Confrontos esquentam palanque eletrônico

Bruno Porto - Hoje em Dia
03/10/2014 às 09:08.
Atualizado em 18/11/2021 às 04:27
 (ERBS JR./FRAME/Estadão Conteúdo)

(ERBS JR./FRAME/Estadão Conteúdo)

Não faltaram polêmicas, embates diretos entre os candidatos, e olhares e comentários irônicos em um clima nitidamente nervoso no debate de ontem na TV Globo, o último dessas eleições. A presidente Dilma Rousseff (PT) e o ex-governador de Minas Gerais Aécio Neves (PSDB), por quatro vezes, fizeram perguntas entre si. O tucano explorou os casos de corrupção na Petrobras e acusou o governo federal de aparelhamento do Estado. Por sua vez, a petista exaltou seus programas sociais e comparou o governo atual com a época em que o PSDB estava no Planalto.

Marina Silva (PSB) foi questionada sobre seu passado no PT, na época do escândalo do mensalão, e teve postura mais agressiva, trocando acusações tanto com Aécio Neves, como com Dilma Rousseff.

Nos blocos com temas livres e candidatos perguntando entre si, a temperatura se manteve elevada com o tema invariavelmente sendo a corrupção - mensalão, Petrobras e compras de votos para reeleição. Aécio Neves disse que as atas das reuniões da Petrobras revelam que o ex-diretor da estatal, Paulo Roberto Costa, acusado de desvio de R$ 20 milhões, foi elogiado “pelos serviços prestados” no dia que deixou a companhia, e questionou a presidente quais seriam esses serviços.

Dilma afirmou que em seu governo os casos de corrupção se tornam públicos porque há investigação, o que ela alegou não ter ocorrido nos tempo do PSDB no governo.

Aécio Neves questionou Marina Silva sobre sua postura quando ainda era filiada ao PT, no período em que se tornou público o caso do mensalão. “Onde estava a ‘nova política’ nessa época?”. A ex-ministra do Meio Ambiente rebateu no mesmo tom. “O senhor também está em um partido que participou do ‘mensalão da reeleição’, e nunca o vi fazer críticas”, contra-atacou.

Em três oportunidades Marina Silva lembrou que já apresentou seu plano de governo, que Dilma não o fez, e que Aécio o teria feito em cima da hora.
Dilma dirigiu a Aécio Neves suas perguntas sempre que permitido pelas regras do debate, o que ocorreu em três ocasiões. Essa polarização, em dado momento, deixou Marina Silva “esquecida” durante parte do debate.

Economia

Em um dos embates entre Dilma e Aécio, o tema economia foi a pauta. O tucano citou as taxas de inflação, próximas do teto da meta, e as tímidas taxas de crescimento da economia nacional para emendar: “A senhora fracassou?”. 

A petista lembrou que quando o PSDB esteva no governo as taxas de juros e de inflação eram mais altas que as atuais, e acusou os tucanos de quebrarem o país três vezes. “Tiveram capacidade de colocar o Brasil de joelhos diante do FMI (Fundo Monetário Internacional)”.

Em resposta, Aécio exaltou as conquistas do Brasil quando o PSDB estava no governo federal. “Pegamos inflação em 916% ao ano. Levamos a 7%. Fomos o partido que permitiu que o Brasil tivesse novamente futuro”.  Candidatos propõem inovações em várias políticas públicas   Embora as polêmicas trocas de acusações tenham sido mais frequentes, o debate da TV Globo teve também promessas de políticas públicas por parte dos candidatos. Aécio Neves (PSDB) disse ter o compromisso de rever o fator previdenciário e de simplificar o cipoal tributário do país. Dilma Rousseff (PT) afirmou que a aprovação dos 75% dos royalties do petróleo do pré-sal para a educação viabilizará novos investimentos.    “Temos propostas exequíveis para reduzir o custo Brasil. Na primeira semana, se eleitos, apresentaremos proposta de simplificação, para redução do volume excessivo de impostos”, afirmou Aécio, após fazer críticas à logística do país e creditar a infraestrutura precária à “demonização das privatizações” pelo governo do PT.   Na educação, Dilma exaltou o Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec). “É um programa gratuito que contempla 8 milhões de jovens. E é importante valorizar o professor, o que podemos fazer com a lei do pré-sal”, afirmou.   Marina Silva (PSB) defendeu a ampliação dos programas sociais e assegurou que levará o Bolsa Família aos 4 milhões de pessoas já cadastradas e ainda não atendidas.    Eduardo Jorge (PV) também defendeu a simplificação do sistema tributário, e propôs uma modalidade de imposto único. “Minha proposta é a de criação do imposto único, completado com esquemas de justiças tributárias. Imposto único, segundo estudos já realizados, é a medida mais racionalizadora porque reduz preço do pão, do macarrão”, observou.   No tema segurança pública, Pastor Everaldo (PSC) defendeu a integração das polícias com eficiência do gasto público. “Hoje, são 39 ministérios e nenhum deles cuida especificamente da segurança pública. Queremos sincronizar toda a polícia no Brasil, inclusive as Forças Armadas. O efetivo da Polícia Federal é muito aquém da necessidade”.   Também sobre segurança, Luciana Genro (PSOL) foi incisiva na defesa da desmilitarização da polícia. “Hoje, vivemos a guerra aos pobres travestida de guerra às drogas. As UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora) não funcionam porque, ao invés de prestar serviços públicos, elas são violentas, executam as pessoas. Queremos uma reforma profunda na polícia para defender os direitos humanos. Defendemos a desmilitarização da polícia”.   Já Levy Fidelix (PRTB) acenou com a concessão dos presídios ao setor privado. “Vamos transformar penitenciárias em indústrias”. (B.P.)   Discurso homofóbico gera ataques a Fidelix   RIO DE JANEIRO – Os candidatos à Presidência Eduardo Jorge (PV) e Luciana Genro (PSOL) entraram em rota de colisão com Levy Fidelix (PRTB) na primeira discussão ríspida no debate de ontem na TV Globo. O motivo foi a fala de Fidelix em relação aos gays, durante o debate na Record, na segunda (29). Na ocasião, o candidato defendeu o “tratamento psicológico” dos homossexuais, afirmou que “o aparelho excretor não reproduz” , e pregou o “enfrentamento aos gays”.   Eduardo Jorge, que tinha a prerrogativa de fazer a pergunta, propôs que o adversário se desculpasse pela fala. Fidelix foi à carga: “Você não tem moral nenhuma”, disse. “Propõe que os jovens consumam maconha, faz apologia ao crime.”    Em seguida, foi a vez de Fidelix perguntar, e a única adversária disponível para responder era Luciana, que não havia sido questionada ainda. Ele, então, insinuou que a candidata do PSOL havia tentado combinar perguntas no debate anterior e não havia cumprido o prometido.   Luciana ignorou a pergunta e voltou ao assunto da homofobia: “O teu discurso de ódio é o mesmo discurso que os nazistas fizeram contra os judeus”, disse. “O senhor envergonhou o Brasil com a sua atitude na segunda-feira à noite.” Ela disse que Fidelix deveria ter sido preso, mas não foi porque homofobia não é considerado crime no país. Defendeu, então, que haja a criminalização. “Para que pessoas que fazem um discurso como o seu saiam algemadas”, disse a Fidelix.    A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e Luciana Genro protocolaram na segunda-feira (29) representações no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) contra Fidelix, e pediram que ele seja punido por “incitar o ódio”. A peça da OAB chega a solicitar a cassação da candidatura de Fidelix. Agência Folhapress   Último debate foi o mais quente e tenso

Orion Teixeira*

Por ter sido o último debate e última oportunidade de tentar o mudar o quadro, foi também o confronto mais quente e tenso entre os candidatos a presidente, que usaram de todas as armas possíveis contra os concorrentes mais diretos. Foram duas longas horas (mais 20 minutos) nas quais os candidatos Dilma Rousseff (PT), Marina Silva (PSB) e Aécio Neves (PSDB) fustigaram um ao outro. Teve de tudo, troca de acusações, bate-boca, dedo em riste, ameaças de processo, comprometendo, ao final, o embate das ideias e propostas.

Líder das pesquisas, e com vaga garantida no 2º turno, a petista Dilma Rousseff não ousou para tentar crescer na repercussão do debate. Ao contrário, procurou não errar e fazer a defesa de seu governo, criticado e atacado por todos os seis concorrentes, de Luciana Genro (PSOL) a Pastor Everaldo (PSC), um dos mais contundentes e contra o qual Dilma pediu, sem sucesso, direito de resposta.

O debate trouxe uma inovação que tornou mais tenso e mais direto o confronto ao colocar os candidatos, o que perguntava e o que respondia, frente a frente, a dois metros um do outro durante quatro minutos, incluindo réplica e tréplica.

Por conta dos últimos resultados das pesquisas, que apontam empate técnico entre eles, Marina e Aécio travaram luta particular, entre si, pelo 2º lugar. Além disso, os dois atacaram o governo Dilma para forçar e manter a polarização. Na parte baixa da tabela, houve também embates. O mais forte foi travado entre Eduardo Jorge (PV) e Luciana Genro contra o candidato Levy Fidélis (PRTB) e sua postura homofóbica.

(*) Colunista político

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