Com 10 brechós, rua do bairro Floresta se transforma em polo comercial

Paula Coura
pcoura@hojeemdia.com.br
06/11/2016 às 14:57.
Atualizado em 15/11/2021 às 21:32
 (FLÁVIO TAVARES)

(FLÁVIO TAVARES)

Quem repara nas roupas estilosas das estrelas de Hollywood Angelina Jolie e Drew Barrymore não imagina que elas também garimpam os looks em brechós. Esse comércio, praticamente inexistente no Brasil há cinco anos, virou fonte de renda para quem estava desempregado ou quis complementar o salário em meio à crise. Os lucros variam de R$ 1 mil a R$ 10 mil e o bairro Floresta, na região Leste de Belo Horizonte, tem novidades nesse setor. Dentre os fatores que levaram ao investimento estão o baixo valor desembolsado e clientela bem fiel.

Dados do Serviço de Apoio as Pequenas e Microempresas (Sebrae) mostram que, em 2016, o número de microempreendedores individuais do comércio de produtos usados formalizados no Brasil, até o último dia 15 de outubro, é de 11.771 – pequena queda em relação a 2015 quando houve um boom, com 13,2 mil estabelecimentos no país.

Ainda assim, na rua Pouso Alegre, no tradicional bairro Floresta, esse segmento já tem contornos de polo comercial. São dez brechós abertos com previsão de inaugurar, pelo menos, mais um até dezembro.

Ser conhecido por estar na rua dos brechós é um título que Eduardo Pena, de 33 anos, dono do mais antigo estabelecimento da rua, incorpora com satisfação. “Isso fortalece nossa clientela. Se a pessoa não encontrar a peça aqui , vai encontrar no vizinho e vice-versa. Cliente de brechó gosta de garimpar”, avalia o dono do Edu Brechó. E ele comemora os lucros. “Dependendo da época, a renda gira em torno de R$ 1 mil a R$ 10 mil. Mudei de ponto por causa do preço do aluguel, mas minha clientela continua só aumentando”, conta o proprietário.

Novatos

Até quem acabou de chegar à rua também colhe bons frutos. O Chá de Lírio, aberto há dois meses por Bruna Rossi, 33 anos, e o companheiro Ivan Rodrigues, de 32, já traz rendimentos para a família. O investimento inicial foi de R$ 9 mil, usado para quitar a loja e adquirir algumas peças. “Quando engravidei, vi a necessidade de deixar de trabalhar à noite para cuidar do bebê. Investi no brechó e não tenho do que reclamar”, relata Bruna.
Para Andreza Capelo, analista de marketing do Sebrae-MG, um dos fatores que ajudou no crescimento dos brechós foi a consciência do consumidor em meio à crise. “Na crise, as pessoas tendem a usar melhor a renda. Além disso, as celebridades passaram a divulgar que a moda do usado é chique. Ainda há um tipo de consumidor que não compra peças para durarem eternamente. Ele enjoa e troca por outra no brechó”, explica.

Na Savassi, usados de luxo para clientes mais exigentes

É na Savassi que alguns brechós de luxo encontraram ponto certo e clientela fixa. Bolsas, sapatos, roupas e até artigos para crianças de grandes grifes são encontrados por até 25% do preço original. Para quem investiu nesse nicho, os lucros, nunca revelados, são suficientes para passar pela crise econômica do país.

Há 12 anos vendendo roupas de grife a preços mais acessíveis, Edilaine Santos, a Di, como é conhecida pelas clientes, nem de perto sentiu os impactos negativos na crise econômica no seu negócio. O brechó dela, o Retrô, é ponto certo para quem busca peças de Louis Vuitton, Gucci, Chanel, Dolce Gabbana e do mago das estampas, Emílio Pucci a renomadas estilistas brasileiros como Malu Magalhães. Os preços variam de R$ 30 até R$ 1.500 dependendo da peça. A proprietária faz questão de montar os looks e expor nas redes sociais. E o retorno é tão positivo que até quando a peça não cabe, a proprietária dá um jeitinho de agradar a clientela. “Tenho dificuldade com os tamanhos maiores. Tem cliente que quando chega lote 44 acaba levando tudo”, conta Di.

Também no mercado de luxo, a estilista Marina Lemos viu no brechó de roupas infantis a oportunidade de ter um negócio ligado à moda. “Tinha uma marca infantil e vi no brechó uma oportunidade de negócio quando me desfiz da marca. Hoje a loja já tem plataforma de vendas virtual”, conta ela, dona há 7 anos do Petit Brechó. Com artigos como carrinhos, bombas de leite e até babás eletrônicas, muitas das peças adquiridas vêm por consignação. “Roupas infantis de 0 a 6 meses ficam praticamente novas e muitas nem são usadas. Carrinhos de bebê acabam ficando encalhados e tanto para quem vende ou quem compra é um boa oportunidade”, finaliza.

“As pessoas estão abrindo mais a mente, pensando mais em sustentabilidade. Além disso, brechó está na moda, é legal”Di Silva

  

Negócio em caminhãozinho chama atenção da clientela

Andar pelas ruas de Belo Horizonte vendendo roupas usadas foi o projeto idealizado por Alessandra Alves para complementar a renda. Jornalista, ela viu o salário despencar em dezembro do ano passado e logo veio a ideia de empreender. Depois de muito estudar sobre modelos de negócios, comprou um pequeno caminhão e lançou o Maria Bonita, uma espécie de brechó truck. A renda, antes complementar, agora já representa 40% do orçamento.

No veículo adaptado para comportar araras e provadores, as peças voltadas para o público feminino variam de R$ 15 a R$ 150. Como não quer deixar de lado a carreira na redação, Alessandra roda em dois dias na semana na região Centro-Sul da capital. Às quartas-feiras, o brechó fica na rua Gonçalves Dias, no bairro Funcionários, e às sextas, na rua Viçosa, no São Pedro. “Na crise, ninguém está comprando. Foi quando percebi que o brechó poderia ser uma boa oportunidade. Pensei que seria um negócio para público jovem, mas as minhas clientes têm entre 30 e 55 anos”, revela Alessandra.WESLEY RODRIGUES 

CRIATIVIDADE – A jornalista Alessandra Alves inova e leva o brechó truck para ruas da região Centro-Sul da capital mineira

“Cerca de 99% das pessoas que buscam por peças aqui nos brechós querem pagar um bom preço pela exclusividade”Eduardo Pena

  

Roupas de segunda mão chegam a comércios já consolidados

Os brechós representam um mercado de baixo risco, fazendo com que o segmento apareça como boa oportunidade de negócios. Até quem não tinha a moda como ramo principal no comércio de produtos usados já se rendeu a ela.

Nailde dos Santos, de 60 anos, trabalha há mais de 15 vendendo livros usados e vinis. Há cerca de dez meses também passou a comercializar roupas usadas e viu seus lucros crescerem em 40%. “Minha filha fez moda e incentivou-me a investir, já que não teria que gastar muito e já pagava pelo aluguel da loja. Desde que fechei o ponto que tinha no Funcionários e vim para cá (rua Pouso Alegre), consegui voltar a ter lucros para manter-me”, conta.

Segundo a analista de marketing do Sebrae-MG, Andreza Capelo, o segmento do brechó tem muitos nichos. O crescimento desse segmento começou há cinco anos, e muitos compradores difundem a consciência ecológica de que é preciso reaproveitar.

“Os estabelecimentos que mais têm sucesso são os que focam a classe média. Grande parte dos compradores já viveu no exterior e vivenciou essa experiência de compra lá. São pessoas, em sua maioria, ligadas a arte, como atores e atrizes”, avalia Capelo.


Veridiana Azevedo Lisboa, de 37 anos, também resolveu empreender no brechó junto com os cosméticos. Ela passou a incluir suas clientes também no grupo das roupas. Ela vende peças na garagem de casa com preço máximo de R$ 20. “Minha fonte de divulgação são as redes sociais. A renda extra ajuda muito em casa”, afirma.

“Usar o celular e as redes sociais possibilita enviar às clientes as novidades de acordo com a preferência de cada umaBruna Rossi
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