BH tem até 300 mil metros quadrados de salas e andares comerciais vagos

Felipe Boutros
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22/09/2017 às 19:34.
Atualizado em 15/11/2021 às 10:41
 (Flávio Tavares)

(Flávio Tavares)

 O mercado de salas e andares corridos comerciais em Belo Horizonte sofre com a falta de inquilinos. Empolgadas com a alta demanda no fim da década passada, as construtoras lançaram diversos empreendimentos do tipo e, hoje, com a crise, há mais oferta do que demanda. A estimativa é de que exista até 300 mil metros quadrados de salas e lajes corporativas desocupadas na capital.

“Calculo que atualmente exista no mercado uma oferta de salas e andares corridos que não vai ser consumida nos próximos dois ou três anos. É difícil especificar, mas acredito que deva existir até 300 mil metros quadrados de salas e lajes corporativas desocupadas em Belo Horizonte”, diz o vice-presidente das corretoras da Câmara do Mercado Imobiliário de Minas Gerais (CMI-Secovi), Breno Donato.

Segundo ele, no auge do mercado, grandes empreendimentos eram inteiramente comercializados em questão de dias. Hoje, no entanto, há prédios entregues em 2014 que estão com apenas 20% de ocupação.

Imóveis lançados com pompa, como o Parque Avenida, da Odebrecht, e o Paisagem Escritório Parque, da EPO, ambos no bairro Santa Lúcia, são o retrato do momento atual do setor. Nos dois complexos sobram salas para alugar, segundo relatos dos próprios inquilinos.

A Odebrecht informou que ocupação do seu empreendimento “vem ocorrendo de forma gradativa, com a perspectiva que se intensifique em decorrência dos sinais positivos que a economia do país começa a apresentar”. Já a EPO declarou que o consulado dos EUA alugou um edifício inteiro e um centro clínico vai ocupar outros 3.000 metros quadrados.

A recessão é outro fator que pesa. Além da desconfiança de investidores, muitas empresas cortaram o número de funcionários e tiveram a demanda pelo espaço físico da instalações reduzida.

Aluguéis

A grande oferta de salas atrapalha a vida de quem investiu pensando em ter retorno com aluguel. De acordo com o índice FipeZap, – que acompanha o preço médio de conjuntos e salas comerciais de até 200 metros quadrados, o valor do metro quadrado para locação caiu quase 5% entre julho de 2016 e julho deste ano, sem descontar a inflação.
Breno Donato explica que muitos proprietários estão adotando medidas para minimizar o prejuízo, já que eles têm que arcar com o IPTU e o condomínio do imóvel fechado.

“Em 2008, era quase impossível achar uma sala para alugar em BH. Hoje, já tem dono de sala e laje corporativa dando carência de até 180 dias no valor do aluguel”, afirma.

Há quatro anos, juntamente com o pai, Gabriel Gontijo comprou um imóvel no bairro Buritis quando o empreendimento ainda estava na fase de lançamento. Entregue há um ano, a sala segue vazia. Segundo ele, em todo o prédio, só 30% dos imóveis estão ocupados.

“Inicialmente, estávamos querendo manter o preço do aluguel, mesmo com a crise. Mas os preços estão muito abaixo do esperado. Quase fechamos um contrato na semana passada oferecendo um desconto, mas a pessoa interessada achou outra sala com carência de três meses”, diz Gontijo, que tem uma despesa de R$ 300 por mês com o imóvel, somando condomínio e IPTU.


Retomada do mercado deve demorar entre dois e três anos

Tradicionalmente, o preço do aluguel de salas e andares corporativos sempre foi maior do que o de imóveis residenciais. No boom do mercado imobiliário, no final da década passada, chegou a 1% do valor venal do imóvel. Hoje, esse valor está estabelecido em torno de 0,3%, praticamente igualando os dois tipos de empreendimentos.

Para Breno Donato, do CMI-Secovi, o mercado deverá demorar entre dois a três anos para se normalizar. “As construtoras vão ficar uns bons anos sem produzir, mas quando tiver demanda, voltam a investir. Poderiam ter construído a metade e, assim, os ciclos ficariam mais dinâmicos. Mas ninguém contava com essa recessão”, diz.Flávio Tavares

Placa de aluga- se estampa prédio comercial no coração da Savassi

Mas se o momento não é bom para proprietários que estão com seus investimentos parados, especialistas afirmam que quem procura um imóvel como usuário final pode aproveitar a baixa do mercado. O gerente comercial da Patrimar, Fenelon Matos, explica que dois de seus lançamentos têm 90% de compradores como usuários finais.

“Apostamos em diferenciais como o investimento em itens como o reaproveitamento de água de chuva e lâmpadas de LED, o que gera sustentabilidade e economia. Você mostra isso para o cliente e ele vê vantagem, já que as tarifas públicas têm muito impacto nas contas”, diz Matos.

Breno Donato sugere que neste tipo de negócio o ideal é uma entrada baixa aliada a um financiamento. O coordenador do curso de Administração do Ibmec, Eduardo Coutinho, alerta que a pessoa que possui algum capital deve ponderar se vale a pena investir no imóvel ou em alguma aplicação financeira na qual o retorno seja mais alto que o aluguel ou a prestação.

Ele explica que para maximizar as vantagens desse tipo de negócio o indicado é combinar a melhor localização com o menor preço possível. Coutinho analisa que o mercado de imóveis deve ser considerado a longo prazo, mesmo estando atualmente em um momento ruim.

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