Além da Covid, alta do aluguel piora crise dos bares e restaurantes de BH

André Santos
andre.vieira@hojeemdia.com.br
10/02/2021 às 06:05.
Atualizado em 05/12/2021 às 04:08
 (Maurício Vieira)

(Maurício Vieira)

O Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M) não para de subir. Somente na primeira semana de fevereiro, aumentou 1,92%, segundo a Fudação Getúlio Vargas (FGV). O IGP-M, usado como referência para correção de valores de contratos, como os de aluguéis de imóveis, já registra um acumulado de 28,17% nos últimos doze meses. Em 2020, a chamada inflação do aluguel chegou a 23,14%, a maior alta desde 2002. Fato é que, com o IGP-M em alta, um enorme impacto já começou a ser sentido porsetores como o de bares e restaurantes, um dos mais prejudicados pela pandemia da Covid-19. 

Segundo a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes em Minas Gerais (Abrasel-MG), aproximadamente 95% dos donos de estabelecimentos no Estado pagam aluguel. Presidente da entidade, Matheus Daniel diz que, diante dos reajustes ’salgados’ os contratos, a alternativa deve ser o repasse desse custo aos consumidores. 

Aliás, pesquisa feita pelo site Mercado Mineiro, sobre preços praticados por bares e restaurantes de BH, corrobora isso. De acordo com o levantamento, nos últimos seis meses, o valor do prato feito, por exemplo, subiu de R$ 17,09 para R$ 20,70 – um reajuste de 21,12%, puxado também pela alta significativa dos insumos.

Para Daniel, os empresários do setor não têm mais margens para conter a subida dos custos operacionais. “Estamos em uma situação em que se não repassarmos o aumento dos aluguéis, vamos ter que fechar as portas”, destaca ele.
Atualmente, afirma o dirigente, a margem de lucro dos bares e restaurantes gira entre 7% e 12% do faturamento. E, com os preços da alimentação em alta, o movimento está em franca queda – em dezembro, por exemplo, os gastos de consumidores nesses locais caiu 30% na comparação com o mesmo mês de 2019, segundo pesquisa Fipe/Alelo, divulgada ontem.

Conforme a Abrasel-MG, antes mesmo do novo fechamento do comércio em BH, em janeiro, 53% dos bares e restaurantes da capital estavam operando no prejuízo. Com as contas mais altas a pagar e o faturamento em queda, muitos empresários fazem de tudo para renegociar os aluguéis. 

O próprio presidente da Abrasel procurou o dono do imóvel onde funciona seu restaurante, no bairro Santo Agostinho, e obteve sucesso. No caso, o reajuste foi parcelado, e de 17% – bem inferior ao IGP-M. “Ano passado, muitos donos de imóveis até perdoaram aluguéis, mas, agora, não há como. Os reajustes vão acontecer e o que tem que nos nortear é o bom senso”, explica Daniel.

Cervejaria ajuda empresários manter o negócio

Com dificuldades cada vez maiores para honrar compromissos, muitos donos de bares e restaurantes tiveram de fechar as portas e encerrar as atividades, nos últimos meses. Segundo a Abrasel-MG, até março de 2020, o setor contava com 12 mil estabelecimentos e gerava 72 mil empregos diretos em BH. Desde então, cerca de 3,5 mil fecharam e 30 mil vagas foram perdidas. Os dados não são confirmados pela Junta Comercial, já que muitos estabelecimentos encerraram as atividades comerciais, mas não os registros de Pessoa Jurídica. 

O presidente da Abrasel-MG, Matheus Daniel, afirma que a insolvência de muitos negócios infelizmente é uma dura realidade do setor. “Muitos empresários tiveram que escolher: ou mantinham o negócio como ativo, mesmo já tendo fechado, ou perdiam tudo”, diz

Para evitar o pior, muitos estabelecimentos tradicionais da capital entraram no grupo dos que encerraram as atividades e outros estiveram bem perto disso. Foi o caso do Entrefolhas, há 27 anos em operação. Um dos sócios do empreendimento, Túlio Ferolla, diz que, no final de 2020, já havia até colocado utensílios do estabelecimento à venda. “Chegou uma hora em que não dava mais para manter as atividades e decidimos fechar”, explica.

A decisão de Túlio só não foi à frente graças à ajuda de uma cervejaria. O bar recebeu auxílios para repaginar o espaço, novo mobiliário e já está programado a retomada das atividades em março. “Se não fosse a ajuda deles, nós não voltaríamos a funcionar”, destaca o sócio do Entrefolhas.

O apoio ao Entrefolhas não foi o único da mesma empresa em Minas. De acordo com a head de marketing da Cervejaria Petrópo-lis, Eliana Cassandre, mais de R$ 700 mil foram repassados a estabelecimentos parceiros no Estado, seja em dinheiro para pagamento de aluguéis e até mesmo de pessoal, seja em reformas ou em bonificação na compra de produtos. “Foi uma forma que vimos de manter esses negócios e, assim, nossa relação comercial”, destaca Cassandre.

Para Matheus Daniel, auxílios assim chegam em boa hora, mas ainda é preciso haver mais ações por parte do Pod]er Público. “Não tem lógica impedir nossa atividade e continuar cobrando taxas como as que somos obrigados a pagar. Precisamos de mais ajuda, não é choradeira”.

 

Compartilhar
Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por