Barrados no bar: empresários se antecipam à 'Lei dos Canudinhos' e movimentam a economia

Janaína Oliveira
05/07/2019 às 21:46.
Atualizado em 05/09/2021 às 19:25
 (Lucas Prates)

(Lucas Prates)

Pelo menos 20 cidades do país já transformaram a “guerra” aos canudos de plástico em lei, como Rio, São Paulo, Montes Claros e Uberaba. E esses tubos pouco amigos do meio ambiente podem estar com os dias contados também em Belo Horizonte. Nos próximos dias, deve ser votado em segundo turno projeto que proíbe a comercialização e oferta dos canudinhos tradicionais em bares, lanchonetes e restaurantes da capital mineira. Pensando nisso e na sustentabilidade, empresários do setor se anteciparam e já oferecem à clientela opções mais ecológicas para beber o suco ou o drink. 

E tem de tudo um pouco: canudos duráveis de aço inox, de macarrão (comestível), de papel, bambu, feito à base de milho, entre outras invenções. No Bar e Choperia Redentor, na Savassi, que utiliza cerca de 4.800 canudinhos, em média, por mês, desde janeiro os produtos de plástico saíram de cena e deram lugar aos tubos de macarrão grano duro. 

Segundo o empresário Daniel Ribeiro, um dos sócios da casa, a solução surgiu após testes com outros tipos de materiais, como vidro e metal. “Devido ao fato da nossa operação ser muito grande, eles não são tão práticos para trabalhar”, disse ele. O canudo de papel também foi testado, porém, segundo o empresário, levou bomba por alterar o sabor das bebidas. 

A alternativa não é barata. A unidade do canudo de macarrão sai por R$ 0,14, enquanto o artigo de plástico custa R$ 0,4. “Mas o investimento vale à pena. Os frequentadores acharam divertido e ecológico, e tem gente que até come o canudinho”, conta. 

No Néctar da Serra, o cliente já bebe o suco ou a água de coco com o canudo cuja matéria-prima é o milho. Segundo a proprietária Júnia Quick, os utensílios biodegradáveis custam entre quatro e cinco vezes mais caros do que os de plástico, mas o retorno chega em forma da preservação do planeta – levam apenas seis meses para a decomposição – e da satisfação do público, que tem esse perfil mais ecologicamente correto. 

Nicho

Por enquanto, o produto é comprado de um fornecedor de São Paulo. “Mas as pessoas estão se movimentando e começando a buscar soluções para esse novo nicho de mercado aqui também”, diz. RIVA MOREIRA

No Néctar da Serra, da empresária Júnia Quick, o cliente já bebe suco ou água de coco com o canudo feito de milho

A engenheira ambiental Mayra Rodesky, 28 anos, teve visão e, no final do ano passado, abriu a BeEco, empresa familiar que produz e vende canudos de aço inox. “O produto convencional representa 4% de todo o lixo plástico do mundo e esses resíduos vão parar no fundo do oceano, impactando a vida marinha. Já o tubo de aço não quebra ou estraga e a pessoa pode carregar pra todo tipo de programa”, diz. 

Entre os parceiros de Mayra no negócio estão a avó de 88 anos, duas tias-avós, a mãe, uma prima e a irmã caçula de 19 anos. “Um amigo do interior que tem o maquinário apropriado faz os canudos e nos envia. Na mesa da casa da minha avó, fazemos o polimento, lixamos, limpamos cuidadosamente e embalamos as peças em sacos 100% feitos por três costureiras”, conta. 

Pela proposta em tramitação na Câmara de BH, o infrator estará sujeito ao pagamento de multa no valor de R$ 5 mil

Hoje, a produção está na casa de 900 canudinhos por semana. Os produtos são vendidos em lojas com “pegada” ambiental e natureba, além de restaurantes, como o do Posto Chefão, na BR-040, em Nova Lima. O preço sugerido da unidade varia de R$ 25 a R$ 29. “O objetivo não é ficar rica, mas ajudar o planeta e dar oportunidade de trabalho e renda”, afirma. 

Despesa com a troca do plástico vai cair na conta do cliente

Bandeira dos movimentos ambientalistas, a expectativa entre os vereadores é a de que a o projeto de lei que proíbe a comercialização e fornecimento de canudos de plásticos – já aprovado nas comissões e em primeiro turno – passe com certa facilidade pela votação em segundo turno na Câmara Municipal. Com o sinal verde, a proposta segue para sanção ou veto do prefeito Alexandre Kalil (PSD). 

De autoria do vereador Elvis Côrtes, o PL 614/2018 prevê, ainda, que os materiais sejam substituídos em um prazo de seis meses. Caso a medida seja descumprida, o infrator estará sujeito ao pagamento de multa no valor de R$ 5 mil. Em caso de reincidência, a quantia pode dobrar, passando para R$ 10 mil. Redentor Bar/Divulgação

Daniel Ribeiro, do Bar Redentor, já aderiu aos canudinhos de macarrão: “clientes acham divertido”

Para o presidente da Associação de Bares e Restaurantes de Minas Gerais (Abrasel-MG), Ricardo Rodrigues, os canudos de plástico se tornaram os novos vilões do planeta e a lei que os proíbe virou referência da preservação do ecossistema. 

No Birosca, no Santa Tereza, a preocupação com o meio ambiente colocou os canudos de plástico para escanteio. A opção adotada é o produto de papel, comprado de um fornecedor de São Paulo

“É um ícone e o banimento pode até trazer benefícios para a natureza. Mas isso não vai resolver o problema ambiental, além de gerar um custo extra para as empresas do setor de bares e restaurantes, que já sofrem com a crise e os aumentos de tributos, do gás e da conta de água, entre outros”, diz. 

Segundo ele, a despesa com os utensílios aumentarão entre 20% e 30%. “A conta acaba caindo no colo do consumidor”. Para Rodrigues, mais interessante que a proibição seria a realização de campanhas educativas. 

“O problema não é o canudo de plástico. É a conduta. Temos que repensar o descarte”, defende a presidente do Sindicato Patronal da Indústria do Plástico em Minas (Simplast), Ivana Serpa. 

Segundo ela, a falta de conscientização faz com que a taxa de reciclagem seja inferior a 50%. “Proibir os canudos de plástico é decretar a morte de várias fábricas que não possuem outra finalidade e outra tecnologia”, lamenta.

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