(Wesley Rodrigues)
O São João em Belo Horizonte vai ser mais amargo do que o do ano passado. Os preços de alguns insumos usados na culinária típica da data, como o amendoim e o milho, dispararam. É o que revela dados da Ceasa Minas e do Índice de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA 15), que é a prévia da inflação oficial do país e foi divulgado ontem pelo IBGE. Festa junina boa não pode abrir mão de pé-de-moleque e paçoca. A má notícia é que a saca de 25 quilos do amendoim avançou 150%.
Em 17 de maio de 2018, por exemplo, o preço “mais comum” para o produto com casca negociado na Ceasa Minas foi de R$ 120. Já em 16 deste mês, último dia cujo preço do insumo foi disponibilizado no site do entreposto, a cifra chegou a R$ 300.
“Houve um aumento expressivo nas últimas semanas. Não é nem em razão da aproximação da festa junina. A base da informação para a alta considerável é a falta de oferta. Desta forma, neste ano, o aumento do preço ocorreu com antecedência (da data)”, lamentou Gilson Lopes, sócio do supermercado 2B.
Assim como o amendoim, a canjica e a pamonha também são figurinhas carimbadas nos arraiás. As iguarias, contudo, ficarão mais caras. Isso porque o valor do milho verde, usado no preparo de ambos produtos, avançou 38,2% na Ceasa, levando-se em conta as duas datas comparadas na evolução do valor do amendoim.
O quilo do milho verde passou de R$ 0,68 para R$ 0,94. Vale lembrar que boa parte das vendas no entreposto são no atacado. Na prática, o custo é mais salgado para o consumidor varejista.
Alguns tradicionais caldos no São João também vão pesar mais no bolso. O feijão está 93,72% mais caro, como constatou o IPCA-15 relativo ao acumulado dos últimos 12 meses na Região Metropolitana de Belo Horizonte.
“Como o preço ao longo de 2018 foi abaixo da expectativa para o produtor, o fazendeiro reduziu a área plantada. Portanto, houve menor oferta em 2019”, resumiu Ricardo Martins, coordenador de Informações de Mercado do entreposto. A oferta foi reduzida ainda por uma estiagem no fim do ano passado, que queimou parte de lavouras.
Já a chuva afetou o preço de um ingrediente que dá sabor especial a diferentes pratos, o tomate. Na Ceasa, o preço médio entre os 20 primeiros dias de maio de 2019 foi 25,4% maior que no mesmo intervalo de 2018. Para o consumidor final, a inflação do produto, medida pelo IPCA-15, foi ainda maior: 42,17%.
Martins explica que o excesso de chuvas no início deste ano estragou lavouras. “A produtividade foi menor e o reflexo é inevitável. O quilo, aqui, foi para R$ 2,12. Em maio do ano passado, era R$ 1,69”, disse.
A disparada dos preços vai frear o lucro esperado por comerciantes. Gilberto Albuquerque, gerente de um restaurante no bairro Santa Terezinha cujo cardápio oferece 14 tipos de caldos, prevê aumento nas vendas, mas sem repassar toda a diferença à clientela. “Estimamos crescimento em torno de 20% nas vendas de caldos, mas preferimos absorver o encarecimento dos insumos”, justificou.
Queda
Por outro lado, um caldo bastante consumido ficará em mais conta na cozinha da dona de casa. O valor do quilo da mandioca despencou 36,9% na Ceasa, comparando a média do preço levantado pela equipe de Martins entre os 20 dias de maio de 2018 e o mesmo período de 2019. “O produtor plantou muito, porque há um ano e meio o preço era alto”, esclareceu.
Produtos para o São João sobem bem acima da inflação
A disparada dos preços de muitos insumos para o São João foi bem acima da média da prévia da inflação na Região Metropolitana de Belo Horizonte, divulgada ontem pelo IBGE.
Para se ter uma ideia, o IPCA 15 ficou em 5% no acumulado dos últimos 12 meses. No Brasil, foi de 4,93%. Em maio, o indicador ficou em 0,46% na capital mineira e entorno. Neste caso, “dos cinco grupos que tiveram variações positivas, três apresentaram aumentos acima da média (0,46%): transportes (1,22%), saúde e cuidados pessoais (1,03%) e vestuário (1,02%)”, informou o IBGE.
Quatro grupos apresentaram deflação: artigos de residência (-0,13%), educação (-0,11%), alimentação e bebidas (-0,08%) e comunicação (-0,01%). O IBGE concluiu que o grupo de transportes apresentou a maior elevação de preços no mês, reflexo de alta nos subitens etanol (6,56%), gasolina (4,05%) e óleo diesel (2,57%).
Só a gasolina impactou o índice geral em 0,22 pontos percentuais, sendo o maior dentre todos os subitens. “No grupo saúde e cuidados pessoais, o destaque foi para o grupamento de produtos farmacêuticos, que apresentou um aumento de 2,22%, impactando o índice geral de maio em 0,08 p.p”, destacou o IBGE.
Previsão
Uma boa notícia é que o preço do quilo do feijão, vilão dos caldos neste São João, deverá recuar em breve. Em maio, o grão recuou 6,31%, embora ainda continue bem alto em relação ao mesmo período do ano passado. “É uma tendência e deverá cair mais nos próximos dias”, acredita Ricardo Martins, coordenador de Informações de Mercado da Ceasa. Quem puder, recomenda ele, aguarde um pouco mais para as compras do São João.