Cadu Doné: Injustiça e ingratidão com Gilvan – segundo capítulo

17/02/2015 às 06:57.
Atualizado em 18/11/2021 às 06:03

Na semana passada falei das injustiças sofridas recentemente por Dr. Gilvan. Entre as críticas que o mandatário celeste vem recebendo – ora exageradas, às vezes simplesmente sem qualquer fundamento –, uma merece apreciação isolada.


“A partir deste ano o presidente do Cruzeiro não pode mais dizer que ‘não vende’; se antes ele alegava que tinha política diferente quanto à negociação de jogadores, agora entrou em contradição com o que pregava e lhe deu fama”.


Variações desse tipo de discurso foram consideravelmente comuns na imprensa, inclusive em programas dos quais faço parte. Nessas falas, novamente, uma espécie de ingratidão, de memória curta, se materializa. É preciso desmistificá-las, em certos sentidos; no mínimo, relativizá-las, em outros tantos. Vamos lá...


O mandato de Zezé Perrella ficou marcado por diversas facetas. Positivas e negativas. De um lado, os títulos numerosos, uma trajetória inegavelmente vencedora. De outro, polêmicas nas mais distintas searas. Se as vendas de estrelas eram numerosas, aconteciam quase por atacado, com alguma facilidade – deixando a China Azul órfã de seus ídolos com grande frequência, enorme rapidez –, o atual senador ganhou fama de exímio negociante. Fábio Júnior, Geovanni... As histórias são conhecidas. Viraram cases.


Porém, essa pecha de exportador não cabe apenas a Zezé Perrella, não deveria ser tida como uma idiossincrasia dele – a aptidão para arrancar altos valores dos compradores, talvez, sim –, como é comum em Minas. A vocação de fornecedor de mão de obra futebolística para países estrangeiros é especialidade nacional. Capacidade, força, planejamento e convicção para manter o elenco, não ceder às pressões do mercado, no Brasil, é exceção. E nesse sentido, pouquíssimos dirigentes destoaram tanto do padrão, foram tão únicos, se mostraram tão firmes, quanto Dr. Gilvan.


Montillo, nos tempos de Toca da Raposa, fez pressões surreais para sair. Apoiado na figura de seu empresário ficava louco com os salários oferecidos por alguns gigantes de São Paulo em determinado período. As propostas para o clube estavam longe de serem ruins. E Gilvan, avaliando que, naquele momento, o meia argentino era uma referência que não podia ser perdida, em uma fase ruim do time, resistiu. Uma, duas, cinco, incontáveis vezes. São Paulo, Corinthians, Santos, exterior... Quando negociou, o fez com esmero, por um valor justo e, depois disso – talvez num golpe daquela sorte que usualmente acompanha os competentes –, Montillo nunca mais jogou pra valer. Mais: o presidente celeste fez algo que deveria ser óbvio, mas é raríssimo no mundo das finanças obscuras do futebol: empregou diretamente, com rapidez e eficiência, o valor obtido com a venda de Montillo, na formação de um dos elencos mais vencedores da história do clube. Negociou um atleta e trouxe um plantel inteiro. E deu resultado.


Se Dedé ainda faz parte do grupo estrelado, é pelo pensamento corajoso de Gilvan de não sucumbir aos dólares, aos euros, sempre privilegiando o fortalecimento da equipe. Se Goulart e Ribeiro foram protagonistas do bi-campeonato consecutivo, é porque o mandatário azul recusou várias ótimas propostas para ambos, seja logo após a conquista do Brasileiro de 2013, seja ao longo da temporada 2014. O mesmo vale para Lucas Silva, que só saiu quando o Real atingiu as boas cifras estipuladas pelo presidente. Ademais, é imprescindível se informar e entender as circunstâncias por trás do recente desmanche. Tema para outro dia.

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