Covid muda hábitos em BH: consumidores substituem produtos e cortam serviços para economizar

Paulo Henrique Lobato
phlobato@hojeemdia.com.br
01/04/2020 às 20:11.
Atualizado em 27/10/2021 às 03:09
 (FOTOS PAULO HENRIQUE LOBATO)

(FOTOS PAULO HENRIQUE LOBATO)

Enquanto Regina Teixeira, de 35 anos, reduziu o plano mensal da operadora de telefone, Vinícius Oliveira, de 24, cortou o cartão de crédito. Já Hugo Souza, de 33, substituiu alimentos por marcas menos famosas e Glaysson Leos, de 48, trocou o carro pela moto no percurso casa-trabalho. Os quatro moram em Belo Horizonte e, assim como boa parte da população, estão revendo os gastos e economizando diante da incerteza causada pela pandemia do coronavírus.

O reflexo da mudança de hábitos dos consumidores da capital foi traduzido numa pesquisa divulgada ontem pela Fecomércio-MG: 54,1% dos empreendedores notaram queda nas vendas de mercadorias ou prestação de serviços acima de 50%. Quase 80% das empresas entrevistadas, num total de 1.138 empreendimentos, sofrem algum impacto negativo devido à pandemia.

“Sabemos da importância da adoção de medidas para mitigar o avanço do coronavírus, seguidas conforme recomendações dos órgãos de saúde. Mas como a atividade produtiva funciona em cadeia, quando um setor desaquece, vários outros sentem os impactos dessa ociosidade”, avalia Guilherme Almeida, economista da entidade.Paulo Henrique LobatoQueda  na renda levou Vinícius Oliveira a cancelar o cartão de crédito

A economia em declínio levou Regina, que ganha a vida como comerciante, a trocar o plano da operadora por um mais barato. Ela mudou outros hábitos: “Roupas, por exemplo, não estão na minha lista de compras tão cedo”. Ela é esposa de Leos, que ganha a vida numa mercearia especializada em produtos da roça. Os dois, que antes iam trabalhar de carro, substituíram o veículo por uma moto.

“Porque fica mais econômico. O custo com combustível reduz pela metade”, explica o marido. Ele também reduziu a quantidade de cerveja que, costumeiramente, degustava em casa nos fins de semana. “A renda caiu para todo mundo”.

A renda em queda foi o que levou Vinícius Oliveira a cancelar o cartão de crédito. “Eu gastava em torno de R$ 1 mil por mês. Não posso fazer mais isso. Até as idas à casa de minha namorada estão em quantidade menor para reduzir o custo com combustível”, disse o rapaz.

Hugo de Souza, que substituiu as marcas de alimentos em casa por outras com preços menores, sentiu um baque grande no bolso. Ele é dono de um salão de beleza, mas a empresa, por decreto municipal, não pode abrir as portas. “Desta forma, mudei hábitos. Diminuí a quantidade de frutas que comprava e troquei alimentos. Meus filhos gostam daquele achocolatado que vem em caixinha. Não compro mais: agora eu compro o chocolate em pó e o leite e misturo no copo para eles. Fica bem mais em conta”.

Mas os preços correm o risco de aumentar nas próximas semanas. “Quarenta e cinco por cento dos entrevistados afirmaram que os valores praticados por seus fornecedores aumentaram ou irão aumentar em decorrência da quarentena”, informou o economista da Fecomércio-MG.

“Aí é que vai lascar tudo”, concluiu Vinícius, o rapaz que cortou o cartão de crédito. Ele é sócio de um churrasquinho no Padre Eustáquio e, como medida para mitigar a falta de clientes em razão da quarentena, inscreveu a empresa num aplicativo de entrega. “Lá se vão quatro dias e não recebi nenhum pedido. Estou aqui no churrasquinho mais para constar, porque as vendas estão bem fracas”.

A pesquisa da Fecomércio constatou que 60,5% dos empresários em Minas Gerais afirmaram ter paralisado as atividades, “sendo que a maioria as manterá suspensas por tempo indeterminado”. “Temos de ter esperança de dias melhores”, desejou Regina.

  

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