Busca por adiantar o décimo terceiro salário subiu 60% nos bancos

Tatiana Lagôa
tlagoa@hojeemdia.com.br
15/08/2016 às 06:00.
Atualizado em 15/11/2021 às 20:20

Em um cenário de renda em queda livre e aumento do endividamento, nem mesmo o décimo terceiro salário, que costuma ser a salvação no fim do ano, ficou ileso. Muitos brasileiros já recorreram à antecipação do valor nos bancos. 

A demanda pela modalidade de crédito teve alta de quase 60% em algumas instituições financeiras no primeiro semestre comparado com o mesmo período do ano passado. Boa notícia apenas para os bancos, que têm garantia de recebimento do dinheiro, acrescido de juros mensais de 1,5% a 5%.

As exigências para a tomada desse crédito são poucas. De um modo geral, quem tem vínculo empregatício no setor público ou privado, além de aposentados e pensionistas, podem pegar o crédito atrelado ao décimo terceiro salário. 

Mudam apenas algumas questões de um banco para banco. Uma delas é o percentual do recurso conseguido. Em alguns casos, chega à totalidade do salário. Em outros, apenas a uma fatia. 

“O Brasil vive aumento do desemprego e encolhimento da renda familiar. Com a inflação em alta, não sobra dinheiro. Nesse contexto, é normal que as pessoas busquem recursos onde houver disponibilidade”Andrew Storfer - Diretor de economia da Anefac

Diferenciais

A taxa de juros cobrada pelas instituições financeiras é definida conforme o relacionamento com o cliente. 

São critérios diferentes para funcionários públicos, para aqueles que trabalham em empresas conveniadas ao banco, para os que possuem investimentos nas instituições e, o mais subjetivo de todos os fatores, de acordo com o histórico que aquele cliente tem junto ao banco. Ou seja, é uma “loteria” o valor que será cobrado de cada correntista. 

“Os bancos costumam divulgar a taxa média ou a inicial mas a verdade é que quase ninguém paga o menor valor. São muitas variáveis envolvidas”, afirma o diretor de economia da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), Andrew Storfer.

Os trâmites para antecipar o décimo terceiro salário também são muito simples. Basta o cliente seguir para a agência bancária onde tem conta levando documentos que comprovem o vínculo empregatício e a renda. Alguns bancos exigem que o trabalhador tenha pelo menos seis meses de carteira assinada. O crédito pode ser aprovado e sacado no mesmo dia. 

Não podem tentar o crédito aqueles que já receberam parte do décimo terceiro nas férias na empresa, o que é garantido em lei. 

Pela facilidade de acesso, essa modalidade tem sido bastante usada pelos brasileiros, cada vez mais necessitados de dinheiro para complementar a renda. 

Corrida

No banco Santander, a procura aumentou 57% no primeiro semestre frente ao mesmo período do ano passado. No Itaú, a alta foi de 25% e na Caixa Econômica Federal, de 14%. 

“Acho que esse crescimento está alinhado com os indicadores que o Brasil tem de queda da economia e crescimento da inadimplência. Em momentos como esse as pessoas precisam recorrer ao crédito”, observa o diretor de educação financeira da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Fábio Moraes.

Além disso, os próprios bancos têm ligado para os clientes oferecendo o serviço. Fator que também tem colaborado com o aumento da demanda. 

Segundo o vice-presidente da Anefac, Miguel José Ribeiro de Oliveira, essa é uma modalidade de crédito muito interessante por ser atrelada ao salário. Ou seja, o recebimento é certo. 

Em um momento em que o giro de recursos na economia está menos intenso e as instituições têm apresentado resultados menos robustos, os bancos tentam “pegar cliente no laço”. 

Decidir pela antecipação do benefício requer cautela

Na teoria, receber o décimo terceiro no meio do ano parece ser o melhor negócio do mundo. Afinal, quem não quer ter em mãos agora um dinheiro que só sacaria em dezembro?

Mas, como nada vem de graça, o custo pode ser alto. Sem contar que o recurso pode fazer falta na hora de quitar as contas de início do ano como material escolar, IPTU e IPVA.

“A antecipação da gratificação tem garantia para os bancos. Por isso, as taxas são mais interessantes”Fábio Moraes - Diretor de educação financeira da Febraban

O que poucas pessoas param para pensar, no entanto, são os valores envolvidos na transação. Além do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) e a taxa de administração do banco, serão incluídos os juros, que variam de acordo com cada instituição financeira. 

Quem tomar o recurso na Caixa Econômica Federal, por exemplo, pagará uma taxa de 3,47% ao mês. Em uma conta seca, sem incluir as outras taxas, quem adiantar R$ 1 mil agora em agosto, em dezembro vai dever R$ 1.146,19. 

Por isso, especialistas alertam: “Esse crédito só é indicado em duas situações. Para adquirir um bem que é prioritário ou em casos em que está inadimplente e o crédito pode servir para substituir uma conta com juros mais altos”, afirma o diretor de educação financeira da Febraban, Fábio Moraes.

Comparativo

Se a mesma pessoa que antecipou o décimo terceiro estivesse no cheque especial, de agosto a dezembro, deveria R$ 1.579, considerando uma taxa média de 12,1% estimada pela Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac).

Esse é um dos casos em que a antecipação do recurso seria uma boa estratégia. “Se for antecipar porque tem uma dívida com juros mais baixos não é uma boa saída. Se for para comprar algo tem que pensar que é uma época muito difícil para consumo”, afirma o diretor de economia da Anefac, Andrew Storfer.

“Antes de antecipar o décimo terceiro, é preciso avaliar detalhadamente os custos envolvidos. São muitos”Marcelo Barbosa - Coordenador Procon Assembleia

Em alguns casos, a busca por outra modalidade de crédito pode ser mais interessante. É o caso do crédito consignado, que tem uma taxa entre 1,8% e 2,5% ao mês. 

O coordenador do Procon Assembleia, Marcelo Barbosa, lembra que o dinheiro pode fazer muita falta no futuro. “É preciso ter em mente que é um empréstimo como qualquer um. Então está sendo criado um compromisso financeiro. E aquela pessoa deixa de receber o recurso no momento em que mais vai precisar. Indico que tudo isso seja colocado no papel”, afirma.

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