Com base esfacelada, Dilma pode trilhar o mesmo destino de Collor

Janaína Oliveira - Hoje em Dia
20/03/2016 às 07:28.
Atualizado em 16/11/2021 às 02:11
 (Editoria de Arte)

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Vinte e quatro anos é o tempo que separa a abertura do processo de impeachment de Fernando Collor de Mello e Dilma Rousseff.

Primeiro presidente eleito pelo voto direto após a redemocratização, Collor foi derrubado por denúncias de corrupção envolvendo PC Farias, tesoureiro de campanha. Já a acusação que recai sobre Dilma, primeira mulher a comandar o país, são as chamadas “pedaladas fiscais”. Apesar da diferença na raiz em cada um dos pedidos de afastamento, os dois casos também guardam semelhanças. E é difícil saber se o desfecho será o mesmo.

Para o cientista político e professor da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) Paulo Roberto Figueira Leal, as manobras que resultaram no atraso dos repasses para instituições que financiam despesas do governo como o Bolsa-Família e seguro-desemprego, com o objetivo de cumprir as metas fiscais, não são motivos para o impeachment de Dilma.

“Essa foi a regra do jogo ao longos dos anos e foi até agora. Todos os presidentes anteriores, e mesmo a Dilma no primeiro mandato, fizeram as pedaladas. E o Tribunal de Contas da União nunca havia feito nada a respeito”, diz Leal.

Segundo o professor da UFJF, no âmbito do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), também não há razão para o impedimento. “As empreiteiras envolvidas na Lava Jato que fizeram doações para a chapa da Dilma são as mesmas que doaram para a campanha do principal adversário. O mesmo cofre não pode ter dinheiro bom e dinheiro ruim”, afirma.

Para Leal, nem os grampos de conversas entre Dilma e o ex-presidente Lula, divulgados pelo juiz Sérgio Moro, responsável pela “Lava Jato”, comprovam qualquer irregularidade. Entretanto, o teor do vazamento ainda será objeto de análise pelo Procurador-Geral da República, Rodrigo Janot.

Esquema

Na avaliação do professor do curso de Relações Internacionais do Ibmec/MG Oswaldo Dehon, além de envolto em um amplo esquema de corrupção, Collor tinha com as Forças Armadas uma relação de desconfiança, o que não existe no momento. O ex-presidente era de um partido nanico e não tinha habilidade política. E é aí que mora um dos perigos para Dilma, já que a base de sustentação do governo está fragmentada.

“Por isso Dilma recorreu a Lula. Com virtudes que faltam à ela, como eloquência, carisma e habilidade política, o ex-presidente recebeu a missão de reaglutinar a base e estancar o processo de impeachment”, avalia o professor de Ciências Políticas da Universidade Fumec, Eduardo Martins.
 
A sorte da presidente já foi lançada. A Comissão Especial do Impeachment foi formada com 41 integrantes de partidos aliados – embora não haja garantia de lealdade ao Planalto – e 24 de legendas oposicionistas.

 

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