Café pesa na retração da agropecuária e puxa queda de 0,7% no PIB de Minas

Filipe Motta
fmotta@hojeemdia.com.br
14/12/2017 às 20:38.
Atualizado em 03/11/2021 às 00:15
 (Luiz Costa/Arquivo)

(Luiz Costa/Arquivo)

Puxado por uma queda de 8,4% na agropecuária, provocada principalmente pelo café, o Produto Interno Bruto (PIB) de Minas caiu 0,7% no terceiro trimestre deste ano em relação ao segundo trimestre, aponta análise da Fundação João Pinheiro, feita a partir de dados do IBGE.

No acumulado do ano, a variação positiva no Estado é de 0,1%. A perspectiva é que Minas feche 2017 com crescimento entre 0,3% e 0,5%, com possibilidade do auxílio do setor de serviços, devido às vendas de Natal no comércio.

No Brasil, cujo crescimento global foi de 0,1% na comparação com o trimestre anterior, o setor de agropecuária teve queda de 3% em igual período, mesmo com o aumento na produção de grande parte das culturas.

Peso do café

Uma das explicações para os números ruins na agropecuária, apontam os pesquisadores da João Pinheiro, é a sazonalidade do café, que tem grande peso para a economia mineira.

O grão alterna anos de produção maior com anos de baixa – o que foi o caso de 2017. Ainda que a produção tenha sido boa, o desempenho excepcional de 2016 não foi superado.

“Essa sazonalidade considerada normal da cultura do café. Além disso, houve calor acima da média e alguma falta de água, fatores que prejudicaram um pouco a produção, mas não de forma tão significativa. Também é preciso considerar que o preço da saca tem passado por uma tendência de queda lenta, mas contínua, nos últimos seis meses, o que também pode ter interferido um pouco no PIB”, aponta o agrônomo José Braz Matiello, pesquisador da Fundação Procafé.

Segundo ele, a projeção é a de que a safra deste ano feche em cerca de 28 milhões de sacas em Minas, ante as 30,7 milhões no ano passado. Já em relação ao preço, a commodity, cuja saca chegou a ser cotada em cerca de R$ 550 no ano passado, na última semana era vendida a cerca de R$ 450, no caso do café arábica.

Indústria

Por outro lado, a análise divulgada ontem pela FJP aponta um resultado levemente positivo no setor industrial (0,2%) – com destaque para a indústria de transformação, com alta de 1,4% no terceiro trimestre, em comparação com o trimestre anterior. É a terceira alta consecutiva na área, que sofreu bastante com a crise econômica.

O crescimento tem sido puxado pelos subsetores têxteis, de fabricação de máquinas e equipamentos e automotivo, este último estimulado pelas exportações e importante na medida em que reverbera em outros segmentos que compõem a cadeia do setor, como autopeças.
Já no setor de serviços, que no acumulado do ano teve alta de 0,6%, o crescimento trimestral de 0,7% veio principalmente do comércio (1,3%) e transportes (1,3%).

Parou de piorar

Na avaliação do pesquisador Raimundo Souza Leal Filho, da Fundação João Pinheiro, os dados mostram que a situação da economia “parou de piorar”. Ele considera que a atenção especial da política econômica federal às exportações não tem tido o retorno necessário. Ao mesmo tempo, o mercado interno, ainda fragilizado pelos índices elevados de desemprego, contribui para que a recuperação não deslanche.

“Há sinais ambíguos que apontam para recuperação, mas ela é muito frágil e lenta. Não dá para contar só com as exportações para a retomada da economia. E o mercado interno ainda está muito fraco”, diz Raimundo.

 Construção civil acumula baixa de 7,7% no ano, mas setor aposta em retomada em 2018

Na contramão da indústria da transformação, o segmento da construção civil em Minas seguiu, no terceiro trimestre, a tendência ruim observada nos últimos tempos. A queda foi de 1,5%, em comparação com o trimestre anterior. No Estado, a retração soma 7,7% no ano e chega a 8,2% em 12 meses.

Balanço anual divulgado ontem, o Sindicato da Indústria da Construção em Minas (Sinduscon-MG) confirmou os números negativos.
“Entre 2014 e 2017, a construção teve queda de 25,86% no Estado. Já o PIB do setor em Minas caiu 7,7% entre janeiro e setembro deste ano, na comparação com o mesmo período de 2016”, afirmou o economista do Sinduscon-MG, Daniel Furletti.

No entanto, o Sinduscon avalia que a com queda dos juros (a Selic caiu de 14% para 7% em um ano, e a estimativa é chegar a 6,25% em fevereiro), a recuperação no ambiente de negócios e a possibilidade de melhoria da oferta de crédito, 2018 pode ser um ano melhor.

O Sinduscon evita cravar um número para Minas Gerais, mais calcula que ele esteja fora do vermelho em 2018.
“Na hora em que o juros caem, você pode reacender o investimento. E 55% do investimento no país passam pela construção. Você precisa de escola, de estrada, hospitais e habitação. Isso tudo é investimento e quem faz é o setor da construção”, diz Furletti.

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