Chuva de reparos: tempestades aquecem negócios de quem trabalha com obras e consertos em BH

Paulo Henrique Lobato
phlobato@hojeemdia.com.br
07/02/2020 às 21:41.
Atualizado em 27/10/2021 às 02:34
 (Maurício Vieira)

(Maurício Vieira)

As chuvas que castigaram a Grande BH nas últimas duas semanas causaram prejuízos a moradores e comerciantes, mas há quem se beneficie – são os “ossos do ofício” – dos estragos deixados pelo excesso d’água. Dependendo do bairro e do serviço, há profissionais que comemoram alta de até 80% na demanda. “São setores que são demandados neste período. É a lei da oferta e da demanda”, disse Ana Paula Bastos, economista da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL-BH).

As tempestades aumentaram bastante, por exemplo, a procura por empresas especializadas no combate a infiltrações em imóveis. Além disso, com as enchentes, disparou a busca por especialistas no reparo de eletroeletrônicos, queimados pela água.

Alessandro Antônio de Oliveira, que ganha a vida instalando mantas para evitar infiltração em construções, é um dos profissionais que registrou dois dígitos de aumento no número de contratos. 

“Percebi que a procura por meu serviço subiu muito, num percentual de aproximadamente 80% desde o fim de janeiro (quando as chuvas se tornaram mais intensas na capital)”, disse.

Em razão disso, ele precisou reforçar a equipe: “Chamei três pessoas para me ajudar a entregar todo o serviço”. O volume maior de chamados, contudo, encareceu o preço da labuta dos novos ajudantes, seguindo a já mencionada regra básica do mercado. 

No caso de Oliveira, o acréscimo no serviço cobrado pelos auxiliares foi de 33%. Em média, a diária de um trabalhador da área estava em R$ 90. “Passou para R$ 120”, contou.

Dênis Januário Alves, outro especializado em obras, diz que o volume de serviços disparou um terço em poucos dias. “Por causa das chuvas, a procura dos clientes cresceu mais ou menos 30%. Para você ter uma ideia, só para o serviço de impermeabilização recebi três pedidos de orçamento esta semana. Costuma embolar a agenda, porque esse tipo de trabalho só pode ser feito com o tempo firme. Para atender a todos, estou fazendo parcerias”, contou Alves.

O empreendedor Nelci Ricardo, dono da MRP Construtora e Acabamentos LTDA., também estimou aumento em torno de 30% na quantidade de serviços desde a última semana de janeiro.

“A gente fica triste pelos prejuízos das pessoas. Mas temos de fazer o nosso trabalho. A demanda para conserto de telhados, por exemplo, subiu bastante”, disse Ricardo.

Prejuízo
Essa espécie de “indústria da chuva”, embora o nome não agrade nem mesmo quem se beneficia do volume de serviços, deixa uma lição: é melhor se prevenir contra as infiltrações do que remediá-las.

O poder público e entidades que representam empresários não elaboraram um estudo completo do tamanho do prejuízo deixado pelas chuvas em BH, mas a Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) fez um diagnóstico das perdas em quatro das nove regionais de Belo Horizonte (Barreiro, Venda Nova, Oeste e Centro-Sul). O prejuízo médio dos empreendedores foi de R$ 16,5 mil. Nessas regiões, 2,5 mil lojas foram impactadas pelas tempestades, de alguma forma.
 

Equipamentos eletrônicos cheios de lama lotam oficina na região da avenida Vilarinho

Há quase quatro décadas ganhando a vida com o reparo de eletroeletrônicos, João da Silva Fonseca nunca teve tanto trabalho em razão das chuvas. Ele é dono de uma pequena oficina no bairro Serra Verde, na região de Venda Nova, próximo à avenida Vilarinho, uma das vias que precisam ser constantemente interditadas para o trânsito de veículos e pedestre em por causa das enchentes.

Desde o fim de janeiro, quando as tempestades chegaram com maior frequência e volume à capital, seu João, de 63 anos, recebeu muitos microondas para conserto.

“Vários são de lanchonetes, padarias e outros comércios que funcionam na Vilarinho”, conta ele.

O diagnóstico da Câmara de Dirigentes Lojistas nas quatro regionais mais afetadas pelas últimas chuvas mostra o que seu João vê de perto: a maioria das lojas impactadas pelas enchentes tem status de microempresas, sete em cada 10 das 2.516 firmas analisadas pela entidade.

Quase quatro em cada dez empresas perderam móveis ou maquinário, como os microondas que João conserta na oficina. 

O técnico acrescenta que o orçamento para o reparo começa em torno de R$ 30, “quando só é queimado um fuzil”, e vai até R$ 180, “no caso de placa eletrônica danificada pela água”.

“Os equipamentos chegaram cheios de lama. Neles, havia capim, pedaço de papel, diferentes tipos de lixo. O ideal é a gente deixar secar para depois passar produtos. No caso dos equipamentos que foram danificados pelas enchentes, em média, a limpeza e o reparo levam quatro dias”, contou.

É bom lembrar que os donos de imóveis afetados pelas fortes chuvas podem procurar a prefeitura da capital para solicitar o perdão de débitos do Imposto Predial Territorial Urbano (exercício 2020).

Segundo a PBH, “o perdão de débitos do IPTU no caso de danos provocados por causas naturais é concedido para parte da dívida ou total, com base no laudo da Defesa Civil e valores comprovados dos prejuízos sofridos pelo proprietário do imóvel”.

  

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