Tesouro organizado: coleção não precisa ser sinônimo de bagunça e pode até decorar o lar

Patrícia Santos Dumont
11/01/2019 às 12:49.
Atualizado em 05/09/2021 às 15:59
 (Flávio Tavares)

(Flávio Tavares)

Acervo com significado afetivo, coleções não precisam ser um monte de peças acumuladas. Organizadas e preservadas da forma correta, com cuidado e limpeza necessários, podem virar, inclusive, parte da decoração de casa. Fragmentos de viagens, retrato de momentos significativos da vida dos donos, as peças ajudam a contar histórias. 

Diferentemente de acumuladores, colecionadores sabem exatamente o que entra e sai de casa. Com poder de decisão sobre as peças que elegeram para cultuar, definem quando (e se) deixarão de adquirir novos objetos e têm bom planejamento na hora de incrementar o acervo.

“No começo, a gente compra tudo o que vê na reta. Hoje, se gosto de algo, tiro uma foto e volto em casa para ver se não tenho igual. Se ganho repetido, passo para frente”, revela a designer Mary Arantes, que, influenciada por uma amiga, coleciona pinguins há cerca de 15 anos.

Dispostas criteriosamente pela cozinha da casa da dona, as mais de 300 peças são separadas em prateleiras ou deixadas sobre a geladeira conforme tamanho, estilo, pela combinação de cores ou até mesmo pelo significado que têm. Flávio Tavares

PINGUINS - Mary Arantes guarda mais de 300 peças na cozinha de casa. Cada exemplar do acervo preserva uma história interessante e até curiosa sobre a vida da designer. Caso de uma tela pintada e presenteada por um amigo do filho, e que ela não teve a oportunidade de conhecer, e de um pato entregue por uma amiga como se fosse um pinguim. “Ele é de madeira e fica em cima da geladeira. Tenho certeza de que a Nara Terra me deu acreditando que era um pinguim. Nunca comentei nada com ela”, revela, aos risos. A coleção também inclui peças super delicadas, que são armazenadas numa cristaleira.

Para manter o acervo em ordem, Mary também providencia um “banho coletivo” nas peças pelo menos quatro vezes ao ano. Função para profissional contratada especialmente para higienizar os adornos. 

Colocamos uma bacia de água em cima da mesa e passamos o dia limpando cada um deles”, detalha a designer. Ela conta que costuma ser presenteada com oito a nove peças a cada aniversário.

De família 

Filha de pai fazendeiro, a paisagista Marília Porto Buzatti seguiu os passos do genitor ao iniciar uma coleção de peças decorativas de cavalos. Ela conta, com carinho, das lembranças de infância e dos momentos que, ao longo dos últimos 15 anos, resultaram no acervo que soma, hoje, cerca de 50 peças dos mais variados perfis. 

“Sempre fui apaixonada por cavalos e acho que, de certa forma, eles também acabam chegando até mim. Lembro-me muito bem de papai comercializando e das tropas que traziam mercadorias de São Paulo. É um bicho nobre, imponente. Um animal soberbo”, diz. Riva Moreira

MEMÓRIA AFETIVA - Paixão por cavalos, animal criado pelo pai, deu origem ao acervo da paisagista Marília Buzatti, que tem mais de 40 peças decorativas espalhadas pela casa

Dentre os exemplares distribuídos pela área social da casa estão verdadeiras joias, como a que ganhou de presente do marido em uma viagem à Áustria. Esculpida em cristal Swarovski – arrematado na loja da marca na capital, Viena –, é guardada a sete chaves. “É meu xodó. Se menino pegar, morro de paixão”, brinca, referindo-se ao neto caçula, que tem 2 anos.

Peças luxuosas, trazidas da Índia, da Alemanha, da Itália e até da China, se juntam a outras, de menor valor comercial, mas igual significado afetivo, ganhadas dos filhos ou compradas no Brasil mesmo. 

Para a paisagista, cada uma guarda uma importância. “Todas têm uma história para contar, seja de uma viagem ou de uma compra despretensiosa, num momento qualquer. O valor é inestimável”, afirma Marília. 

Ela diz que escolhe as peças com base na postura do animal – quanto mais elegante, mais cobiçada. 

Apaixonado pelo Predador, bancário fabrica e vende figuras

Aficionado pelo protagonista d’O Predador – filme de 1987 estrelado por Arnold Schwarzenegger –, o bancário Hugo Leonardo de Oliveira, de 34 anos, ultrapassou os limites do colecionismo ao transformar a paixão pela figura em segunda profissão.

Dono de um acervo que, por enquanto, reúne mais de 320 peças, dentre itens que vão de 30 centímetros a quase 1 metro de altura, ele revende figuras repetidas, adquiridas em lotes fechados de peças, e comercializa artigos fabricados por um parceiro e que levam a marca dele, todos feitos em gesso. 

“Quando compro um lote, mas vem alguma repetida, revendo. Me inspirei num colecionador que tinha esse formato de vendas pelo Facebook. Atualmente, nem preciso buscar clientes. Eles mesmos chegam até mim”, revela.

Para quem pensa que as figuras são iguais ou altamente semelhantes, uma explicação. Segundo Hugo, conhecido em Belo Horizonte pelo hobby, existem inúmeros tipos de Predador, que se diferenciam, ainda, pela posição que reproduzem em relação às cenas dos filmes. A variação também passa pelo preço de mercado – R$ 150 a R$ 1.500. 

O colecionador, que é cosplayer da figura favorita, ou seja, se fantasia de Predador para aparições em festas e eventos, conta que dedica pelo menos cinco horas do dia à paixão pelos objetos. “Pela manhã, basicamente me dedico a isso. Gerencio grupos de leilões, busco figuras para negociação e atendo clientes”, detalha.

De olho na ampliação do acervo, Hugo já planeja uma reforma no quarto onde expõe as peças. “Enquanto a Neca (principal fabricante) estiver produzindo, vou continuar a coleção. Agora, mais ainda, já que também tenho as que faço. Com certeza o espaço terá que ser ajustado”.Flávio Tavares

MAIS QUE HOBBY - Paixão de Hugo pelo protagonista do filme O Predador virou segunda profissão e “carreira” paralela de cosplayer; bancário tem mais de 320 figuras guardadas em casa

Além disso:

Psicóloga especializada em psicologia positiva, Daniela Queiroz explica que colecionadores e acumuladores se diferenciam pelo poder de decisão sobre o que entra e sai de casa e pelo orgulho (ou vergonha) que sentem das peças guardadas. Embora ambos mantenham relação afetiva com os objetos, somente colecionadores são capazes de usar a razão ao definir o que fica ou sai.

“Para o acumulador, não há critério de escolha. Assim, haverá sofrimento se, por exemplo, alguém quiser tirar os objetos dele. É como se ficasse mentalmente desorganizado. Já o colecionador tem apreço pelos objetos e faz disso um hobby, com consciência e sensatez”, acrescenta. Segundo a psicóloga, acumuladores costumam preferir o isolamento, justamente por sentirem vergonha do próprio comportamento. Podem apresentar depressão ou Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC).

Dentro de casa, a dica da designer de interiores Fabiana Visacro para quem quer colocar a coleção à mostra é avaliar se o acervo é compatível com o estilo do ambiente escolhido. Segundo ela, é preciso haver compatibilidade entre o tema da exposição e a cara do espaço. “Coleção é algo muito bacana, mas é o tipo de coisa com o qual devemos ter muito cuidado para não dar sensação de desorganização. Uma coleção de relógios, por exemplo, fica super bacana quando exposta numa parede. Já um acervo de Barbies, que é bem pessoal e íntimo, é preferível que esteja no closet”, ensina.Flávio TavaresCAIXAS E LATAS - Pedagoga Aline Melo Rezende, de 35 anos, coleciona caixinhas de papel, latas, baús e recipientes de diferentes materiais. Grande parte do acervo chegou às mãos dela embrulhando presentes. Um dos primeiros foi uma caixa de sapato com o nome “Lili” (apelido dela). “Uma das peças mais importantes, que ganhei de uma amiga há mais de dez anos”, conta. A coleção inclui latas de bala, chocolate e uísque, além de presentes do marido, como um potinho feito de casca de laranja. Na casa nova, Aline planeja agrupar tudo num espaço só. “Um armário daqueles tipo cristaleira, com chave e tudo”, adianta.

Leia mais:

Confira na galeria de fotos mais imagens das coleções dos personagens:

Compartilhar
Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por