Após eleições, papéis do Banco do Brasil e da Petrobras sofrem com indefinições

Tatiana Moraes - Hoje em Dia
09/11/2014 às 08:34.
Atualizado em 18/11/2021 às 04:56
 (Eugênio Moraes)

(Eugênio Moraes)

As ações do “kit eleição”, companhias estatais listadas na bolsa, foram do céu ao inferno durante o período pré-eleitoral e as oscilações devem continuar por mais um período.   Passado o pior das turbulências, no entanto, a expectativa é a de que os papéis retomem, no médio prazo, a cotação justa, desde que o governo e o mercado financeiro entrem em acordo.   Segundo avaliação de especialistas, Banco do Brasil e Petrobras, consideradas os “patinhos feios” do Ibovespa nos últimos meses, podem valorizar pelo menos 35% sobre o valor atual.   Preço justo   Para o analista chefe da SLW Corretora de Valores e Câmbio, Pedro Galdi, embora o valor justo das ações não deva ser alcançado no curto prazo, os preços de referência dos papéis, se levado em conta apenas os balanços e o desempenho financeiro das companhias, são de R$ 25 para a ação preferencial da Petrobras e de R$ 24 para a ordinária. Já a ação ordinária do Banco do Brasil (a instituição não emite preferencial) poderia chegar a R$ 40.   A defasagem é de aproximadamente 70%. Na sexta, as ações da Petrobras foram comercializadas na bolsa a R$ 14,32 a preferencial e R$ 13,83 a ordinária. Os papéis ordinários do banco custam R$ 26,12.   Conforme explica o diretor-presidente da Austin Rating, Erivelto Rodrigues, as políticas marcadamente intervencionistas do governo Dilma Rousseff na economia –como a edição da Lei 12.873, que reduziu a tarifa de energia ou a determinação para que os bancos públicos reduzissem os juros das operações de crédito não agradam o mercado financeiro, que foi majoritariamente apoiador do candidato da oposição, Aécio Neves.   Há que se levar em conta que o mercado tem apetite por medidas que dão lucro às empresas. As denúncias de corrupção também puxaram para baixo o valor dos papéis.   Neste sentido, as pesquisas eleitorais pressionaram fortemente a bolsa de valores e, principalmente, as ações das estatais ao longo da campanha presidencial. Quando os levantamentos indicavam a vitória de Dilma, a bolsa caía, e a perspectiva de vitória de Aécio promovia o movimento oposto.   Valorização depende de como agirá o novo governo de Dilma Rousseff   Na avaliação do presidente da Austin Rating, Erivelto Rodrigues, eliminando o fator eleições, as ações do Banco do Brasil e da Petrobras podem valorizar entre 25% e 35% ainda no ano que vem. Para isso, no entanto, seria necessária uma série de ações do próximo governo da presidente reeleita Dilma Rousseff. “O governo tem que fazer o seu papel. As ações não irão retomar a curva de alta no cenário atual”, diz Rodrigues.   Para que haja a recuperação das ações da Petrobras, ele afirma que é necessária a recomposição do preço da gasolina, que está defasado tanto em função do câmbio quanto devido ao subsídio da Contribuição de Intervenção de Domínio Econômico (Cide), que não tem sido cobrado do consumidor como medida para conter a inflação. “A Petrobras precisa recompor o caixa para pagar as dívidas. A empresa é uma das mais envidadas do mundo”, afirma. O ideal, segundo Rodrigues, é que o combustível fique pelo menos 10% mais caro.   Segundo o analista chefe da SLW Corretora de Valores e Câmbio, Pedro Galdi, a dívida líquida da Petrobras é de R$ 243 bilhões, e a relação dívida líquida/Ebitda de 4,1 vezes. “É um valor relativo muito alto, que puxa o preço da ação para baixo”, diz o analista chefe.   Ainda de acordo com ele, o fato de a estatal ter tomado dívida em dólar bateu de frente com a escalada da moeda norte-americana, tirando o fôlego das ações da petrolífera, que caíram 11,21% em 2014. “Mas isso não significa que a empresa não seja sólida”, ressalva.   Anúncio do novo ministro pode dar ânimo ao mercado   O tão esperado anúncio do novo Ministro da Fazenda poderá ser suficiente para dar ânimo ao mercado e fôlego às ações do Banco do Brasil, segundo avalia o presidente da Austin Rating, Erivelto Rodrigues. “O Banco do Brasil é uma empresa sólida com apetite para empréstimos de boa qualidade. O desempenho dos papéis vai depender de como o governo vai gerenciar a economia”, comenta. O banco registrou lucro líquido de R$ 2,8 bilhões no terceiro trimestre deste ano.   Na avaliação do economista da Lopes Filho Consultores de Investimentos, João Augusto Frotta Salles, historicamente os papéis da instituição financeira têm uma defasagem de pelo menos 35% em relação às demais instituições financeiras de mesmo porte. O motivo, de acordo com ele, é o fato de o BB estar exposto às intervenções do governo, como a vivenciada pelos bancos públicos em 2012, quando a presidente Dilma Rousseff diminuiu os juros do Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal.   “Os fundamentos do banco são ótimos. As ingerências é que atrapalham o desempenho”, comenta o analista chefe da SLW Consultoria de Valores e Câmbio, Pedro Galdi.   Apesar das ingerências, o economista Frotta Salles, da Lopes Filho, avalia o banco como uma instituição cheia de trunfos. O controle do BB Seguridade, empresa de seguros que cresce exponencialmente, é um deles. Outro ponto competitivo citado por ele é o fato de o banco ser o maior player de crédito consignado, o que o leva a outro ponto importante: a baixa inadimplência da carteira.   No terceiro trimestre, segundo demonstrativo contábil do banco, a inadimplência acima de 90 dias foi de 2,09%, alta de 0,12 ponto percentual sobre a taxa do terceiro trimestre de 2013. Apesar do crescimento, o nível de calotes do BB continua abaixo do registrado pelos principais concorrentes privados do país, todos com mais de 3% de inadimplência no terceiro trimestre. O Itaú Unibanco, por exemplo, está em 3,2%, contra 3,6% do Bradesco e 3,7% do Santander.   Já a carteira de crédito ampliada do BB atingiu R$ 732,7 bilhões em setembro, com expansão de 12,3% em 12 meses, segundo aponta demonstrativo contábil do BB.   Resultado do Banco do Brasil é bem avaliado   O crédito imobiliário, segundo o economista da Lopes Filho Consultores de Investimentos, João Augusto Frotta Salles, merece atenção especial quando o assunto é Banco do Brasil. Segundo ele, a carteira imobiliária do banco em ascensão dá mais fundamentos aos papéis da instituição financeira. De acordo com o demonstrativo contábil do banco, o portfólio imobiliário cresceu 73,1% entre setembro de 2013 e setembro de 2014, acumulando uma carteira de empréstimos de R$ 35 milhões.   A carteira de crédito habitacional para pessoa física chegou a R$ 25,7 bilhões em setembro deste ano, elevação de 63,2% na comparação com igual mês de 2013. No segmento imobiliário pessoa jurídica, o saldo da carteira atingiu R$ 9,3 bilhões, crescimento de 108% na mesma base de comparação.   “Por fim, o crédito agrícola tem apresentado bons resultados, apesar das intempéries da agricultura, que sofre com seca”, comenta Salles. Conforme aponta o balanço do banco, em setembro do ano passado, a carteira de agro somava R$ 129,368 bilhões, saltando para R$ 155,819 bilhões em igual mês de 2014, crescimento de 21,2% no período.   O empréstimo agrícola para pessoa física respondeu por R$ 109,939 bilhões em setembro, alta de 26,5% no confronto com setembro de 2013, quando foi de R$ 86,885 bilhões. Para pessoa jurídica, o empréstimo agrícola cresceu 10,4%, passando de R$ 48,483 bilhões para R$ 46,881 bilhões.

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