A pouca disputa pela CSA e a crise na siderurgia

Do Hoje em Dia
24/06/2012 às 08:30.
Atualizado em 21/11/2021 às 23:03

Não é um bom momento para o grupo ThyssenKrupp se desfazer de seu grande projeto siderúrgico no Brasil, a CSA, como mostra reportagem deste jornal. Com a siderurgia sofrendo com a crise bancária mundial, ainda não apareceram interessados no negócio. Talvez o prejuízo de € 587 milhões registrado no primeiro trimestre deste ano, atribuído, sobretudo, aos resultados deste projeto, tenha precipitado a decisão de vender. Mas certamente há outros fatores.

Entre eles, a reação das comunidades locais a investimentos que não respeitam o meio ambiente. Os governantes que concederam os incentivos fiscais e fecharam os olhos às leis ambientais passam, as exigências mudam e os investidores estrangeiros que aqui praticam algo impensável em seus países, começam a perceber riscos inesperados no Brasil e se preparam para partir. Afinal, é vasto o mundo e grandes as oportunidades, apesar de crises eventuais.

Pois é isso que parece se suceder. O projeto desse grupo alemão na Baía de Sepetiba, uma região com áreas preservadas da Mata Atlântica, restingas e manguezais, uma rica biodiversidade e com vocação natural para uma atividade menos poluente, o ecoturismo, teve sua pedra fundamental lançada em setembro de 2006. Entre os convidados estavam o ministro da Economia do governo Lula, Luiz Fernando Furlan, e a governadora Rosinha Garotinho, que declarou em discurso tratar-se de “uma boa parceria entre os nossos Governos e a empresa que irá criar muitos postos de trabalho”. As preocupações ambientais só surgiram depois, quando começaram a morrer peixes na Baía de Sepetiba e o Ministério Público passou a fazer exigências.

Pressionada a investir em siderurgia, para que o país ganhasse valor agregado ao seu minério de ferro, a Vale acabou parceira dos alemães. Detém hoje quase 27% do capital da CSA, que na época recebeu empréstimos do BNDES de R$ 1,48 bilhão. Mas a ex-estatal mostra agora grande relutância em se tornar dona da siderúrgica, que começou a produzir placas de aço há dois anos. Tempo insuficiente para o retorno do investimento.

Não é a primeira vez que os alemães desistem de um projeto industrial no Brasil, depois de se beneficiarem de incentivos fiscais, doações de terrenos e financiamentos subsidiados.

Alguns mineiros ainda se lembram do fechamento da fábrica da Krupp em Betim, não muito depois de ser inaugurada, mas já se prenunciando o fim do chamado “milagre brasileiro” dos anos 1970.

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