Acuado por denúncias, Cunha começa a pensar em alternativas

Folhapress
17/10/2015 às 15:02.
Atualizado em 17/11/2021 às 02:06
 (Facebook)

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O deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) viu seu poder minguar substancialmente em quatro dias. Na terça-feira (13), governo e oposição achavam que o presidente da  Câmara estava pronto para deflagrar o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff. Na sexta (16), o discurso era outro. Nesse intervalo, Cunha foi alvejado em muitas frentes. Documentos enviados pelo Ministério Público da Suíça comprovaram a existência de contas secretas em nome do parlamentar naquele  país.   Os papéis mostraram que a Suíça registrou as contas usando como identificação de Cunha seu passaporte diplomático. A assinatura do deputado consta dos  documentos. Até então, ele negava ter recursos no exterior. Depois disso, deixou de discutir o mérito das denúncias que sofreu e se limitou a criticar o  vazamento das provas.   "Ele sempre falou que não tinha nada no nome dele", contou um deputado do PMDB. "A gente até achava que podia vir algo em nome de uma empresa e ele como  beneficiário. Mas quando apareceu a assinatura e o passaporte... Até tapando o nariz dava para sentir o cheiro". Na sequência, foram divulgados trechos da delação do lobista Fernando Soares, o Fernando Baiano, que diz ter distribuído a Cunha e outros políticos propina do esquema de corrupção descoberto na Petrobras. O lobista afirmou que Cunha recebeu ao menos R$ 5 milhões em espécie.   As revelações fragilizaram o peemedebista de modo que, na noite de sexta-feira, o discurso quase unânime entre os governistas e os seus opositores era de que  ele não tinha mais condições de permanecer à frente da Câmara. Sua melhor jogada, avaliaram deputados e senadores ouvidos pela reportagem, seria trabalhar  para fazer um sucessor que consiga dar um desfecho à crise política, abrindo ou enterrando um pedido de impeachment da petista.    Agora, avaliam os deputados,  o trunfo de Cunha deixou de ser o afastamento de Dilma e passou a ser sua capacidade de conduzir a própria sucessão na Câmara. Cabe ao chefe da Casa a decisão de dar prosseguimento ou arquivar pedidos de impeachment. Daí a importância de Cunha costurar a própria sucessão: se emplacar  um aliado no cargo, continuará podendo influenciar o desfecho do governo Dilma.   CASSAÇÃO   O consenso é de que o peemedebista precisa agir rapidamente para não perder as condições de negociar a manutenção do mandato, evitando um processo de  cassação no Conselho de Ética. O peemedebista, agora, terá duas opções, calculam parlamentares próximos. Pode fechar um acordo com o governo e ajudar o  Planalto a patrocinar um nome mais próximo aos articuladores da presidente Dilma, confiando que o PT não se engajará na cassação de seu mandato. Ou pode fechar com a oposição e ajudar a eleger como sucessor um adversário da petista. Essa segunda opção, é o que está sendo chamado nos bastidores da Câmara de  "impeachment branco".   Segundo um deputado da oposição, Cunha, que ensaiou uma reaproximação com o governo quando surgiram novas denúncias contra ele nesta semana, voltou na última  quinta (15) a se queixar do Planalto e a dizer que era vítima de perseguição. Nas conversas, ressaltou que não via as investigações contra ministros do  governo citados na operação "Lava Jato" terem desdobramentos na mesma velocidade que a sua.    Esse descontentamento alimentou aliados do peemedebista que trabalham pelo impeachment, como o deputado Paulo Pereira da Silva, o Paulinho da Força (SD-SP). Segundo relatos, na tentativa de frear as conversas entre Cunha e o Planalto, Paulinho disse ao peemedebista que "se o governo conseguisse segurar alguma coisa, não tinha ninguém do PT preso".   Na sexta-feira, quando o isolamento de Cunha era visível no Parlamento, Paulinho foi um dos poucos deputados que fizeram uma defesa pública do peemedebista. Um senador tucano viu no gesto a senha de que será Paulinho o interlocutor de Cunha com as oposições. É que PSDB e DEM vão manter o discurso de que o peemedebista precisa renunciar à Presidência da Casa para poder se defender no Conselho de Ética. E Cunha tem dito que não deixará o posto.   Na primeira vez que a oposição divulgou essa tese, há uma semana, o peemedebista se irritou e disse que não era possível confiar em gente que dava mostras de  que o abandonaria no primeiro revés. "Se eu derrubar ela (Dilma), no dia seguinte vocês me derrubam", afirmou. A reclamação repercutiu. Cobrado por aliados que diziam que a cobrança havia jogado Cunha contra o impeachment, o senador Aécio Neves (MG), presidente do PSDB, observou: "O afastamento dela (Dilma) não  pode se dar às custas da destruição do nosso discurso".   A oposição pretende levar à disputa pela Presidência da Câmara um "oposicionista da gema". Uma vitória seria a desmoralização do governo, avaliam. Quem não  acredita nesse resultado adverte que a queda de Cunha e ascensão de um nome mais sensível ao Planalto não deve ser vista como uma vitória por Dilma.  "A vida dela depende de um bichinho chamado economia, e eu não sinto ânimo para consertar. A CPMF não passa aqui", sentenciou um senador do PMDB.

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