Besta, arma medieval usada por autores de massacre, pode ser comprada na internet e em loja de pesca

José Vítor Camilo
13/03/2019 às 15:25.
Atualizado em 05/09/2021 às 17:46
 (REPRODUÇÃO / INTERNET)

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Uma arma fatal, mas que pode ser comprada por qualquer pessoa com mais de 18 anos e, até mesmo, pela internet. Esta é a besta ou balestra, arma medieval que é uma espécie de arco e flecha horizontal com gatilho e, em alguns casos, até mesmo miras de precisão. Uma arma semelhante foi utilizada pelos dois ex-alunos que invadiram na manhã desta quarta-feira (13) a Escola Estadual Raul Brasil, em Suzano, na Grande São Paulo, e fizeram um atentado que terminou com dez pessoas mortas, entre eles os atiradores. 

Em sites de comércio online, a besta pode ser comprada por preços que variam de R$ 180 a R$ 3 mil, dependendo de quantas libras de pressão a arma possui. O Hoje em Dia entrou em contato com uma loja de caça e pesca da capital mineira, onde uma besta pode ser adquirida por valores que variam de R$ 930 a R$ 1.050, todas com 150 libras de pressão, uma das mais potentes. "Para comprar basta ter mais de 18 anos. Fazemos um cadastro da pessoa na hora e emitimos nota fiscal no nome do comprador", disse um vendedor que não quis ser identificado. 

A reportagem também entrou em contato com clubes de tiro, sendo que em nenhum deles é possível praticar a mira com este tipo de arco e flecha. "Eu até vendo uma que tenho aqui, por R$ 2 mil, mas não temos estrutura para praticar esse tipo de arma, só mesmo as de fogo. Mas trata-se de uma arma muito fatal, pois tem uma pressão enorme. É possível achar vídeos na internet e, dependendo da besta, a flecha consegue atravessar até o tronco de um coqueiro", explica o funcionário de um dos estabelecimentos. 

Segundo o dono de outro clube de tiro, que também pediu para não ser identificado, a besta ou balestra foi uma das primeiras armas de caça inventadas, tendo sido usada também por exércitos em guerras na idade média. "As pessoas usam muito para caça e até mesmo para pescar, já que é uma arma de pressão e não de fogo. Mas é muito letal, já que o acionamento é feito por uma corda elástica que lança a flecha com muita pressão. Eu, como praticante de tiro, fico indignado ao ver uma situação como este massacre, porque eu sou pai. É um absurdo alguém entrar em uma escola atirando", disse. 

Ainda segundo o proprietário, os usuários deste tipo de arco e flecha só possuem um local para treinar: um espaço cedido pelo governo de Minas para a prática do esporte, ao lado do Mineirinho, na Pampulha. A Federação Mineira de Arco e Flecha, responsável pelos treinos, que acontecem sempre aos sábados, foi procurada, porém, ninguém atendeu às ligações. 

O massacre 

O comandante-geral da Polícia Militar, Marcelo Salles, informou que os dois suspeitos, Luiz Henrique de Castro, que completaria 26 anos no sábado (16), e um adolescente de 17 anos, ambos ex-alunos da escola, usaram um revólver calibre 38 e a arma medieval no atentado. Até o momento, pelo menos 10 pessoas morreram no ataque, entre eles, os dois suspeitos.

Segundo os policiais, os atiradores atacaram, inicialmente, uma loja de veículos próxima ao colégio, onde um tio de um dos suspeitos foi baleado. Depois disso, eles estacionaram o carro, um Ônix branco com placa de Belo Horizonte, na porta da escola e entraram pelo portão da frente. Eles chegaram atirando na coordenadora pedagógica, num funcionário e nos estudantes.

Salles disse ainda que os estudantes atacados estavam na hora do recreio. De acordo com ele, os atiradores se suicidaram em um dos corredores da escola. Na parte externa do colégio, o governador de São Paulo, João Doria, disse ter visto nesta quarta as cenas mais tristes da sua vida. Ele cancelou a agenda e seguiu para o local com autoridades de segurança pública e da área de educação do Estado.

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