Bares e restaurantes preveem caos econômico e social com novo fechamento

Evaldo Magalhães
efonseca@hojeemdia.com.br
07/01/2021 às 19:44.
Atualizado em 05/12/2021 às 03:52
 (Divulgação)

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O setor de bares e restaurantes, que, segundo a Abrasel-MG, foi reduzido de 12 mil para 8 mil estabelecimentos na capital em 2020, em razão de restrições impostas pela prefeitura no combate à Covid-19, prevê um cenário de “caos social e econômico” ainda maior a partir de segunda-feira (11), quando as atividades serão novamente interrompidas.

E o maior problema detectado por empresários do segmento não é apenas a paralisação do atendimento direto ao público, que pode durar semanas e ser relativamente compensada pelo incremento do delivery. É a completa falta de alternativas financeiras para enfrentar o período sem contar com clientes presenciais, ao contrário do que ocorreu no ano passado. 

“Agora, não temos mais a possibilidade de reduzir jornadas e salários ou suspender contratos de colaboradores, não há mais o auxílio-emergencial que ajudou a economia como um todo e nem crédito facilitado para capital de giro”, afirma Fabiano Aguiar, de 37 anos, um dos proprietários da rede Almanaque, com cinco casas na cidade - eram seis, mas uma foi fechada em razão da crise. 

“Estamos levando prejuízo desde março. Só que, com o novo fechamento, anunciado mais uma vez de forma unilateral, a situação se agrava. Muitas casas vão ficar sem faturar, sem poder alterar contratos dos funcionários, que gozam de estabilidade, e sem dinheiro sequer para fazer acertos. Nem para pagar fornecedores, aluguel, nada. Vai ser uma moratória”, acrescenta o empresário, que no ano passado dispensou cerca de 60 dos 150 empregados da rede. 

O proprietário da Mercearia 130, Marco Lucchese, que conta com dois bares/restaurantes na cidade, além de um serviço apenas para delivery e de um sacolão, vive situação semelhante e teme pelo pior nos próximos dias, caso o fechamento se concretize sem a possibilidade de flexibilizações. Lucchese critica a medida da pela Prefeitura, que deve ser oficializada hoje, por meio de decreto.

“Não são os bares e restaurantes que fazem as infecções aumentarem. Isso ficou provado quando reabrimos entre setembro e outubro, e os casos não subiram. Acho que o prefeito está tentando resolver um problema gerando outro, social e econômico. Desse jeito, caminhamos para um colapso”, sustenta. 

Também para o presidente da Abrasel-MG, Matheus Daniel, o “caos” se avizinha, com previsão de mil estabelecimentos fechados a mais em virtude do novo impedimento da Prefeitura, e 5 mil demissões. “A gordurinha que tínhamos para queimar em 2020 acabou. Hoje, boa parte do setor está endividada. Precisamos reverter essa decisão e vamos buscar o diálogo”, afirma Daniel. “Caso isso não aconteça, podemos ir à Justiça”, completou. Ontem, Abrasel-MG, CDL e outras entidades pediram reunião com a PBH, que não respondeu se acataria o pleito até o fechamento desta edição.

 Aumento do gás comprova que ‘desgraça pouca é bobagem’ 

 O dito popular segundo o qual “desgraça pouca é bobagem” veio bem a calhar para os donos de bares e restaurantes da capital. Na quarta-feira (6), mesmo dia em que a Prefeitura de BB anunciou a intenção de suspender o funcionamento presencial dos estabelecimentos, a partir de segunda-feira, a Petrobras confirmou o primeiro aumento do Gás Liquefeito de Petróleo (GLP) do ano, da ordem de 6%, depois de ter reajustado em 5% em 3 de dezembro. 

O aumento, válido a partir de ontem, segue a alta do preço do petróleo no mercado internacional, que na quarta-feira fechou cotado a US$ 54,30 o barril do tipo Brent. Em 2020, a alta do GLP foi de 21,9%. A alta afeta tanto o GLP 13 Kg, o chamado gás de cozinha, que será vendido nas refinarias a R$ 35,98 o botijão, correspondente a 46% do preço total, quanto o GLP a granel, utilizado por indústrias, comércio, condomínios, academias, entre outros.

Segundo o presidente da Abrasel-MG, Matheus Daniel, o reajuste é mais uma péssima notícia para quem trabalha com alimentação. “Já estávamos impactados pelo enorme subida de preços de outros insumos no ano passado (arroz, óleo de soja etc). Não temos como absorver mais esses aumentos”, afirma ele.

A eventual incorporação da elevação do gás aos custos dos restaurantes pode ser repassada aos consumidores, mas isso tende a ser um “tiro no pé” em um cenário de incertezas econômicas, de queda de renda das famílias e de possível crescimento do desemprego, previsto por analistas para os próximos dias. 

Para contornar o problema, os empresários terão de usar criatividade. “Não pretendo fazer demissões, colocando à mercê do INSS pessoas que precisam da renda tanto quanto. Não desejo isso, mas o problema é que não sei quanto fôlego terei”, diz Marco Lucchese, da Mercearia 130. “O jeito, penso, vai ser focar ainda mais no delivery, diminuir a jornada de trabalho de alguns colaboradores, fazer banco de horas. Tudo para preservar o negócio e os empregos”, acrescentou.

ALÉM DISSO:

Conforme fontes oficiais que lidam com abertura e fechamento de empresas, BH não registrou tantos encerramentos como os alegados por algumas entidades de classe de comércio e serviços, responsáveis por quase 87% da economia da cidade, em razão da pandemia.
O Painel das Empresas do governo federal, que traz tais dados de todo o país, indica, por exemplo, que, entre janeiro e novembro, a capital teve 21.746 empreendimentos formalmente encerrados. A título de comparação, em 2019 (incluindo dezembro), o número foi bem maior: 25.135.

Já em relação ao desemprego, o quantitativo chama a atenção. De acordo com o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), em 2020, a capital perdeu 6.982 postos no comércio e 12.526 nos serviços. Ou seja, 19,5 mil vagas fechadas. De março a julho, o saldo negativo nos dois segmentos foi de 38.054 postos de trabalho.

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