios e locais de trabalhoPinterest/Divulgação

NATURAL
Escritório apostou no jardim de inverno como fonte de luz natural, tão importantes em locais de trabalho. Persiana rolô foi instalada para barrar claridade quando necessário

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