Porta fechada para compra de imóveis usados; Caixa volta a suspender crédito pró-cotista

Tatiana Moraes
tmoraes@hojeemdia.com.br
02/08/2018 às 21:17.
Atualizado em 10/11/2021 às 01:44
 (Editoria de Arte)

(Editoria de Arte)

A Caixa suspendeu, por tempo indeterminado, o financiamento de imóveis usados pela linha pró-cotista, destinada especialmente à classe média. O motivo, conforme o banco, é a escassez de recursos orçamentários. E quem vai sofrer as consequências é o consumidor.

Com a interrupção no fornecimento do crédito – o segundo mais barato do banco, perdendo apenas para o ‘Minha Casa, Minha Vida’ –, quem for investir na casa própria deverá recorrer à linha SBPE. O problema são os juros. Em tempos de vacas magras, será necessário desembolsar mais dinheiro para realizar o sonho da casa própria. A renda mínima para ter o financiamento aprovado também aumenta.

Conforme fonte ligada ao banco, que não quis se identificar, os contratos assinados até 13 de julho terão o recurso liberado. Os demais estão suspensos.
A Caixa confirma a interrupção, mas oficialmente não estipula data para atender aos contratos. “A Caixa Econômica Federal informa que houve a suspensão da modalidade Pró-cotista - Imóveis Usados em razão do cumprimento do orçamento disponibilizado para a referida linha. A modalidade Pró-Cotista Imóvel Novo continua funcionando normalmente”, diz a nota da instituição bancária.

Nas alturas
A diferença no valor final do imóvel aumenta significativamente.Antes da suspensão, era possível financiar a casa própria na linha pró-cotista com taxa máxima de 9,01% ao ano (índice que poderia sofrer variações para baixo, dependendo do nível de relacionamento do cliente com o banco). 

Isso significa que ao final de um financiamento de R$ 300 mil, com prazo de 360 meses, o equivalente a 30 anos, o consumidor arcaria com parcelas de R$ 3.085. No fim do processo, ele teria desembolsado R$ 1,1 milhão, conforme levantamento realizado pelo presidente da Associação dos Mutuários de Minas Gerais (AMMMG), Sílvio Saldanha. 

O montante é R$ 135 mil menor do que os R$ 1,25 milhão que seria pago à Caixa se o consumidor optasse pelo SBPE. Neste caso, foram considerados um período de R$ 360 meses, com parcelas de R$ 3.460 e juros de 10,50% ao ano. 

Renda
E se o valor do imóvel fica maior, a renda mínima necessária para ter o empréstimo aprovado acompanha.Para financiar os R$ 300 mil junto à pró-cotista, o cliente precisaria comprovar rendimentos mensais de R$ 10,4 mil. No SBPE, porém, a renda deve ser de R$ 11,8 mil.

Em tempos de crise econômica e desemprego em alta, o incremento na renda é tarefa árdua. “A linha pró-cotista tem taxa menor porque contempla aqueles consumidores que têm Fundo de Garantia ativo há pelo menos três anos. É uma linha destinada ao trabalhador. Quem deseja comprar um imóvel será muito prejudicado”, lamenta o presidente da AMMMG.

 Escassez de recursos pode atrasar a recuperação do setor

A suspensão do crédito imobiliário na linha pró-cotista pode retardar ainda mais recuperação do setor da construção civil, que anda a passos de tartaruga. 
“Nós precisamos de crédito. Precisamos estimular as vendas e a geração de empregos na construção civil. E fazemos tudo isso por meio dos financiamentos”, afirma o diretor de políticas e relações trabalhistas do Sindicato da Indústria da Construção Civil, Ricardo Catão.

Ele explica que cortar uma linha de financiamento destinado aos imóveis usados pode desestabilizar todo o setor. O motivo é simples. Muitas pessoas vendem o apartamento usado para comprar um novo. “O setor pode ficar empacado”, rechaça. 

O presidente da Comissão de Direito Imobiliário da Ordem dos Advogados do Brasil em Minas Gerais (OAB-MG), Kênio Pereira, espera que a Caixa retome o financiamento no curto prazo. “É um dos produtos mais usados do banco, o mercado imobiliário precisa dessa linha de crédito”, comenta. 

Engenharia
O mercado da engenharia civil também pode sofrer grande impacto negativo.“Embora o leque de atuação do profissional de engenharia seja vasto, o país hoje vem passando por um momento político-econômico complicado. Esse momento tem impacto direto nos investimentos e, consequentemente, no mercado da construção”, diz o engenheiro civil Sérgio Oliveira.

O também engenheiro civil Michel Mofacto concorda. Ele acredita que somente nos próximos anos haverá uma recuperação. “A expectativa é que, a partir de 2020, ocorra um crescimento em todos os setores, o que irá gerar grande demanda por profissionais qualificados na construção civil. O profissional que está chegando no mercado agora verá esse processo crescer no ritmo da recuperação econômica do país”, completa. 

 NOVO LIMITE

A suspensão do crédito para imóveis usados na linha pró-cotista bate de frente com o anúncio do novo teto para financiamento da casa própria, de R$ 1,5 milhão. 
O valor começa a vigorar em janeiro do ano que vem. Hoje, o crédito máximo é de R$ 950 mil.
A decisão foi anunciada na última sexta, dia 31 de julho, mas não sairá do papel se não houver dinheiro disponível. DIvulgação / arquivo pessoal 

Experientes, Sérgio Oliveira e Michel Mofacto analisam o mercado da engenharia civil

SAIBA MAIS

Entrevista

Em meio às turbulências econômica, a engenharia civil é um dos setores que mais sofrem no Brasil. Os engenheiros Sérgio Oliveira (SO) e Michel Mofacto (MM) analisam os desafios da profissão. Experientes, eles já atuaram em projetos de peso, como a construção da Usina Siderúrgica CSA Thyssenkrupp, nos Jogos Olímpicos e Paralímpicos Rio 2016 e na Petrobras. 

Como está o mercado da engenharia civil e quais as perspectivas para o profissional que está chegando ao mercado?
SO -
Embora o leque de atuação do profissional de engenharia seja vasto, o país hoje vem passando por um momento político-econômico complicado. Esse momento tem impacto direto nos investimentos e, consequentemente, no mercado da construção
MM - A expectativa é de que a partir de 2020 ocorra um crescimento em todos os setores, o que irá gerar grande demanda por profissionais qualificados na construção civil. O profissional que está chegando no mercado agora verá esse processo crescer no ritmo da recuperação econômica do país

Quais são os maiores desafios que o profissional de Engenharia pode enfrentar?

MM - Falando da área de atuação, os principais desafios são manter as restrições de custo, prazo, escopo e qualidade na linha base. Variações de câmbio, falta de material especificado, especificações mal feitas, patrocinadores indecisos; esses são alguns dos fatores que podem ter impacto direto nessas restrições.

E qual a melhor maneira para controlar isso? Quais as técnicas?

SO - Não existe uma “formula mágica” para isso. Cada caso tem a sua peculiaridade. Mesmo assim, uma das melhores maneiras para controlar as restrições é lançar mão de boas práticas de gerenciamento de projetos; manter uma boa rastreabilidade de requisitos, controlar mudanças de projeto, gerenciar bem as expectativas de partes interessadas e ter um controle apurado do cronograma.

Como foi o início de vocês em um projeto de tamanha importância para a cidade do Rio de Janeiro e para o Brasil, como os Jogos Olímpicos e Paralímpicos Rio 2016?
SO -
Como em qualquer outro projeto, era claro para nós o entendimento da importância do empreendimento para a sociedade e foi muito bom termos a oportunidade de estar lá e contribuir com isso. O início foi muito especial, fomos muito bem acolhidos, recebemos treinamentos institucionais para que pudéssemos nos portar de maneira a entender as expectativas dos nosso patrocinadores. 

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