‘Bancada dos parentes’ tem 16% da Câmara

Aline Louise - Hoje em Dia
08/10/2014 às 07:51.
Atualizado em 18/11/2021 às 04:31
 (Facebook/Divulgação)

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A “bancada de parentes” eleita para a próxima legislatura na Câmara Federal cresceu em relação às eleições de 2010, segundo levantamento do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap). Dos 513 deputados federais escolhidos pelos eleitores no domingo (5), pelo menos 82 (16%) são parentes de outros políticos. Destes, 42 vão exercer, a partir de janeiro de 2015, o primeiro mandato, e 40 foram reeleitos. Nas eleições de 2010 foram eleitos 78 parlamentares com vínculos familiares. Na bancada mineira, dos 53 deputados federais eleitos, nove são parentes de políticos, sendo que seis vão estrear no Legislativo. É o caso do filho do ex-governador de Minas Gerais Newton Cardoso e da ex-deputada Maria Lúcia Cardoso, o empresário Newton Cardoso Jr, todos do PMDB. “Com certeza, eu herdei muitos votos do meu pai e da minha mãe, apesar de surpreendentemente ter conseguido mais votos que esperava em cidades onde os meus pais não são tão fortes”, diz o político de primeira viagem.

Outro “filho de peixe” é o bacharel em ciências sociais Caio Nárcio (PSDB), filho do tucano Nárcio Rodrigues, ex-deputado e ex-secretário de Ciência e Tecnologia de Minas Gerais. “Sem o nome do meu pai, certamente eu não teria conseguido me eleger”, afirma o novo parlamentar.

Assembleia

Na Assembleia Legislativa de Minas Gerais, dos 26 novos deputados que vão exercer o primeiro mandato a partir de janeiro de 2015, oito são parentes de políticos. Também o são 12 dos reeleitos. Todos “herdaram” da família o desejo pela vida pública e votos. Irmã do atual presidente da Casa, deputado Dinis Pinheiro (PP), candidato a vice na chapa do derrotado Pimenta da Veiga (PSDB) ao governo de Minas, a empresária Ione Pinheiro, eleita deputada estadual pelo DEM, reconhece que teve muita ajuda fraternal. “Claro que ele me ajudou, ele me influenciou e é o responsável por esta conquista. Ele tem prestígio, ajudou a mim e vários outros. Ele é diferenciado, sabe ouvir e sentir o próximo, é uma referência forte”, elogia.

Ione lembra que vem de uma família de políticos. O pai, Tonico Pinheiro, foi prefeito; o outro irmão, Toninho Pinheiro, é deputado federal e foi prefeito de Ibirité por três mandatos. “Eu sempre estive com eles nesta luta, participando de campanha, na administração. Já fui secretária em Ibirité, chefe de gabinete, trabalhei com o Dinis na Assembleia. É uma luta de uma vida, não é de um dia para o outro. Tem muita história”. Tendo Dinis Pinheiro como seu “líder”, Ione pretende dar continuidade a algumas bandeiras do irmão no Legislativo, como a defesa da saúde, a ajuda aos municípios pequenos, sem esquecer das mulheres. “É a força de uma mulher trabalhadora na Assembleia”.

Estreante na ALMG, Léo Portela segue os passos do pai há 16 anos

O advogado, administrador e pastor Léo Portela (PR) é outro herdeiro político que segue os passos do pai, o também pastor e deputado federal há cinco mandatos, Lincoln Portela (PR). Estreante no Parlamento mineiro, ele conta que dos seus 33 anos, 16 têm sido dedicados à política.

“Apesar de eu ser presidente do PR de Belo Horizonte, já ter coordenado as cinco campanhas eleitorais do meu pai, ter sido presidente da Prodemge, entre outros cargos públicos, muitas pessoas ainda não me conheciam, então, a referência do meu pai foi muito importante. Pela credibilidade do trabalho dele votaram em mim. Ele é meu grande exemplo de homem público, o único parlamentar com 100% de presença, com atuação reconhecida. Sua vida pública correta é algo que me inspirou a militar politicamente”, diz.

Apesar de ter o pai como referência, Léo Portela também destaca as diferenças entre os dois. “Cada um tem suas características. Pelo fato de eu ser mais jovem, tenho maior atuação nas mídias sociais, tenho um diálogo mais próximo com a juventude e seus problemas. Mas nós dois temos o mesmo pensamento político de ter um trabalho presente nas bases, uma atuação comprometida com a assiduidade no trabalho”, revela.

Em seu mandato, que começa em janeiro de 2015, Léo Portela diz que terá como foco a segurança pública e o combate às drogas. Ele avalia que a renovação na Assembleia Legislativa de Minas Gerais foi pequena “perto do desejo de mudança que indicaram as manifestações de rua do ano passado”. Quanto à mudança drástica que sofrerá o governo estadual a partir do ano que vem, quando se encerra um ciclo de 12 anos de gestão tucana, com a posse de Fernando Pimentel (PT), Léo acredita que essa alternância é positiva.

“O governo Anastasia (PSDB) trouxe para o Estado uma gestão moderna, deixou um legado importante, mas a alternância será boa para o Estado. Conheço Pimentel, tenho um bom relacionamento com ele, embora tenha posicionamentos pessoais diferentes de algumas bandeiras do PT. Mas, como gestor público, é uma pessoa que respeito”.

Especialista vê caráter personalista da política

Para o cientista político e professor da UFJF Paulo Roberto Figueira, o fato de políticos tradicionais conseguirem eleger seus parentes quando se engajam nestas empreitadas reflete o caráter “personalista” da política brasileira. “Os eleitores estabelecem relação com os candidatos e não com os partidos, e o modo mais claro de perceber isso é quando votam tem parentes indicados por eles”.

Para o especialista, essa realidade evidencia a necessidade de uma reforma política que fortaleça os partidos e o voto ideológico. “Ser parente de algum político conhecido não garante que aquele candidato é capaz. Isso mostra, mais uma vez, a fragilidade da estrutura partidária brasileira”.
 

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