Cidades de Minas brigam por traçado original de gasoduto

Bruno Moreno - Hoje em Dia
19/01/2015 às 06:52.
Atualizado em 18/11/2021 às 05:42
 (Editoria de Arte)

(Editoria de Arte)

Prefeituras do eixo Leste-Oeste em Minas Gerais, entre a Região Metropolitana de Belo Horizonte e o Triângulo Mineiro, ao longo da BR-262, estão se mobilizando para garantir que a construção do gasoduto Betim-Uberaba seja mantida. No começo deste ano, a Gasmig, estatal controlada pela Cemig, cancelou a licitação do projeto executivo, e o governo do Estado voltou a estudar outras possibilidades de traçado, com a tubulação passando por São Paulo, sem beneficiar cidades de Minas Gerais (veja infografia).

O objetivo do gasoduto, em primeiro lugar, é levar gás natural até Uberaba, onde está em construção uma planta de produção de amônia, sob responsabilidade da Petrobras. A amônia é utilizada na fabricação de fertilizantes.
Mas com a possibilidade de “pegar uma carona” na obra, os municípios localizados entre Betim e Uberaba já vislumbravam uma possibilidade de crescimento econômico com o uso do gás natural.

Como precisa atender à planta industrial em Uberaba, que tem previsão de conclusão no primeiro semestre do ano que vem, o gasoduto precisa começar a ser construído logo. Por isso, para que seja possível atender à demanda da fábrica da Petrobras, a definição sobre o trajeto da tubulação deverá ser tomada até março.

São Paulo

O secretário de Estado de Desenvolvimento Econômico, Altamir Rôso, em entrevista coletiva no início do mês, em Uberaba, afirmou que o gasoduto será construído. No entanto, não garantiu que o traçado que estava sendo licitado será mantido.

Rôso disse que serão realizados mais estudos para definir qual o melhor trajeto, e considerou a possibilidade de buscar o combustível em São Paulo. Essa opção chegou a ser cogitada no início do projeto, em 2013, mas havia sido descartada. As possibilidades seriam trazer o combustível de Ribeirão Preto, em parceria do governo paulista, ou de São Carlos, onde a empresa privada TGBC seria a fornecedora.

Um dos motivos para a revisão do projeto é o custo e o financiamento, já que ainda não há garantias de quem irá pagar pela obra. O valor do gasoduto entre Betim e Uberaba seria de aproximadamente R$ 1,8 bilhão, mas não há uma previsão de quanto custaria se a tubulação viesse de São Paulo.

Entretanto, é certo que o custo seria muito menor, já que a distância é menos da metade no caso de Ribeirão Preto, e pouco mais da metade se a decisão for por São Carlos. Ao mesmo tempo, se perderia uma oportunidade de levar mais desenvolvimento econômico ao longo da BR-262.

A reportagem do Hoje em Dia procurou o secretário Altamir Rôso. Entretanto, a assessoria de imprensa informou que ele não falaria sobre a questão. Já a diretoria da Cemig deverá se pronunciar apenas após a próxima quinta-feira, quando serão empossados os novos diretores.

Já a Federação da Indústria do Estado de Minas Gerais (Fiemg) está se organizando para apresentar uma sugestão ao governo do Estado. O economista chefe da entidade, Guilherme Veloso Leão, irá reunir um grupo de especialistas a partir da semana que vem para debater a questão do gasoduto.

Araxá já investe na captação de parcerias com o setor privado

Já contando com a possibilidade concreta de ter gás natural à disposição, a Prefeitura de Araxá contratou uma consultoria para buscar investimentos para a cidade. Há dois meses, especialistas começaram um trabalho de captação de parceiros privados.

Por isso, o secretário municipal de Desenvolvimento Econômico e Parcerias, Leandro Haddad, aposta que o projeto do gasoduto Betim-Uberaba será mantido. Com essa nova fonte de energia, somada à duplicação da BR-262, o secretário acredita que a cidade poderá atrair mais empresas.

“Não me parece bom senso trazer o gás natural de São Carlos (SP) e perder essa oportunidade de ter uma alinhamento junto à BR-262 em Minas. Essa não é a melhor solução. Estamos engajados para trazer esse gasoduto pra cá. Para nós é muito importante. O gasoduto não deve ser apenas para resolver um problema de Uberaba e da planta de amônia. Não podemos pensar só nisso. Temos que aproveitar essa expansão de Uberaba com um eixo desenvolvimentista para a região”, avalia.

Segundo Haddad, ainda não há novos investimentos confirmados, mas ele espera que ao longo deste ano novos contratos sejam assinados.

“Estamos na fase de negociações. A previsão do gás era para início do ano que vem. Este ano seria mais intenso na busca de empresas”, afirma Haddad.

O secretário lembra que Araxá é um importante polo de mineração, metalurgia e da indústria de alimentos, segmentos que poderiam utilizar o gás natural em seus processos produtivos. “O gás natural, além de ser uma alternativa energética, é uma opção mais barata para esses setores”, disse o secretário.

De acordo com o Censo de 2010, a população de Araxá é de 93.672 habitantes. Em 2011, o Produto Interno Bruto (PIB) do município foi de R$ 2,8 bilhões. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), dois setores sobressaem na economia local: indústria, com 47%, e serviços, com 49%. O restante, 3,44%, vem da agricultura.

Quinze siderúrgicas em compasso de espera no Centro–Oeste

Em Divinópolis, a prefeitura e empresários vivem há três anos a expectativa de receber o gás natural. Havia a proposta de construção de tanques e cilindros para armazenar o combustível em uma área de 4,5 mil metros quadrados, de onde seria levado para a cidade em caminhões. Entretanto, com a possibilidade do gasoduto, todos os procedimentos pararam.

Agora, a esperança é que a obra entre Betim e Uberaba comece logo para que a indústria local possa ser abastecida pelo combustível.

“Antes de ser anunciado esse gasoduto, já havia um projeto aprovado com uma empresa que iria fazer a instalação de três quilômetros de rede no distrito industrial”, afirmou o secretário de Desenvolvimento Econômico de Divinópolis, Paulo César dos Santos.

O secretário afirma que pelo menos 15 empresas, do ramo da siderurgia e fundição, já estariam interessadas em utilizar o gás natural.

“Estamos aguardando as indicações das mudanças do novo governo para retomar a conversa. Mas a matriz (o gás natural) é bem mais barata. Como benefício, vamos conseguir baixar o custo de produção, e isso vai gerar mais investimentos, novos postos de trabalho”, avalia Paulo César.

De acordo com o IBGE, a cidade somou 213 mil habitantes no Censo 2010, e Produto Interno Bruto (PIB) de R$ 3,5 bilhões em 2012, sendo a maior parte no setor de serviços (72,8%), seguido pela indústria (24,6%) e agropecuária (2,58%).

O combustível

De acordo com a Petrobras, o gás natural é utilizado na indústria como combustível para fornecimento de calor, geração de eletricidade e de força motriz.

Também é utilizado como matéria-prima nos setores químicos e petroquímicos, principalmente para a produção de metanol e de fertilizantes, amônia e ureia. É usado ainda como redutor siderúrgico na fabricação de aço. Segundo a Petrobras, o gás natural proporciona uma combustão limpa, isenta de agentes poluidores.

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