( EUGENIO MORAES)
A Cemig vai aumentar sua capacidade de endividamento prevista em estatuto para fazer frente às necessidades imediatas de honrar compromissos, como o pagamento, no dia 30 de dezembro deste ano, de R$ 2,216 bilhões em bônus por ter arrematado 18 usinas hidrelétricas no leilão realizado pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) nesta semana.
A contração de novas dívidas vai aumentar a responsabilidade da companhia de conseguir uma geração de caixa elevada e culminará também em condições menos favoráveis nas captações de recursos no mercado.
Uma Assembleia Geral Extraordinária (AGE) foi convocada para 29 de dezembro e vai deliberar sobre alterações em três pontos do estatuto, todos visando a flexibilização das possibilidades de endividamento. Uma das premissas que serão alteradas diz que o endividamento da Cemig deve se manter, no máximo, em duas vezes sua geração de caixa – lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Lajida).
A alteração vai esticar essa relação para 2,6 vezes. A companhia encerrou 2014 com uma dívida consolidada de 2,1 vezes o Lajida. Há previsão estatutária para romper esses limites, desde que com prévia justificativa e permissão.
Alterações
Outra mudança vai viabilizar maior endividamento consolidado, e uma terceira permitirá que o volume de recursos destinados a investimentos de capital e aquisição de ativos seja equivalente a até 62% da geração de caixa da empresa. As normas vigentes liberam, no máximo, 40%.
Para o analista da Whatscall Consultoria Pedro Galdi, a Cemig entra em um cenário que gera preocupação, com indicadores deteriorados diante de um cenário hostil para o setor. “A nova capacidade de geração, com as usinas que arrematou, é bem vinda, mas não parece condizente com o endividamento da empresa”, disse.
Além dos R$ 2,216 bilhões que a empresa terá de pagar ainda neste ano, em 2016 os compromissos da Cemig com abatimento de dívidas também exigem atenção. São R$ 4,281 bilhões, o maior valor anual de amortização pelo menos até 2022. Uma estratégia frequentemente adotada pela Cemig é de financiar a dívida, alongando o s prazos de pagamento, o que deve ocorrer novamente, porém agora com condições menos favoráveis.
“Com indicadores piores, as condições de contratação também serão mais difíceis. Talvez a formação de consórcios seja uma boa saída”, afirmou Pedro.
O presidente do Instituto Mineiro do Mercado de Capitais (IMMC), Paulo Ângelo Carvalho de Souza, também enxerga condições pouco atrativas no mercado de crédito, mas reconhece o esforço da estatal. “A empresa vai enfrentar um problema que é o país em recessão, com menor consumo de energia, o que acarreta menor geração de caixa. Mas esse cálculo certamente eles já fizeram. É importante reconhecer o esforço da empresa em recomprar as usinas e apostar no longo prazo, o que sempre foi o perfil da Cemig”, disse.