‘Sofrência no topo’: por que o sertanejo dita as regras da música brasileira?

Thiago Prata
@ThiagoPrata7
23/12/2020 às 20:05.
Atualizado em 27/10/2021 às 05:23
 (Divulgação)

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A maioria do povo brasileiro gosta de ouvir uma “sofrência”. Pelo menos, é o que indica o Spotify, que divulgou em 1° de dezembro a lista de artistas, álbuns, músicas e podcasts mais ouvidos em 2020 na plataforma. A música sertaneja é o estilo com maior quantidade de artistas no top 10, com Marília Mendonça no alto do ranking nacional. Henrique & Juliano e Gusttavo Lima ficam com as medalhas de prata e bronze, respectivamente.

O Brasil vai na contramão de uma tendência do resto do planeta. Em âmbito mundial, quem dá as cartas são gêneros como reggaeton, pop e rap: artistas como o porto-riquenho Bad Bunny, o canadense Drake e o colombiano J Balvin ocupam as três primeiras posições; as cantoras norte-americanas Billie Eilish e Taylor Swift também estão bem ranqueadas.Divulgação

Marília Mendonça é a artista mais ouvida no Brasil pela plataforma Spotify

Tendência

Além de Marília Mendonça, Henrique & Juliano e Gusttavo Lima, outros sertanejos marcam presença no top 10 nacional. Casos de Zé Neto & Cristiano, Jorge & Mateus, Matheus & Kauan e Maiara & Maraisa.

Como esses artistas e mais uma leva do segmento seguem no gosto da população, a tendência é que em 2021 o sertanejo continue ditando as regras do jogo.

Segundo Alex, da dupla mineira Alan & Alex, há uma explicação para a hegemonia desse gênero musical. “É a única música que perdurou. O axé, infelizmente, virou o que virou; o rock nacional, a mesma coisa. O pagode conta com quatro ou cinco peças. E a música sertaneja tem 15 a 20 grandes artistas, mais shows (antes da pandemia), é o estilo que mais investe, mais trabalha rádio e mídias sociais, mais interage com os fãs... Isso, há 15, 20 anos”, define.

O estilo, inclusive, vem sendo alvo de comentários positivos de artistas de outras vertentes, como Caetano Veloso e Roberto Carlos, o que ajuda a “legitimar” sua importância na música popular.

O outro lado da moeda

Já o jornalista, crítico cultural e criador do site Esquina Musical Raphael Vidigal faz uma análise bem diferente. “O domínio do chamado sertanejo universitário nas atuais paradas de sucesso tem a ver com a estrutura da indústria do entretenimento, que intensificou seu processo de acúmulo de informações em pouco tempo. Quando tudo é dispersivo e o mundo do trabalho se torna cada vez mais exaustivo para os empregados, a música se torna, na vida da maioria das pessoas, mero escape. E, para esvaziar a cabeça, nada mais indicado do que uma música superficial, cheia de clichês, que dispensa a concentração”, comenta.

E prossegue: “Como costuma acontecer com as músicas espalhadas em alta escala, o sertanejo universitário recicla comportamentos arraigados no conservadorismo nacional. A indústria não quer mudança, mas alienação. Isso explica, em parte, o sucesso do sertanejo de consumo”.

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