Um 'sim' para si: aceitar-se é fundamental para descobrir melhor versão e elevar autoestima

Patrícia Santos Dumont
pdumont@hojeemdia.com.br
22/07/2018 às 06:00.
Atualizado em 10/11/2021 às 01:31
 (Ivna Sá/Divulgação)

(Ivna Sá/Divulgação)

Num mundo que supervaloriza a aparência, sobretudo das mulheres, não é de se estranhar que muitas não consigam fazer as pazes com a própria autoestima. Diante de cliques compartilhados nas redes sociais e de “modelos” que reproduzem padrões estéticos considerados perfeitos, enxergar a real beleza torna-se um exercício difícil – mas cada vez mais necessário para quem quer se valorizar, dizem especialistas.

“A imagem que vemos no espelho reflete a nossa autoestima, a forma como nos vemos por dentro. Logo, a mulher enxerga na estética dela o que sente por si mesma e a forma como se percebe no mundo”, diz a psicóloga Daniela Bittar.

Uma das criadoras do grupo Gamas – que promove encontros para apoiar mulheres e mães em Belo Horizonte –, ela reforça a importância da autoaceitação a partir do fortalecimento do amor próprio. 

“Primeiro se (a mulher) aceita como é, passa a se amar e a entender os defeitos, os buracos que tem. Então, consegue olhar para si mesma e se enxergar com clareza. Construir uma imagem para satisfazer o interno é uma angústia sem fim”, sintetiza.

Trajetória individual

Profissional atuante no mesmo grupo, a psicóloga Daniela Salum reforça a reflexão. Na opinião dela, a beleza real mora na autoaprovação e não na necessidade de se colocar bela ou esteticamente perfeita à espera do “ok” do outro. 

“A sociedade nos impõe modelos o tempo todo. E, muitas vezes, não conseguimos entrar num padrão imposto, seja por ter um tipo de corpo diferente, pelos filhos ou pelo próprio emocional, já fragilizado. Precisamos encontrar um equilíbrio e aceitar o que damos conta. Quando a mulher não consegue se aceitar e encontrar o que é melhor dentro de si, torna-se impossível dar um passo adiante”, diz.

Especialista no atendimento a mulheres, Karina Mendicino vai além. Psicóloga com mestrado em gênero e pós-graduação em andamento em antropologia da mulher, ela diz que a concretização da real beleza é um caminho que deve ser construído com base na trajetória de cada uma.

“Para que eu consiga me olhar no espelho e me achar interessante, estar satisfeita com o que vejo, preciso ter uma base fortalecida e isso tem a ver com meu histórico de vida, com minhas experiências. Autoestima é algo muito mais profundo do que estar enquadrada no que a sociedade determina como padrão feminino de beleza. É preciso tirar a lupa do que definimos como defeito e nos concentrar naquilo que agrada”, reforça. 

Karina é idealizadora do projeto Ser Inteira, em BH, cujo objetivo é ajudar as mulheres no resgate da força interna individual e na libertação de padrões e bloqueios emocionais.

Ser único

Coach com trabalho voltado especificamente para mulheres, Daiana Demenighi também chama a atenção para o que considera mais valioso na mulher: a possibilidade de ser única e incomparável. 

“A autoestima feminina está muito mais ligada ao autoconhecimento e à aceitação de quem se é do que a qualquer outra coisa. O fortalecimento dela só acontece quando conseguimos ver nosso potencial único e entender que não existe comparação nem competição. Nunca seremos iguais às outras”, enfatiza. 

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 Evento vai discutir a real beleza que existe em cada mulher

Belo-horizontina especializada em clicar mulheres, Ivna Sá decidiu extrair das imagens capturadas ao longo dos 12 anos dedicados à fotografia o material necessário para um seminário exclusivo para elas. O evento acontece em BH no próximo mês.

“Viva a sua Real Beleza”, como foi batizado, será realizado em 4 de agosto, no bairro Coração Eucarístico (Noroeste), e tem como mote a complexidade do feminino e a beleza do que é ser mulher. A ideia é propor a vivência, por meio de debates e rodas de conversas, e um diálogo aberto sobre o tema, proporcionando uma transformação nas mulheres presentes. 

“Sempre tive vontade de fazer um evento nesses moldes, exclusivo para mulheres. E meu objetivo é levar a uma transformação total, fazer com que cada uma entre de uma forma e saia de outra. Entendo que toda mulher tem uma beleza que é só dela e que está do lado de dentro, não fora”, explica a profissional.

No trabalho dela, o principal é extrair a beleza de cada modelo da maneira mais genuína possível e sem retoques.

“A beleza que fotografo não está no corpo sarado, nas plásticas, no silicone nem nos padrões de beleza que estão por aí. Fotografo mulheres de todas as idades, de diversos estilos, de diferentes raças, que se dizem fotogênicas ou que detestam fotos. Aprendi que fotografia é conexão. Gostar de si mesma é o primeiro passo para que a mulher cuide dela mesma”, reforça. 

Em pauta

No evento realizado na capital, participantes convidadas e as inscritas terão a chance de debater a beleza feminina sob quatro aspectos: imagem (Minha imagem reflete a minha identidade?), autoestima (Beleza apesar de...), cuidado (Corpo, o templo sagrado da minha existência) e leveza (A sustentável leveza de ser). 

Além disso, serão discutidos trechos do livro escrito pela idealizadora e por Raquel Araújo – “A Vida que pulsa em nós”, lançado na ocasião. A obra foi construída em formato de cartas e traz temas como felicidade, o sentido do sofrimento, o desafio de educar e a comunicação do amor. Ivna Sá/Divulgação

NATURALIDADE – Clicks ressaltam sutileza e singularidade da beleza feminina: “a beleza que fotografo não está no corpo sarado, nas plásticas, no silicone. Fotografia é conexão”, diz Ivna

Além disso:

Durante o Viva a sua Real Beleza, convidadas darão palestrar sobre autoestima, leveza, cuidado e imagem. Uma das participantes é a nutricionista comportamental Danielle Gusmão, que abordará a importância da alimentação individualizada, consciente e intuitiva. “Proponho um olhar voltado para dentro, sem medo, julgamento, mas com acolhimento, compaixão e cuidado, prestando atenção aos sinais que nosso corpo dá”, explica. 

Além dos bate-papos e das rodas de conversa, serão sorteados mais de 70 brindes, incluindo um “prêmio master”, entregue a uma única participante. Dentre os mimos estão ensaio fotográfico com direito a videoclipe, cabelo e maquiagem, consultoria de imagem e estilo, sessão de coaching para reconhecimento e eliminação de autosabotadores, massagens e drenagens linfáticas.

“Entendo que cada mulher tem uma beleza que é só dela e quero contribuir para que descubram suas melhores versões. É uma programação voltada para que se amem, se cuidem, se aceitem”, adianta Ivna Sá.

A fotógrafa também preparou uma exposição com 14 imagens feitas por ela ao longo dos 12 anos de carreira. O evento vai das 8h às 18h e acontece no auditório do Instituto Santo Tomás de Aquino. Inscreva-se aqui. Ivna Sá/Divulgação

ESPONTANEIDADE – Trabalho de Ivna Sá, que há 12 anos fotografa mulheres, consiste em extrair de cada uma o que há de melhor e mais bonito; seleção de fotografias, como a de Ilmara Augusta, estará exposta no evento de 4 de agosto

Ponto a ponto:

Pioneira no segmento de cosméticos e cuidados pessoais ao lançar uma campanha publicitária que jogava luz sobre o dilema feminino entre beleza e autoestima, a Dove colocou no mercado, há 14 anos, o conceito “Campanha pela Real Beleza”. Empresa de higiene pessoal do grupo Unilever, a marca chamou a atenção – recebendo, inclusive, dezenas de prêmios – não só para a forma como as mulheres se viam, mas se de fato se aceitavam. 

As peças publicitárias acabaram dando origem a uma pesquisa, realizada por uma psicóloga da Universidade de Harvard, que mostrou o seguinte:

  • 4% das mulheres consultadas em todo o mundo se consideravam bonitas;
  • 11% das garotas se sentiam confortáveis ao se descreverem como bonitas;
  • 72% sentiam-se pressionadas para serem bonitas;
  • 80% das mulheres concordavam que toda mulher tem algo bonito, mas não enxergavam a própria beleza;
  • 54% das mulheres se declaravam como as mais críticas em relação à própria aparência
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