Consumidor de BH troca ingredientes para baratear o custo do jantar natalino

Lucas Borges
lborges@hojeemdia.com.br
22/12/2017 às 22:15.
Atualizado em 03/11/2021 às 00:25
 (Lucas Prates)

(Lucas Prates)

O tempero da crise econômica e da queda da renda deu à tradicional ceia de Natal um sabor diferente neste fim de ano. Com menos dinheiro disponível, o consumidor belo-horizontino busca alternativas e novos ingredientes para baratear o custo do jantar natalino.

Uma das principais estratégias usadas pelos clientes de supermercados e padarias da capital é a substituição de itens típicos da ceia por outros que tenham um valor mais em conta.

No caso dos assados, o peru, ave bastante consumida nas comemorações de fim de ano, perdeu o lugar de destaque na mesa para o frango e para as carnes suínas.

A explicação para a troca está no bolso. Segundo levantamento feito pelo site Mercado Mineiro, a diferença entre os preços das carnes é grande. O quilo do peru, por exemplo, é vendido em estabelecimentos de Belo Horizonte por R$15,19, em média. Em contrapartida, o quilo do frango gira em torno de R$5,49. Já o pernil é comercializado por R$11,89, o quilo.

Outros produtos que vêm ganhando mais espaço no carrinho de supermercado são as frutas cristalizadas, em detrimento das oleaginosas. Enquanto o quilo dessas frutas é comercializado por cerca de R$9,41, o preço das nozes e castanhas pode chegar a até R$90.

O superintendente da Associação Mineira de Supermercados (Amis), Claret Nametala, destaca a mudança no perfil do comprador.
“O consumidor está optando pelos produtos que têm os preços melhores, sem ter mais aquela fidelidade com alguma marca. Esse comportamento já vem há algum tempo, desde o início da crise, com o cliente buscando produtos alternativos como o frango e os suínos, cujas vendas têm acontecido de forma mais acentuada, inclusive neste ano”, afirma.

Apesar da tendência de substituição dos alimentos para redução nos gastos na ceia de Natal, Nametala diz que a expectativa dos comerciantes do setor é a de que haja crescimento de 2% nas vendas no Natal, em relação a 2016.

Outra maneira encontrada pelos consumidores para baratear os custos é fazer uma ceia conjunta, em que cada participante fica responsável por um item do jantar.

Para o aposentado José Mantteran, que vai passar o Natal na casa da filha, a estratégia faz com que a ceia continue farta, sem pesar no orçamento de ninguém. “O preço está meio salgado. Para não ficar pesado, combinamos de cada um levar um ingrediente para a ceia. Para mim, ficaram as castanhas e nozes”, conta.

Preços

Apesar da insatisfação do consumidor com os preços de alguns itens da ceia de Natal expostos nas gôndolas, o superintendente da Amis afirma que os valores praticados estão compatíveis com o cenário econômico do país. “Os preços estão bem equilibrados em relação ao ano passado. Não existem condições para aumento de preços. Estamos fazendo tudo de um jeito muito equilibrado para adaptar a esse cenário de crise”, diz Claret Nametala.

Levantamento do site Mercado Mineiro revela que quem deixou para comprar os ingredientes na última hora se deu bem. A pesquisa mostra que entre 2 e 20 de dezembro, vários produtos ficaram mais baratos. Entre os que apresentaram maior variação estão o bacalhau dos tipos porto e saithe e o chester, que tiveram queda de 20,45%, 19,32% e 19,05% respectivamente.

 Supermercados se adequam à crise e frutas secas e pistache ‘desaparecem’ das gôndolas

Uma situação que retrata bem o atual cenário vivido pelo consumidor é o baixo movimento nos mercados e supermercados de Belo Horizonte a poucos dias do Natal. Basta circular pelo Mercado Central, tradicional ponto de venda de itens para a ceia, para perceber que a procura “emagreceu” em relação a outros anos.

A imagem dos corredores lotados de clientes à caça dos mais variados alimentos para o Natal deu lugar a um cenário de lojas mais vazias e de consumidores mais comedidos nos gastos.Lucas Prates

 Quilo da castanha portuguesa é vendida por R$ 70 em loja do Mercado Central

Nem mesmo os gritos dos comerciantes que ecoam entre os mais variados produtos são capazes de atrair a clientela.
Vendedora de uma loja no Mercado Central há três anos, Patrícia Ramos afirma que já presenciou fluxo bem maior de clientes no local nesta mesma época do ano.

“Ano passado, a essa hora, a gente não conseguia nem andar no Mercado Central. O movimento em 2017 está muito menor. O custo está mais alto e as pessoas estão com orçamento apertado”, afirma.

Enquanto escolhia cuidadosamente o bacalhau que será preparado para a ceia, a cuidadora de idosos Maria José Barbosa destacou as dificuldades em adquirir as guloseimas para o Natal.

“Esse ano está mais difícil e a ceia vai ser bem mais magra. O preço está bem altinho. Tive que trabalhar bastante e fazer vários plantões para conseguir pagar. Mas nem que seja um pedacinho de bacalhau a gente tem que pôr na mesa”, diz.

Mudança de perfil

Em supermercados da capital percorridos pela reportagem também é notória a mudança de perfil, tanto por parte do consumidor quanto do próprio lojista. O cenário de gastos mais enxutos fez com que donos de estabelecimentos não fizessem um alto investimento em itens específicos para a ceia, como frutas secas, nozes, pistache, damasco e castanhas.

Com exceção das aves e do panetone, carros-chefes das vendas, não se percebe uma grande oferta desses produtos típicos de fim de ano. Em alguns supermercados, sequer há uma estrutura com prateleiras ou bancas montadas para ofertar as iguarias natalinas que custam mais caro.

Segundo Claret Nametala, essa nova conjuntura econômica obriga os lojistas a se adequarem aos diferentes perfis dos consumidores, levando-se em conta principalmente o poder aquisitivo do cliente.

“A gente vem trabalhando essa situação com naturalidade. O nicho do produto tem que ser adequado à clientela de cada bairro. A procura é diferente e as lojas se adaptam”, diz.

  

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