Bancos colocam obstáculos para acordo com inadimplentes

Tatiana Lagôa
tlagoa@hojeemdia.com.br
28/01/2017 às 10:15.
Atualizado em 15/11/2021 às 22:36

A limitação do uso do crédito rotativo a 30 dias, imposta pelo Conselho Monetário Nacional, forçará que os clientes inadimplentes negociem com os bancos o financiamento da dívida por meio de outras linhas de crédito. O problema é que 60,8% dos clientes que tentam negociar dívidas diretamente com as instituições financeiras encontram dificuldades para fechar o acordo, segundo pesquisa do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec).

O levantamento será divulgado com detalhes pela instituto na próxima segunda-feira. Mas o Hoje em Dia teve acesso à informação de que seis a cada dez brasileiros entrevistados pelo Idec alegam enfrentar entraves na hora de renegociar as dívidas com os bancos.

“Hoje o que os bancos oferecem para os inadimplentes basicamente é o refinanciamento, impondo outra taxa de juros para aumentar o prazo”, justifica a economista do Idec, Ione Amorim. 

Mas o ideal, segundo ela, seria a tomada de empréstimo em modalidades mais baratas para quitar a dívida. Nesse caso, o montante da dívida deveria ser diminuído, uma vez que ela seria paga integralmente com o valor tomado. O que seria interessante para o consumidor mas não para os bancos. 

Além de as instituições financeiras não oferecerem essa opção, elas ainda travam alguns empréstimos com a justificativa de que o limite de endividamento do consumidor, medido pela renda, bateu o limite. 

E, por fim, existem os casos em que os bancos ofertam na negociação o chamado crédito com garantia. Nesse caso, a pessoa é obrigada a atrelar algum bem ao débito. E a não quitação leva à perda do que foi dado como garantia.

Essa dificuldade de negociação pode ser agravada agora que o não pagamento do rotativo torna o cliente inadimplente. Antes, bastava o consumidor pagar o mínimo de 15% do valor devido no mês para que o restante continuasse na base da dívida acrescida dos juros. 

Mas, como lembra a professora de economia da Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (Fecap), Juliana Inhasz, o objetivo do governo é forçar uma redução dos juros praticados no cartão. E, de quebra, a medida ainda deverá obrigar os brasileiros a terem um maior controle financeiro. “Como depois de 30 dias as pessoas terão que negociar a dívida ou ficar inadimplentes, elas vão pensar mais antes de gastar”, afirma. 

O maior controle financeiro e uma possível redução dos juros são muito bem vistos pelo comércio. “Os juros dos cartões estavam ficando inexplicáveis. Se o dinheiro dos brasileiros não for consumido pelos juros, pode ser usado em compras”, afirma o vice-presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL-BH), Marco Antônio Gaspar. 

A Federação Brasileira de Bancos (Febraban) não comentou a pesquisa do Idec. Mas, em nota, dá algumas dicas de como negociar as dívidas com as instituições financeiras. Dentre elas, estão ampliação do prazo de pagamento, pesquisa das taxas de juros oferecidas por outras instituições e aproveitamento de mutirões de renegociação feitos pelos bancos.

Já a Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (Abecs), também em nota, afirma que as emissoras de cartão estão trabalhando para se adequar à norma. 

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