Briga por mais recursos para campanhas ganha força na pauta do congresso

Filipe Motta
fmotta@hojeemdia.com.br
27/01/2017 às 23:57.
Atualizado em 15/11/2021 às 22:36
 (Alex Ferreira / Câmara dos Deputados)

(Alex Ferreira / Câmara dos Deputados)

Deputados federais e senadores retornam do recesso parlamentar de olho no dinheiro que os partidos terão em mãos em 2018. O atual modelo de financiamento eleitoral, que proibiu a doação de empresas, tem sido considerado insuficiente para as campanhas para os cargos de governador, presidente e deputado, que demandam gastos superiores com deslocamentos e publicidade, em comparação ao montante utilizado nas disputas para vereador e prefeito.

As alterações precisam ser aprovadas um ano antes das eleições para que possam valer, o que exige sintonia fina entre os parlamentares para que não haja grandes obstruções aos projetos sobre o tema ao longo do ano. No momento, no entanto, ainda proliferam visões distintas sobre a matéria.

Ainda não é possível saber o impacto que a regra atual teria sobre as campanhas nacionais e estaduais, mas para efeito de comparação, em 2016, a soma do arrecadado de todos os candidatos a prefeito e vereador no Brasil, no primeiro turno, foi de R$ 2,55 bilhões. O número representa 48% do total de 2012, eleição em que empresas ainda podiam doar e a soma alcançou R$ 5,31 bilhões, aponta o Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

No ano passado, além de recursos do fundo partidário, que é distribuído pelo TSE entre os partidos de acordo com o número de deputados federais, as campanhas puderam contar com doações pessoais.

“É fundamental que se discuta o assunto do financiamento. Não dá para ignoramos que houve problemas graves com o novo modelo. Não acho que possamos voltar a ter campanhas milionárias como no passado, mas é ilusão achar que a proibição de doações de pessoas jurídicas traz pureza à política”, critica o deputado federal e presidente estadual do PSDB Domingos Sávio.

Ele lembra que mesmo com o modelo atual, a Justiça Eleitoral tem investigado casos em que empresas doaram para candidatos, indiretamente, “esquentando” dinheiro por meio de terceiros que repassaram o dinheiro para políticos.

Distorções
Para além das fraudes, o cientista político Lucas Cunha aponta distorções no modelo atual, que podem se perpetuar na campanha do ano que vem. O que chama mais a sua atenção é a possibilidade de o candidato se auto-financiar com grandes quantias, o que favorece os muito ricos. Em São Paulo, por exemplo, João Dória (PSDB) foi eleito doando quase R$ 3 milhões dos R$ 7,3 que arrecadou. O temor dos especialistas é que casos parecidos se multipliquem nos próximos anos.

O advogado especialista em direito eleitoral e professor Raphael Maia defende um modelo de doações privadas com restrições. “Qual a diferença da Odebrecht não poder doar dinheiro, mas o Marcelo Odebrecht sim? Na prática não é muito diferente e hoje isso pode acontecer”, diz, apontando para outra distorção.

Adoção de novo modelo ainda divide deputados e especialistas

Para o presidente estadual do PCdoB-MG, Wadson Ribeiro, o financiamento exclusivamente público de campanha, sem abertura para a doação privada, seria o melhor caminho para acabar com as distorções e irregularidades. Ele, no entanto, é pessimista sobre a sua proposta.
“O modelo atual é um Frankstein, nem só público nem só privado. No contexto atual do Congresso abre-se o caminho para voltarmos ao sistema anterior. Ao invés de caminharmos para uma reforma profunda, o risco é retroceder”.

Menos pessimista, o deputado federal Rodrigo Pacheco (PMDB-MG), defende o aprimoramento do modelo atual. “Ao invés de querer mudar a legislação, que haja uma cultura das pessoas físicas participarem mais das campanhas eleitorais”, disse o ex-candidato a prefeito de BH. “Ainda fico com o modelo atual, mas não sou reticente a um meio termo entre financiamento empresarial e de pessoas físicas”, afirmou.

O especialista em Direito Eleitoral Raphael Maia defende o retorno do financiamento privado com maior monitoramento. “É preciso impor limites no valor permitido às empresas e ter um controle maior nas prestações de contas, que foi mais forte em 2016”, avalia.

 ALÉM DISSO

Uma proposta para reduzir o custo de campanhas é o chamado voto em lista fechada. Nele, ao invés de se votar em um candidato a deputado, os eleitores votam num partido. Cada legenda tem sua lista interna, em ordem de prioridade definida internamente, de pessoas que podem se tornar deputadas. Quanto maior o número de votos o partido receber, mais vagas tem direito. “Fechar a lista é uma coisa que todo mundo sabe que vai ter que acontecer em algum momento. Mas o políticos sabem que vão ficar prejudicados, principalmente os do baixo clero, que tendem a ser preteridos”, aponta Lucas Cunha.

Outra causa apontada para o alto custo da campanha no país é o fato de o território no qual candidatos a deputado estadual e federal disputam o voto serem muito extensos. Por isso, alguns partidos, como PSDB, defendem a alteração do modelo para o chamado voto distrital, no qual, para as eleições, os estados seriam divididos em vários territórios, os chamados distritos. A cada grupo de 200 mil moradores, por exemplo, haveria um distrito para eleger um deputado federal e um estadual, que precisam ser da região. Os eleitores só podem votar nos candidatos do seu distrito. Com áreas menores para se fazer campanha, os custos também são menores. O modelo é adotado em países como a Inglaterra e Estados Unidos.

“Um grande problema é que ele valoriza grandes partidos e tende a reforçar uma lógica de coronelismo, com redutos eleitorais de um só candidato”, aponta o cientista político Lucas Cunha. Em um modelo alternativo, o distrital misto, defendido por parlamentares como o deputado federal Patrus Ananias (PT-MG), uma parcela dos deputados é eleita no modelo distrital e outra é escolhida num modelo parecido com o atual, contabilizando os votos do estado inteiro.

 
 

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