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Entrevista

Prefeito de Conceição do Mato Dentro, Otacilinho, detalha negociação com a Anglo American

'É o maior acordo entre município e mineradora sem tragédia', avalia Otacílio Neto Costa Mattos

Gabriela Castro (*)
gabriela.castro@hojeemdia.com.br
Publicado em 01/07/2025 às 10:51.Atualizado em 01/07/2025 às 11:48.

A construção de um novo hospital regional e a viabilização de um campus da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri – além de uma nova avenida e outras intervenções na cidade – são algumas das vitórias contabilizadas pelo prefeito de Conceição do Mato Dentro, Otacílio Neto Costa Mattos (PSB), mais conhecido como Otacilinho, desde o início do mandato, em janeiro.

Eleito com 70,98% dos votos, a jovem liderança do PSB comanda agora o partido em Minas. Aos 30 anos e no curto período de gestão, conseguiu costurar um acordo milionário, que vai permitir também investimentos em saneamento, infraestrutura, mobilidade urbana, cultura, esportes, lazer e o reassentamento de várias comunidades do município, localizado na região Central de Minas, onde está instalada uma das maiores mineradoras do mundo. 

Pelo acordo firmado com a britânica Anglo American, “voluntário e sem obrigação legal”, ressalta o prefeito, a empresa fará o aporte de R$ 500 milhões para custear diversos projetos apontados por Otacilinho como fundamentais para o desenvolvimento da cidade, mesmo após eventual fim da atividade minerária. 

Parte dos recursos vai bancar, por exemplo, a construção de alojamentos necessários após a implantação de um polo de engenharia na universidade –graças a outro acordo, costurado junto ao Governo federal e com a ajuda do presidente nacional do PSB, o prefeito de Recife, João Campos. O curso também beneficiará a mineradora, pois abre espaço de formação e aperfeiçoamento para os 4 mil trabalhadores da empresa na cidade. 

Como foi o processo de negociação com a Anglo American e como ficou o acordo assinado?
Em 2017, foi feito um acordo entre a prefeitura e a Anglo, de R$ 20 milhões, que eu acho muito pouco. Aliás, todos os acordos no Brasil feitos entre uma prefeitura e uma mineradora, em lugares onde não teve acidente, também foram com valores que eu considero muito pequenos pelo impacto social que é receber um empreendimento minerário no município. Priorizamos três temas para a nossa cidade, que é saúde, educação e infraestrutura, e fomos, com uma proposta ousada, pedir quase R$ 700 milhões para a gente estruturar um hospital regional. Há uma universidade federal com cursos superiores presenciais no nosso município. Apesar de ser uma cidade mineradora, a gente quer ser uma cidade turística e universitária, já pensando num período pós-mineração e na diversificação econômica, e pensando também em infraestrutura e mobilidade urbana, porque a gente teve um crescimento desordenado nesses últimos dez anos. R$ 100 milhões desse recurso foi para a construção de uma avenida do contorno.

Será semelhante à avenida do Contorno, em BH?
Sim. A gente vai construir outras avenidas ligando (a do Contorno) aos principais bairros da cidade, para proporcionar um crescimento organizado, pensando na expansão dos projetos que a empresa tem no município. É uma obra caríssima por conta do nosso relevo, e a Anglo deve bancar 50%; os outros 50%, a prefeitura vai bancar.

Era fundamental que a gente tivesse também um custeio para o Hospital Regional, porque o filantrópico hoje custa para a prefeitura R$ 19 milhões por ano, e a Anglo dava uma ajuda de R$ 1 milhão por ano só. Com esse novo acordo, a empresa arcará com R$ 20 milhões por ano. A gente vai ter uma saúde de referência para toda a região num médio prazo.

E o que mais?
Vamos ter também R$ 10 milhões por ano, durante 10 anos, para viabilizar a Universidade Federal (dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri), com um polo de engenharia. Hoje, a Anglo tem 4 mil funcionários diretos em Conceição. Se a gente tem dois cursos presenciais agora, e que vão chegar a quatro nos próximos quatro anos, já temos 200 alunos por semestre chegando a Conceição. Em cinco anos de curso de engenharia, são 2 mil alunos que a cidade vai receber e que vão comprar no supermercado, na farmácia, vão frequentar os restaurantes. Isso vai gerar emprego e renda com uma atividade que não tem nada a ver com mineração. Quando a gente pega o recurso do CFEM (royalty recebido pela exploração de minério) e pensa no que ele deve ser investido, é em diversificação econômica. E estamos fazendo isso com recurso do maior acordo da história do Brasil entre um município e uma mineradora, sem acidente, sem tragédia. 

Como foi a negociação?
Foi uma luta muito grande e que me fez ir até Londres, porque chegou num nível em que a presidente (da Anglo no Brasil), Ana Sanchez, falou: ‘Não consigo mais, cheguei ao meu limite. Vamos marcar uma reunião com o Conselho, na Inglaterra, para você expor tudo o que está me expondo’. Tivemos uma longa conversa com o Conselho lá em Londres e eles aprovaram essa contrapartida. Além dos R$ 500 milhões, esse é um acordo que contempla as comunidades atingidas, então é também uma reparação histórica. 

Quais comunidades?
Um dos nossos pedidos foi: vamos pegar a comunidade de Lavrinho do Piraquara, que já tinha sido reassentada, e calçar tudo lá; construir uma estação de tratamento de água; instalar bioETEs com tratamento de esgoto para cada família, além de construir um espaço de lazer para gerar qualidade de vida. Ficaram também alguns compromissos com a comunidade do Beco: parte vai ser reassentada, além de todo investimento que contempla o distrito do Sapo.

Há quatro meses, você declarou, em uma entrevista, que as principais negociações que você queria fazer com o governo federal e o estadual eram justamente relacionadas ao campus da Universidade Federal e a questão da Copasa, por conta da falta de água. Esse recurso prioriza as principais demandas do município?
Sobre a Universidade Federal, é bom ressaltar que o prefeito (de Recife) João Campos (presidente nacional do PSB) teve participação fundamental nessa viabilização. Estive com ele em fevereiro e na mesma hora ele ligou para o ministro Camilo Santana (Educação). Na época, esse acordo (com a Anglo) ainda não estava pronto. A negociação foi fundamental para a gente viabilizar a universidade, mas a força política nossa com o João — e do João com o ministro Camilo Santana — foi fundamental. Então foi uma soma de esforços, e quem sai ganhando é a população de Conceição e toda a região. 

E em relação à Copasa?
Depois de muita luta a gente conseguiu. Recebi o presidente da Copasa há 30 dias, dando ordem de serviço, e a gente já está com a obra em andamento. Nos primeiros dias de gestão, 4,8 km de rede de abastecimento de água da cidade estavam abaixo da norma. Eu vejo que essas duas prioridades estão resolvidas. A da Copasa, vamos dizer assim, 80% a 90% encaminhada. Mas no principal bairro nosso, que era a grande dor — o Vila Caetano, com 3.500 famílias — nos últimos anos lá ficava 10, 15 dias sem água. E hoje não falta mais. Tem dia que a gente coloca lá 140 mil litros de água com caminhão-pipa e o caminhão sobe 10 vezes no dia. Mas não falta.

Além dessas demandas que são prioritárias, R$ 160 milhões vão ser investidos em cultura, esporte, lazer, segurança pública, patrimônio público e ações sustentáveis. Quais são os planejamentos para esses investimentos?
Dentro desses R$ 160 milhões tem um acordo que a gente fez com o Governo do Estado e a Anglo para recapear do limite da nossa jurisdição até o da MG-10, sentido Serro, até Mato Grosso. Então, a prefeitura vai entrar com R$ 20 milhões. Tem R$ 88 milhões destinados ao patrocínio de projetos por meio de leis de incentivo à cultura e ao esporte. Vai ter projeto para revitalização do centro histórico do (distrito) Sapo, onde acontece a exploração minerária. Tem também projetos de apoio ao desenvolvimento rural, à agricultura familiar, aos produtores locais. 

Em abril, mais de 200 moradores denunciaram, numa audiência na Câmara Municipal, os impactos do projeto Minas-Rio. Alegaram falta de água, ruídos e poeira excessiva. E, conforme depoimento da presidente da Anglo no Brasil em comissão da Assembleia Legislativa, a empresa tem interesse em continuar por mais 50 anos no município, mas que precisa ampliar a barragem de rejeitos.

Como fica a preocupação com a questão ambiental?
Esse acordo repara o problema da água nas comunidades que foram reassentadas, por isso foi tão prioritário para a gente. Eu falei isso de forma muito clara para as comunidades. Foi feito um acordo no ano passado também, entre o Ministério Público, Governo do Estado e a empresa, para que todas as famílias que estão na Zona de Auto Salvamento (ZAS) sejam reassentadas, para que se possa fazer o alteamento da barragem de rejeitos.

Pouca gente divulgou isso, mas a Anglo fez um investimento de R$ 5 bilhões para filtrar mais de 88% da barragem de rejeitos. Então, o que a Anglo fez de investimento, preocupada com o meio ambiente, preocupada com qualquer tipo de impacto ambiental, é muito diferente da conduta que a Vale e a Samarco tiveram em Brumadinho e Mariana. Qualquer conduta da prefeitura, numa assinatura de declaração de conformidade — até porque quem licencia a Anglo é o Estado e a Prefeitura fica só com a declaração de conformidade — vai ser pautada dentro da legislação e com uma preocupação muito grande com o impacto ambiental. Mas eu vejo que a mineração é uma realidade no nosso município. A gente tem que conviver com isso e saber aproveitar os pontos positivos.
Eu fui lá no distrito do Sapo ouvir a comunidade, ver de fato o que eles queriam. A Anglo fez alguns reassentamentos opcionais, exatamente por entender que existia impacto de poluição, ruído etc. O que a prefeitura pode garantir é a infraestrutura e a dignidade — proporcionar estação de tratamento de água, que a gente está exigindo da empresa; espaço de lazer, saneamento básico, posto de saúde funcionando, escola. Não tenho gestão sobre os impactos que a mineradora provoca no entorno.

Falando agora da sua posição como presidente do PSB em Minas, o partido também tem se preocupado muito com a interio-rização, inclusive ultrapassando o PT em número de prefeituras nas últimas eleições municipais e se consolidando como liderança da centro-esquerda. Como estão as projeções — tanto em nível estadual quanto federal — para as eleições de 2026?
O PSB, hoje, é o partido mais municipalista do Brasil. Atualmente, é o único que tem seu presidente nacional prefeito e um presidente estadual prefeito, e são jovens prefeitos. Então a gente tem, de fato, esse municipalismo na veia e acho que é por causa disso que estamos tão fortes no interior de Minas. Por isso a gente vem crescendo tanto, com filiações de novos prefeitos, e estamos buscando mais. A gente ultrapassou o PT, mas a meta é ultrapassar o PL em breve. 

Acredito muito na liderança do nosso presidente nacional, João Campos. Acredito que, em breve, o PSB vai poder apresentar — não no ano que vem, mas numa próxima eleição presidencial — uma alternativa muito segura para o país, equilibrada, para que a gente consiga conquistar os avanços de que o país precisa. Podem esperar: o PSB, no ano que vem, vai dar um salto gigantesco, e acredito que sai da eleição de 2026 como o maior partido do centro democrático do Brasil.

(*) Sob supervisão da editora Iracema Barreto

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