Apesar dos juros de 330% ao ano, só 4 em cada 100 endividados priorizam quitar o cheque especial

Evaldo Magalhães
efonseca@hojeemdia.com.br
23/01/2018 às 20:58.
Atualizado em 03/11/2021 às 00:55
 (Pixabay)

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Quitar o cheque especial não é prioridade para o brasileiro endividado quando sobra um dinheiro no fim do mês. Apesar dos juros estratosféricos, apenas quatro em cada 100 inadimplentes afirmam que liquidam a dívida com o banco em primeiro lugar, aponta a pesquisa “Devedores do Brasil 2017”, realizada anualmente pelo Instituto GEOC – que representa 16 das maiores empresas de cobrança do Brasil.

Entre as contas que são pagas primeiro estão as de consumo, como água, luz, telefone fixo (41%), seguidas de prestação da casa própria/aluguel (21%) e cartão de crédito (20%).

Os dados são ainda mais alarmantes se levarmos em conta que os juros do cheque especial seguem, em janeiro, em torno de 13% ao mês, em média – ou 330% ao ano –, nos cinco maiores bancos do país. Essa modalidade de empréstimo tem a segunda taxa mais alta do mercado, perdendo apenas para o cartão de crédito

Por essa razão, o Banco Central e o Ministério da Fazenda anunciaram que estão empenhados em reduzir os juros do cheque especial. Para o presidente do BC, Ilan Goldfajn, melhorar o crédito é fundamental para movimentar a economia e estimular o desenvolvimento. Por isso, na semana passada, com respaldo do ministro Henrique Meirelles, o BC cobrou dos bancos um estudo para baixar as taxas ainda este ano.

A Federação Nacional dos Bancos (Febraban) atendeu ao chamado e comprometeu-se a buscar soluções, mas ninguém tem a ilusão de que a possível queda dos juros seja significativa. O melhor a fazer, segundo especialistas, ainda é evitar o uso do cheque especial a todo custo e, em caso de endividamento, buscar financiamentos alternativos com juros bem mais baixos para quitar o compromisso.

“O cheque especial é tentador. É um limite de crédito que, muitas vezes, o consumidor, iludido, entende como pertencente ao seu saldo da conta corrente”, alerta o professor universitário e consultor financeiro Paulo Vieira. “Quando se utiliza esse limite, porém, o preço é salgado e vem por meio de juros altíssimos”, acrescenta.

Embora os juros cobrados no especial não sejam surpresa, já que os bancos informam suas taxas em qualquer extrato tirado pelos portadores do serviço, pesquisa feita no ano passado pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC) e pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) mostrou que mais da metade dos consumidores brasileiros (51%) simplesmente desconhecia os juros cobrados em caso de uso dos recursos.

Opções

Segundo Vieira, se o cliente entrar no especial, o recomendado é fugir dos juros exorbitantes da modalidade. E fazer, por exemplo, um empréstimo consignado ou de crédito pessoal, no próprio banco ou em outras instituições, para cobrir o rombo com parcelas razoáveis. “Vale destacar que o ideal, sempre, é que o consumidor nunca comprometa mais de 30% da renda com essas operações”, diz.

330% ao ano é a taxa de juros do cheque especial, cobrada na média dos cinco maiores bancos do país

 Levantamento do Banco Central relativo à primeira semana de janeiro comprova que as taxas praticadas pelos cinco maiores bancos do país – Bradesco, Caixa, Itaú, Santander e Banco do Brasil – para esses dois tipos de operação são muito mais vantajosas que as do cheque especial. Enquanto os juros do último variaram de 12,2% (Bradesco) a 14,75% (Santander) ao mês entre as cinco instituições, os do crédito pessoal oscilaram entre 4,25% (Banco do Brasil) e 6,04% ao mês (Bradesco).

No caso dos consignados, em que as parcelas são descontadas diretamente do salário do cliente, na conta corrente – uma garantia apreciada pelos bancos e que faz os juros serem menores –, as taxas foram de 1,67% (Santander) a 2,47% ao mês (Itaú), para servidores públicos, e de 2,46% (Caixa) a 3,13% ao mês (Itaú), para trabalhadores da iniciativa privada.

Monopólio

Um dos motivos apontados para explicar a exorbitância das taxas de juros do cheque especial é o risco que os bancos correriam ao conceder esse tipo de crédito aos clientes. Isso porque o uso dos recursos extras na conta se dá de forma automática para quem tem o serviço, sem avaliação da capacidade de pagamento do consumidor ou qualquer outra garantia à instituição. Isso explicaria um spread – a diferença entre o que os bancos pagam para captar dinheiro no mercado e o que ganham ao emprestar para os clientes –, no caso, tão elevado.

“No cheque especial, o spread que determina os juros se baseia no alto grau de inadimplência dessa modalidade de crédito, provocada também por essa falta de garantias, na margem pretendida pelos bancos e nos custos operacionais dessas transações”, explica o professor de Finanças e coordenador do curso de Administração do Ibmec/MG, Eduardo Coutinho.

Há, porém, outros fatores que podem influenciar as taxas, deixando-as ainda mais altas. O principal deles seria a grande concentração verificada no setor bancário nacional, que reduziria a competitividade entre as instituições. “São hoje cinco grandes bancos que dividem mais de 80% de tudo o que há no mercado. Como em qualquer segmento, se há tanta concentração, acaba havendo menor competição e quem perde é o consumidor”, diz Coutinho.

  

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