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Por que não abraçamos a cidade toda?

Será que somos capazes de abraçar toda a cidade, ou somos movidos apenas pelo calor do momento, ou quando atos como esse da pichação agridem nossa paisagem de todos os dias?

Publicado em 01/04/2016 às 19:48.Atualizado em 16/11/2021 às 02:45.

Há, aparentemente, uma preocupação do poder público em preservar o patrimônio cultural da cidade. Ninguém duvida das boas intenções. A população, por sua vez, sempre sai em defesa deste mesmo patrimônio, preocupada com sua conservação. Abraços à Igreja da Pampulha são simbólicos, mas será mesmo que representam um grande cuidado e preocupação com o que acontece no cenário cultural da cidade?

O episódio de pichação na Igrejinha da Pampulha suscitou inúmeros debates: a legitimidade do ato, a criminalidade do ato, a comoção gerada e, até mesmo, discussões acerca da filosofia da arte. O último manifesto em defesa da Igreja, que tem papel importante na luta da Prefeitura de Belo Horizonte na eleição da Pampulha como Patrimônio Cultural da Humanidade, foi um abraço ao prédio, dando o sentido de protegê-la da marginalidade que destrói patrimônios.

O que não me sai da cabeça, no entanto, é: até onde vai esse abraço? Será que somos capazes de, então, abraçar toda a cidade, ou somos movidos apenas pelo calor do momento, ou quando atos como esse da pichação agridem nossa paisagem de todos os dias?

O abraço que nos falta, na verdade, é o do exame de consciência. É um abraço que não olha apenas o nosso entorno

Belo Horizonte é agredida constantemente pela falta de investimentos no setor cultural, no patrimônio da cidade, e com o abandono de prédios – e não somente prédios públicos. Praças, ruas, avenidas, calçadas, prédios, parques. Há muito o que ser feito diariamente pela cidade, e não vemos muitos abraços protegendo a cidade por aí.
 
O Cine Santa Teresa, que por muitos anos ficou fechado, e sem a menor atenção por parte da Fundação Municipal de Cultura às reclamações de moradores, não recebeu por parte da população grandes abraços, senão uma pequena comissão que por ele lutou.

O Viaduto Santa Teresa, que surge hoje como um ponto de encontro de manifestos artísticos, nunca recebeu um abraço da cidade. Mais uma vez, poucos lutaram por sua revitalização. O seu entorno continua mal iluminado e inseguro.

O Museu de Arte da Pampulha, o MAP, só ganha atenção agora, quando tentam dar um título elegante ao complexo ao redor. Mesmo assim, abriga exposições pequenas - sem fazer aqui juízo de valor sobre qualquer produto da arte - quando tem um enorme acervo guardado, sabe-se lá em quais condições.

Regiões centrais que atraem cada vez mais jovens e frequentadores da noite da capital, assim como a Savassi, continuam escuras, inseguras e sem qualquer estrutura para a cena que se forma. Abraços? Nenhum.

A cidade que pede abraços recebe, na verdade, lixo na rua, descaso, bancos de praças quebrados, teatros vazios, centros culturais não frequentados, falta de investimento na revitalização e preservação de nossos prédios e ruas, bem como todos os espaços públicos.

O abraço que nos falta, na verdade, é o do exame de consciência. É um abraço que não olha apenas o nosso entorno, não se move apenas quando algo toma grandes proporções. Até porque, com o tempo, essa falta toda de abraço reflete em um grande problema de educação que altera profundamente a identidade de uma cidade.

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