Barragem em risco de desmoronamento leva pânico a moradores de Barão de Cocais

Da Redação
19/05/2019 às 09:24.
Atualizado em 05/09/2021 às 18:43

Barão de Cocais é uma cidade onde o medo se renova. Menos de dois meses depois de a barragem Sul Superior, da Vale, no município, ter seu nível de segurança elevado para 3 - o que significa ruptura a qualquer momento -, a população do município passou a ter motivo para se preocupar ainda mais. Agora, pelo risco do talude da cava da mina da empresa desmoronar, provocando abalo sísmico e uma possível ruptura da barragem Sul Superior, localizada a 1,5 quilômetro.

Entre o anúncio da ruptura iminente, em 22 de março, e a constatação de risco para o talude, em 13 de maio, transcorreram exatos 52 dias. "Os mais afetados são os idosos e as crianças", relata o padre José Antonio de Oliveira, do Santuário de São João Batista na cidade. "Um grupo grande de moradores já vive a experiência concreta de ficar sem casa. Deixaram tudo para trás: animais, sua história. Não é algo fácil."

O religioso, de 67 anos, está há três anos na cidade e é o refúgio de moradores aflitos com a possibilidade de ruptura da barragem da Vale no município, a partir deste domingo. "O que vivemos é um terrorismo psicológico", afirma o padre.

O religioso diz ser grande o número de relatos de doenças relatadas pelos fiéis. "Atendo muita gente com depressão e com outras doenças que agora se agravaram." O clima na cidade, segundo o padre, é de insegurança e apreensão. "O simulado, o meio-fio pintado. Tudo isso é um terrorismo psicológico. Cria um ambiente pesado", diz. A tinta no meio-fio serve para marcar o alcance da lama.

Zona de autossalvamento. Entre as pessoas que já tiveram de deixar suas residências está a analista administrativa Élida Geralda Couto, que morava em Socorro, distrito de Barão de Cocais localizado na chamada zona de autossalvamento da barragem, ou seja, muito próximos da represa, a ponto de as pessoas não conseguirem escapar em caso de rompimento da barragem.

Élida, hoje, mora na cidade em uma casa com aluguel pago pela Vale. "Nossa vida está em Socorro. A cada dia acontece uma coisa diferente. Agora, é a questão do talude. Estão nos matando aos poucos", afirma. A comunidade de Socorro foi retirada de suas casas em 8 de fevereiro, antes da elevação do nível de segurança da barragem a 3. Naquele momento, todos foram levados para hotéis.

Alguns, no entanto, não saíram de suas casas, como é o caso de Lindaura de Lourdes Mateus, de 51 anos. "A gente tem fé de que vai voltar para casa." A ex-moradora de Socorro reclama de falta de informações por parte da Vale. "Não falam nada."

Ness sábado (18), o Ministério Público de Minas emitiu recomendação para que a empresa repasse a situação da barragem e diga aos moradores o que pode acontecer com a estrutura. Em nota ontem, a Vale disse que vem mantendo a população informada. 

A Vale

Em nota publicada em seu site, a mineradora Vale informou que "continua atuando juntamente com os órgãos públicos no esclarecimento da população de Barão de Cocais".  E que, nesse sábado (18), "cerca de 1.600 moradores da Zona de Segurança Secundária (ZSS) da cidade participaram de um novo simulado de emergência de barragens. A ação, de caráter preventivo, foi realizada pela Defesa Civil estadual, com apoio da Vale, das Polícias Civil e Militar, do Corpo de Bombeiros Militar e da Prefeitura Municipal. A Vale participou da atividade com 350 funcionários e prestou todo apoio logístico aos órgãos competentes", informou.

* Com Estadão Conteúdo 

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