A polêmica causada pela suspensão dos estudos clínicos da vacina CoronaVac, desenvolvida pela chinesa Sinovac Biotech em parceria com o Instituto Butantan, de São Paulo, provocou reações de parte dos candidatos à PBH. A maioria dos concorrentes afirmou ao Hoje em Dia ser favorável ao uso da vacina chinesa, caso ela seja comprovada cientificamente e aprovada pela Anvisa. Um deles, o deputado estadual Bruno Engler (PRTB), contudo, endossou posicionamento do presidente Jair Bolsonaro.
Ontem, após ficar sabendo da suspensão dos estudos sobre o imunizante, em razão da morte de um voluntário, Bolsonaro chegou a comemorar a medida. Para Engler, a exemplo do que disse o presidente, recentemente, “a China não é transparente, e agora aparece com essa vacina da qual ainda não foi comprovada nem a eficácia, nem a segurança”.
O candidato afirmou ainda que “a Anvisa está simplesmente cumprindo seu papel”, suspendendo os testes, e que o Brasil e BH “não serão cobaias da China”. “Não vamos instituir vacina nenhuma enquanto não for garantida a eficácia e a segurança dela”, completou.
Já Lafayette Andrada (Republicanos), que disputa com Engler apadrinhamento de Bolsonaro na campanha, preferiu adotar a cautela. “Não tenho nenhum preconceito se a vacina é chinesa. Temos que saber se ela é segura”, destacou.
Ao todo, sete dos 12 candidatos ouvidos pela reportagem – apenas Alexandre Kalil (PSD), Cabo Xavier (PMB) e Fabiano Cazeca (PROS) não deram retorno – viram a interrupção nos estudos como uma decisão política.
Concorrente pelo PRTB, Bruno Engler foi o único a endossar opiniões do presidente Jair Bolsonaro: “BH não vai ser cobaia da China”
Para Áurea Carolina (PSOL), por exemplo, o governo federal tem sido incapaz de assumir seu papel para defender a população na pandemia. “É inadmissível que o presidente atue com tamanha irresponsabilidade por uma disputa com um desafeto político”, afirmou, referindo-se ao governador paulista, o tucano João Dória, defensor da vacina.
A opinião foi semelhante à de Luísa Barreto (PSDB), Nilmário Miranda (PT), Wadson Ribeiro (PCdoB), Marília Domingues (PCO) e Wanderson Rocha (PSTU).
Já para João Vítor Xavier (Cidadania), Marcelo Souza e Silva (Patriotas) e Rodrigo Paiva (Novo), ainda é cedo para se posicionar. “Qualquer vacina que tiver eficácia, não importa de que país, deve ser usada e disponibilidzada para a população”, destacou Xavier.
Prefeitos até podem escolher imunizante, mas devem seguir as normas fixadas pela Anvisa
A escolha de qual vacina que será usada para imunizar mineiros contra a Covid pode ser feita individualmente pelos prefeitos. Contudo, a opção tem de seguir normas do Ministério da Saúde e da Anvisa. De acordo com o consultor jurídico da Associação Mineira dos Municípios (AMM), Wederson Siqueira, os prefeitos podem tomar providências para uma campanha de vacinação, mas a competência deles no assunto é limitada.
“Nesses casos, a competência maior é da União. Um prefeito pode escolher uma vacina aprovada na Anvisa, mas não pode impedir, por exemplo, que um morador de outro município se vacine em seus limites”, destaca Siqueira.
Para a professora de Gestão de Serviço em Saúde da UFMG, Kátia Campos, a campanha de vacinação deveria ser nacional, feita por indicação do Ministério da Saúde. “Uma campanha é muito complexa. É preciso um processo amplo de vigilância sanitária que os municípios, sozinhos, não têm capacidade de executar”, enfatiza a professora.
Imbróglio
A interrupção nos testes da CoronaVac foi definida pela Anvisa na noite de segunda (9). De acordo com o presidente da agência, Antonio Barra, a medida foi tomada após a morte de um voluntário dos testes da vacina. “O protocolo manda que seja feita a interrupção. Se não o fazemos, a responsabilidade obviamente é nossa”, afirmou Barra. O governo paulista, responsável pelo Instituto Butantan, afirmou que o voluntário cometeu suicídio, o que não comprometeria os estudos sobre o imunizante.