Arraiá de preços altos: comidas típicas das festas juninas estão até 150% mais caras

Paulo Henrique Lobato
24/05/2019 às 20:18.
Atualizado em 05/09/2021 às 18:49
 (Wesley Rodrigues)

(Wesley Rodrigues)

O São João em Belo Horizonte vai ser mais amargo do que o do ano passado. Os preços de alguns insumos usados na culinária típica da data, como o amendoim e o milho, dispararam. É o que revela dados da Ceasa Minas e do Índice de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA 15), que é a prévia da inflação oficial do país e foi divulgado ontem pelo IBGE. Festa junina boa não pode abrir mão de pé-de-moleque e paçoca. A má notícia é que a saca de 25 quilos do amendoim avançou 150%. 

Em 17 de maio de 2018, por exemplo, o preço “mais comum” para o produto com casca negociado na Ceasa Minas foi de R$ 120. Já em 16 deste mês, último dia cujo preço do insumo foi disponibilizado no site do entreposto, a cifra chegou a R$ 300. 
“Houve um aumento expressivo nas últimas semanas. Não é nem em razão da aproximação da festa junina. A base da informação para a alta considerável é a falta de oferta. Desta forma, neste ano, o aumento do preço ocorreu com antecedência (da data)”, lamentou Gilson Lopes, sócio do supermercado 2B.

Assim como o amendoim, a canjica e a pamonha também são figurinhas carimbadas nos arraiás. As iguarias, contudo, ficarão mais caras. Isso porque o valor do milho verde, usado no preparo de ambos produtos, avançou 38,2% na Ceasa, levando-se em conta as duas datas comparadas na evolução do valor do amendoim. 

O quilo do milho verde passou de R$ 0,68 para R$ 0,94. Vale lembrar que boa parte das vendas no entreposto são no atacado. Na prática, o custo é mais salgado para o consumidor varejista.

Alguns tradicionais caldos no São João também vão pesar mais no bolso. O feijão está 93,72% mais caro, como constatou o IPCA-15 relativo ao acumulado dos últimos 12 meses na Região Metropolitana de Belo Horizonte.

“Como o preço ao longo de 2018 foi abaixo da expectativa para o produtor, o fazendeiro reduziu a área plantada. Portanto, houve menor oferta em 2019”, resumiu Ricardo Martins, coordenador de Informações de Mercado do entreposto. A oferta foi reduzida ainda por uma estiagem no fim do ano passado, que queimou parte de lavouras.

Já a chuva afetou o preço de um ingrediente que dá sabor especial a diferentes pratos, o tomate. Na Ceasa, o preço médio entre os 20 primeiros dias de maio de 2019 foi 25,4% maior que no mesmo intervalo de 2018. Para o consumidor final, a inflação do produto, medida pelo IPCA-15, foi ainda maior: 42,17%.

Martins explica que o excesso de chuvas no início deste ano estragou lavouras. “A produtividade foi menor e o reflexo é inevitável. O quilo, aqui, foi para R$ 2,12. Em maio do ano passado, era R$ 1,69”, disse.

A disparada dos preços vai frear o lucro esperado por comerciantes. Gilberto Albuquerque, gerente de um restaurante no bairro Santa Terezinha cujo cardápio oferece 14 tipos de caldos, prevê aumento nas vendas, mas sem repassar toda a diferença à clientela. “Estimamos crescimento em torno de 20% nas vendas de caldos, mas preferimos absorver o encarecimento dos insumos”, justificou.

Queda

Por outro lado, um caldo bastante consumido ficará em mais conta na cozinha da dona de casa. O valor do quilo da mandioca despencou 36,9% na Ceasa, comparando a média do preço levantado pela equipe de Martins entre os 20 dias de maio de 2018 e o mesmo período de 2019. “O produtor plantou muito, porque há um ano e meio o preço era alto”, esclareceu.


Produtos para o São João sobem bem acima da inflação 

A disparada dos preços de muitos insumos para o São João foi bem acima da média da prévia da inflação na Região Metropolitana de Belo Horizonte, divulgada ontem pelo IBGE.

Para se ter uma ideia, o IPCA 15 ficou em 5% no acumulado dos últimos 12 meses. No Brasil, foi de 4,93%. Em maio, o indicador ficou em 0,46% na capital mineira e entorno. Neste caso, “dos cinco grupos que tiveram variações positivas, três apresentaram aumentos acima da média (0,46%): transportes (1,22%), saúde e cuidados pessoais (1,03%) e vestuário (1,02%)”, informou o IBGE. 

Quatro grupos apresentaram deflação: artigos de residência (-0,13%), educação (-0,11%), alimentação e bebidas (-0,08%) e comunicação (-0,01%). O IBGE concluiu que o grupo de transportes apresentou a maior elevação de preços no mês, reflexo de alta nos subitens etanol (6,56%), gasolina (4,05%) e óleo diesel (2,57%).

Só a gasolina impactou o índice geral em 0,22 pontos percentuais, sendo o maior dentre todos os subitens. “No grupo saúde e cuidados pessoais, o destaque foi para o grupamento de produtos farmacêuticos, que apresentou um aumento de 2,22%, impactando o índice geral de maio em 0,08 p.p”, destacou o IBGE.

Previsão

Uma boa notícia é que o preço do quilo do feijão, vilão dos caldos neste São João, deverá recuar em breve. Em maio, o grão recuou 6,31%, embora ainda continue bem alto em relação ao mesmo período do ano passado. “É uma tendência e deverá cair mais nos próximos dias”, acredita Ricardo Martins, coordenador de Informações de Mercado da Ceasa. Quem puder, recomenda ele, aguarde um pouco mais para as compras do São João.

Compartilhar
Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por