Construção civil em Minas fecha 95 mil vagas em dois anos

Janaina Oliveira
joliveira@hojeemdia.com.br
20/02/2017 às 20:37.
Atualizado em 16/11/2021 às 00:38

Considerada um dos principais termômetros da economia, já que representa mais de 10% do PIB nacional e tem a maior cadeia produtiva, a indústria da construção civil é um retrato do Brasil da recessão.

Em um ambiente de obras postergadas, reformas adiadas e projetos engavetados, 95 mil vagas foram eliminadas em apenas dois anos em Minas Gerais. No ano passado, foram mais de 35 mil trabalhadores do setor demitidos. O mar de desempregados é ainda mais populoso se considerarmos que em 2015, no Estado, cerca de 60 mil trabalhadores já haviam sido dispensados.

Os dados do Sindicato da Indústria da Construção Civil de Minas Gerais (Sinduscon-MG), elaborados a partir do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), mostram ainda que na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH) foram quase 18 mil demissões no ano passado, sendo 13.700 só na capital.

Para o presidente interino do Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil de Belo Horizonte, Vilson Valdez, as rescisões de contratos de trabalho viraram rotina na sede da entidade desde que a crise se instalou no país.

"Apenas no ano passado, foram entre 900 e 1.000 homologações no sindicato por mês. E o ritmo continua acelerado neste ano. Mas como só passam por aqui pessoas com mais de um ano de empresa, podemos afirmar que o número real de demissões é muito maior”, diz.

Obras paradas

Segundo ele, muitas empresas simplesmente deixaram de construir. Outras permanecem com o canteiro de obras ativado, mas colocaram o pé no freio e diminuíram a velocidade da construção, o que exige um número menor de engenheiros, pedreiros, azulejistas, encanadores, pintores, entre outros profissionais do ramo.

O eletricista Carlos Omar Gonçalves é uma das vítimas do desmoronamento da economia e do setor da construção. Após três anos e cinco meses “fichado” em uma construtora, ele ouviu do chefe que seria dispensado.

“De uns tempos pra cá, por causa da crise, o serviço foi minguando. De 25 funcionários, sobraram só cinco. O salário atrasava todo mês e era uma luta para receber”, diz.

Agora ele pretende distribuir currículos e rezar para que situação econômica do país reaja. “Sou conhecido na praça. Espero que um amigo me indique e que eu possa encontrar meu lugar ao sol novamente”, afirma Gonçalves, que recebia pouco mais de R$ 1,1 mil.

Apesar do relativo otimismo do eletricista, as perspectivas não são nada animadoras para 2017, pelo menos a curto prazo.
“Quando o país vai mal, o setor sente e uma das consequências é o desemprego. Mas quando a situação melhora, o setor reage rápido e desengaveta projetos. Por enquanto, não temos notícias de novos empreendimentos. Estamos na expectativa para uma retomada no segundo semestre”, diz o vice-presidente de Política, Relações Trabalhistas e Recursos Humanos do Sinduscon-MG, Walter Bernardes de Castro.

Para o coordenador do curso de Economia do Ibmec, Márcio Salvato, a redução dos empregos na construção civil tem grande impacto na economia. “É uma massa enorme de trabalhadores que deixa de ter renda e consumir”, diz.

1,08 milhão de trabalhadores da construção perderam o emprego no país desde outubro de 2014, 1º mês de variação negativa do indicador

 Só ‘Minha Casa, Minha Vida’ não é capaz de salvar empregos

Em todo o país, pesquisa do Sindicato da Indústria da Construção Civil de São Paulo (Sinduscon-SP) em parceria com a Fundação Getúlio Vargas (FGV) aponta que 414 mil postos de trabalho no setor foram cortados em 2016.

“A tendência é de mais cortes de emprego para os próximos meses”, diz o presidente do Sinduscon-SP, José Romeu Ferraz Neto.
Somente em dezembro, o nível de emprego na construção caiu 3,63% na comparação com novembro. No último mês do ano, desconsiderando os efeitos sazonais, foram fechadas quase 6 mil vagas.

Segundo o levantamento, essa foi a 27ª queda consecutiva, deixando o estoque de trabalhadores no setor em 2,48 milhões.
Em outubro de 2014, primeiro mês de variação negativa, o estoque era de 3,57 milhões. Ou seja, em 27 meses, mais de 1,08 milhão de trabalhadores da construção perderam o emprego, segundo o estudo.

“Desde o início de 2016, alertávamos que chegaríamos a mais de 1 milhão de demitidos desde o início da crise, caso o governo federal não adotasse medidas emergenciais para estimular a construção civil”, afirma Ferraz Neto. Segundo ele, à exceção do Minha Casa, Minha Vida, o setor não vê no curto prazo outras iniciativas que levem a contratações de mão de obra.

As novas contratações para a faixa 1 do programa habitacional terão início em março, conforme o Ministério das Cidades divulgou no último dia 17. O governo prevê a liberação de 170 mil novas unidades para esta faixa, que atende famílias com renda de até R$ 1.800 por mês.

Para o presidente do Sinduscon-SP, a preocupação maior é com relação à queda dos indicadores da atividade.
Em 2016, os segmentos que mais apresentaram queda foram imobiliário (17,14%), infraestrutura (13,96%) e preparação de terreno (13,68%).

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