Preguiçosos, jovens preferem filmes dublados

Paulo Henrique Silva - Do Hoje em Dia
08/10/2012 às 07:41.
Atualizado em 22/11/2021 às 01:54
 (IMAGEM FILMES/DIVULGAÇÃO)

(IMAGEM FILMES/DIVULGAÇÃO)

Um dos “culpados” pela atual predominância de cópias dubladas em relação às legendadas nas salas de cinema de todo o Brasil seriam os jovens na faixa de 17 a 20 anos. Um dado preocupante para a cultura brasileira como um todo, uma vez que a aversão às legendas se justificaria por um motivo nem um pouco nobre: a preguiça.

Anteriormente, a culpa era imputada ao fortalecimento da economia, com a ascensão das classes C e D. Mas pesquisas de opinião recentes apontam que a juventude tem, sim, uma parcela de responsabilidade neste quadro.

“As novas gerações não se importam com a voz original do ator, preferindo curtir os efeitos especiais sem ter de ler legendas”, justificou, recentemente Ricardo Leite, presidente da Federação Nacional das Empresas Exibidoras Cinematográficas.

Em Belo Horizonte e região metropolitana, o reinado dos dublados é indiscutível. Na última semana, as “vozes nacionais” estavam presentes em 67 cópias, contra 51 das legendados. Filmes como “Os Mercenários 2” e “Resident Evil 5” praticamente não dispunham de opções com legendas.


Tendência

“Nos cinemas de shoppings mais populares, o número de espectadores nas cópias dubladas chega a ser três vezes maior que o das legendadas. É uma tendência que se verifica em todo o país”, observa Lúcio Otoni, diretor do Sindicato das Empresas Exibidoras de Minas Gerais.

Como os donos de cinema querem salas lotadas, o que se vê no mercado, hoje, é uma briga por cópias dubladas. No caso de produções em digital, a questão é resolvida como uma chave que muda o idioma do filme.

“É um reflexo do estado de nossa educação”, salienta Otoni, ao comentar a preferência dos jovens. Lígia Martins, de 15 anos, é uma das engrossam as fileiras de fãs dos dublados. A razão, no entanto, não está na preguiça. “Não gosto de usar óculos, incomodam”, explica. Ela admite que a dublagem prejudica o trabalho artístico. “Vi ‘Os Imortais’ em versão dublada e na legendada, e percebi o quanto (a dublagem) piora a qualidade”, reconhece.

Para o psicólogo Hélio Miranda, da PUC, a reação dos jovens às legendas é resultado do conforto provocado pelas novas tecnologias. “Ler legendas exige mais do que ficar escutando”. Conta, ainda, a falta de estímulo à leitura nas escolas. “O que temos hoje é a leitura fragmentada da internet, que é precária e rápida”.


Dublagem prejudica concepção artística

Lúcio Otoni destaca que o aumento de cópias dubladas nos cinemas vem ocorrendo há dois anos e que, agora, os números já estão estabilizados.

 

Cartaz de 11 salas atualmente, "Resident Evil 5" só tem três opções com legendas (Foto: FOX/Divulgação)



Pesquisa divulgada no site Filme B, em agosto, revela que 56% dos entrevistados preferem os dublados, contra 37% de legendados.

“Os números são os mesmos da pesquisa anterior, ocorrida em 2007”, registra Pablo Villaça, crítico do site Cinema em Cena. Ele enxerga na proliferação de dublados uma estratégia das distribuidoras. “Elas acreditam que o dublado tem mais potencial para aumentar o público não habituado a frequentar cinema”.


Monalisa

Ele afirma que, num primeiro olhar, os custos com a dublagem podem parecer maiores que a legendagem, mas, como a opção de idioma é disponibilizada no lançamento em DVD, “mais cedo ou mais tarde esse gasto será feito de toda forma”, analisa.

Villaça define a dublagem como uma mutilação da obra original. “É como querer pegar a Monalisa (de Leonardo Da Vinci) e pintar os cabelos de louro para facilitar a identificação do público. No cinema, o ator se prepara por meses para viver o papel, trabalhando a voz também, enquanto o dublador leva de duas a três horas para estudar o texto e as imagens. Obviamente a qualidade é inferior”, critica.


Desrespeito

O aspecto técnico também é prejudicado, pois a mixagem de som chega a levar até quase um ano. Trabalho que desaparece na sobreposição de vozes feitas num estúdio de dublagem.

O mais grave, de acordo com Villaça, é a falta de opção de cópias legendadas. “Se me impossibilitam de ver o filme legendado, prefiro não ver, por considerar um desrespeito com o realizador. Neste caso, preferiria baixar o filme no computador”, observa.

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